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Jodorowsky virou diretor de cabeceira de artistas cults

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São Paulo – Há três anos, Alejandro Jodorowsky terminou o autobiográfico “A Dança da Realidade” com a reconstituição de um momento crucial de sua vida, quando o pai autoritário desautoriza o filho que vem lhe falar de sua vocação de poeta. O novo filme do autor passou em Cannes, em maio. Prossegue o ciclo autobiográfico – e já é uma das atrações anunciadas da 40.ª Mostra Internacional de Cinema, em outubro. “Poesia Sem Fim” é sobre um diretor de cinema. Ultimamente, Jodorowsky deu de dizer que Federico Fellini é seu autor preferido. O filme é felliniano.

Tem anões, palhaços, mulheres de seios fartos. Tem aquela imaginação delirante que fez de Jodorowsky um caso raro no cinema latino-americano e mundial. Ator, autor, dramaturgo – criou o movimento Pânico com Fernando Arrabal -, cineasta, quadrinista, guru psicomágico. Esse homem não cabe numa definição. Desafia cânones para ser fiel a si mesmo, e por conta disso virou o diretor de cabeceira de cineastas cults como o dinamarquês Nicolas Winding Refn. Em 2013, fez a apresentação de “A Dança da Realidade”, em Cannes. O mundo todo – e a nova geração que cultua Drive – viu-o curvar-se perante Jodorowsky. Mestre! Em 1970, Jodorowsky já tinha uma adaptação de “Arrabal, Fando y Lis”, no currículo, mas foi naquele ano que dirigiu o mítico “El Topo”.

Um western pós-Sergio Leone. Na abertura, três pistoleiros interceptam o personagem-título no deserto. A cena é antológica. Ele se veste de preto, é taciturno. Você já viu outros mocinhos em perigos, mas nenhum como “El Topo”, que carrega uma criança nua na sela de seu cavalo. A imagem é tão perturbadora que arrebatou um certo John Lennon e sua companheira. Lennon e Yoko Ono tanto fizeram que o empresário dos Beatles comprou os direitos de distribuição para os EUA. Jodorowsky queixa-se agora que o cara retirou o filme de circulação e espera que ele morra para relançar “El Topo”.

Depois de “El Topo”, vieram “A Montanha Sagrada, Santa Sangre”. É a obra-prima cinematográfica do autor. Uma mulher corta os próprios braços e se converte numa boneca manipulada pelo filho. É o mais louco, mórbido, belo dos filmes. E Jodorowsky nunca concluiu seu sonhado projeto de adaptação de “Duna” – que outro autor cult, David Lynch, transformou num filme incrivelmente ruim. Só podemos sonhar com o que teria sido o Duna de Jodorowsky. E ler, reler seu romance ‘macondiano’, “Quando Teresa Brigou com Deus”. Há algo de “Cem Anos de Solidão”, de Gabriel García Márquez nessa epopeia bíblica sobre uma família, a do diretor, num Chile ancestral. De lá, Jodorowsky caiu no mundo. Foi viver em Paris, depois, no México, hoje reside nos EUA. Em toda parte, foi sempre o ‘deslocado’. No Chile, era francês, na América, desdenham dele como mexicano. É um homem do mundo, grande artista. “A Dança da Realidade” era tão desequilibrado que se podia temer por uma diluição do seu cinema. “Poesia Sem Fim” é uma reafirmação. Nem Fellini faria melhor. Jodorowsky debruça-se sobre sua vida nos bairros boêmios de Santiago nos anos 1940 e 50, revive as noites de sexo e bruxaria que o transformaram no criador que é. A Mostra, com certeza, terá grandes filmes. Esse é um deles. As informações são do jornal O Estado de S. Paulo.