Hip hop

Jovem com baixa visão conquista palcos brasileiros com rimas sobre ideologia e inclusão

Com talento, coragem e rimas afiadas, ValleMC mostra que inclusão e criatividade não têm limites

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ValleMC, de apenas 14 anos, vem se destacando no cenário do hip hop nacional. A curitibana, que tem baixa visão, conquistou títulos inéditos, incluindo a vitória na Batalha da Aldeia 2025 (BDA 421), tornando-se a mulher mais jovem a vencer a competição.

Com rimas afiadas e energia contagiante, ela mostra que talento e determinação não têm limites. “Tenho baixa visão e a mente a milhão!”, afirma a jovem rapper.

Em meio às batidas de trap e ao público animado, ValleMC se apresenta nas Batalhas de Rimas, onde o vencedor não é definido pela força física, mas pela rapidez e inteligência nas respostas.

Nessa modalidade, também conhecida como freestyle, o duelista enfrenta oponente a oponente, transformando palavras em estratégia. No palco, a artista não é apenas Valentina Cardoso Kauf, mas ValleMC, uma gigante na cena nacional.

Jovem com baixa visão conquista palcos brasileiros com rimas sobre ideologia e inclusão – Foto: Reprodução/Arquivo Pessoal/Afonso Photo

Valle começou nas ruas de Curitiba, no Paraná, e rapidamente conquistou espaço nos principais ringues do país. Em entrevista, ela contou que sempre gostou de música e se encontrou no hip hop, gênero surgido nos anos 1970 em Nova Iorque.

Eu gostava muito de fazer paródias musicais e rimar em cima de beats. Só que não sabia que existiam batalhas de rimas. Sabia do hip hop, do rap, mas não sobre batalhas.

ValleMC

O interesse por batalhas começou em 2023, quando um primo mais novo mostrou um vídeo de uma competição de MC Xamuel, vencedor da sétima edição da Batalha da Aldeia. “Quando vi, me interessei imediatamente. Comecei a acompanhar todos os dias”, disse Valle. Dois anos depois, ela ocupou o mesmo palco representando Paraná, sendo considerada a “Melhor Estreante” da edição de julho.

A jovem enfrenta a vida com hipoplasia do nervo óptico (HNO), condição congênita que afeta a transmissão de informações visuais do olho para o cérebro, causando baixa visão. No BDA, ela guiou dois oponentes vendados, WM e Xamuel, em um ato simbólico que destacou sua habilidade e percepção. “Eles disseram que eu sou o futuro do gênero”, lembrou ValleMC.

Em um ato simbólico no BDA, a rapper guiou WM e Xamuel, que estavam de olhos vendados – Foto: Reprodução/Instagram

O caminho até o reconhecimento não foi fácil. No início, ela treinava sozinha no quarto e demorou a ganhar confiança para enfrentar adversários nas batalhas. “A primeira batalha que perdi não chorei, mas em outras perdas importantes eu chorei. O hip hop me ajudou a amadurecer e aprender a lidar com derrotas”, contou.

Mesmo diante do nervosismo, ValleMC descreve a experiência de subir ao palco como emocionante:

“Mesmo com cinco pessoas me olhando, sinto frio na barriga. Mas, na hora de rimar, o que sinto é a vontade de vencer o outro MC. Saio com a mão gelada de tanto suar (risos)”.

A artista também aborda questões sociais, políticas e inclusão em suas rimas. Nas redes sociais, onde soma quase 330 mil seguidores, ela compartilha experiências sobre sua condição e inspira pessoas com deficiência.

“Recebo muitas mensagens de fãs que se identificam comigo e dizem que represento e trago representatividade para o hip hop”, disse. Ela também lembrou de um fã autista que, através do hip hop, conseguiu se socializar melhor.

Questionada sobre preconceito, ValleMC negou que sua deficiência tenha sido alvo de ataques nas batalhas. “Ninguém me olhou como anormal ou diferente. Isso me motivou ainda mais”, afirmou.

Para ela, é importante mostrar que pessoas com deficiência sempre são capazes de transmitir suas ideias e inspirar outros. “Essa é a mensagem que quero passar. Acho que estou conseguindo transmitir muito bem”, finalizou.

*Com informações do Terra.

Carlos Raul Rodrigues, estagiário do Folha Vitória
Raul Rodrigues *

Estagiário

Jornalista em formação pela Universidade Federal do Espírito Santo (Ufes) e atua como estagiário no Jornal Folha Vitória

Jornalista em formação pela Universidade Federal do Espírito Santo (Ufes) e atua como estagiário no Jornal Folha Vitória