Podcast Livrosofia

Entre a literatura e a vida: jornalista fala sobre Saramago e como escritor continua atual 20 anos depois

O jornalista Alexandre Carvalho reflete sobre “As Intermitências da Morte”, de José Saramago, no podcast Livrosofia

Leitura: 5 Minutos
Alexandre Carvalho conversa com Marchezini no podcast Livrosofia. Imagem: Livrosofia/Reprodução
Alexandre Carvalho conversa com Marchezini no podcast Livrosofia. Imagem: Livrosofia/Reprodução

O que aconteceria se a morte tirasse férias? Essa é a provocação do português José Saramago em “As Intermitências da Morte”. O livro, que foi o ponto de partida para as reflexões do jornalista e superintendente de Conteúdo da Rede Vitória, Alexandre Carvalho, no podcast Livrosofia, conta sobre o dia em que a morte deixou de trabalhar, por estar cansada de ser odiada pela humanidade.

Saramago planta a dúvida logo no começo, iniciando o romance com a frase “no dia seguinte ninguém morreu”. Para Alexandre, que foi entrevistado pela escritora e procuradora Flávia Marchezini, a escolha da estrutura, pouco comum para sua época, reflete a atualidade do autor nas construções de narrativa, mesmo que a primeira edição do seu livro tenha sido lançada há 20 anos.

Na década de 90, tínhamos as ações acontecendo a partir dos 30 minutos e, hoje, isso é impensável. Eu acho que isso mostra como o Saramago é atual. A primeira frase você tem claramente uma ação que te provoca. ‘Como assim ninguém vai morrer amanhã?’ É nesse sentido que eu acho que ele é provocador. Ele sai desse status quo, dessa pasteurização que a gente vê hoje e propõe outra leitura.”

Alexandre Carvalho, jornalista e superintendente de Conteúdo da Rede Vitória

Assista ao episódio completo:

No livro, Saramago discorre sobre os impactos da greve estabelecida pela morte. Inicialmente, a população daquele país ficou eufórica ao ser escolhida para viver a eternidade. Depois, vieram os problemas. Há espaço suficiente para todos? Qual o destino dos pacientes críticos nos hospitais? O que fazer com os idosos?

Ao seguir este caminho, Alexandre reflete que o autor trabalha questões profundas do ser humano, abordando discussões éticas, limites e vontade. “Saramago consegue tocar nas feridas quando você está disposto a olhar as coisas e se colocar, de alguma maneira, naquela situação”, pontua.

A carta violeta e a chegada da morte

Em determinado momento tudo volta ao normal, mas com uma diferença: quem fosse morrer receberia uma carta violeta com data e hora da sua partida. Os dias seguintes deveriam ser utilizados para resolver os últimos assuntos inacabados.

O jornalista reflete que, apesar de não ter clareza sobre como reagiria se recebesse esse comunicado, acredita que não deve haver nada mais gratificante do que chegar no momento de encontro com a morte em paz.

Entre reflexões sobre a obra e vivências pessoais, Alexandre completa: “Não acho que se trata dos dez dias (entre o comunicado e a morte), eu acho que se trata de você construir uma vida que você vai chegar na hora e vai estar em paz.”

O poder da comunicação para a literatura

Ainda segundo Alexandre, autores como Saramago possuem o dom de contar boas histórias e os seres humanos são feitos de histórias. Essa relação torna a literatura essencial, sendo necessário um olhar especial para seu papel na sociedade.

Apesar disso, a 6ª edição da pesquisa Retratos da Leitura no Brasil revela que 53% dos brasileiros não leram nem parte de um livro. Uma perspectiva preocupante.

Alexandre carvalho em podcast Livrosofia
Alexandre Carvalho falou sobre Saramago em podcast. Foto: Livrosofia/Reprodução

De acordo com o jornalista, assim como as famílias e as escolas, a mídia também tem um papel essencial para mudar este cenário. “Eu acredito que a mídia tenha um papel educador, muitas vezes. A informação precisa ter uma vertente educacional. […] A literatura é como comida, você vai amadurecendo o seu paladar. Então, acho que se houver pequenas iniciativas e formos provocando, a gente chega lá”, disse.

Leitura como ponte: podcast traz reflexões, pluralidade e aproximação entre pessoas

Foi um pensamento similar a este que fez Flávia dar início ao podcast Livrosofia. Apaixonada por literatura, resolveu dar início ao projeto após passar por complicações de saúde. “Depois que tive covid grave fiquei com vontade de falar e de levar a leitura para a vida das pessoas. Escolhi o formato do podcast por ser este bate-papo aberto.”

Sua ideia era criar um espaço para reflexão profunda sobre livros, filosofia, psicologia e autoconhecimento. Desde dezembro de 2024, o programa recebe escritores, professores e leitores ávidos, das mais diversas obras.

O convidado é quem escolhe a obra que será debatida e a conversa gira em torno do impacto que aquele libro teve em sua vida e em suas perspectivas.

O Livrosofia não pretende ser apenas um podcast, mas também um instrumento de disseminação. Queremos levar a leitura para quem ainda não tem o hábito, pois, além de ajudar a desenvolver um senso crítico, também é um instrumento de aproximação das pessoas.

Flávia ainda ressalta a importância de todas as leituras e, que o importante é sempre começar, sem exigências ou julgamentos. Assim como ela, Alexandre deixa um recado ao final de sua participação, uma provocação assim como a feita por Saramago:

Leia de tudo e busque a pluralidade das coisas. Não se feche num campo só. Tem coisas interessantes em todas as obras e isso te dá argumentos. Você pode ter os seus autores prediletos, como eu tenho, como você tem, mas se proponha a ler.”

Flávia Marchezini
Aline Gomes

Repórter

Jornalista pela Universidade Federal de Viçosa e estudante de Publicidade e Propaganda na Unopar, atuou como head de copywriting, social media, assessora de comunicação e analista de marketing. Atua no Folha Vitória como Editora de Saúde desde maio de 2025.

Jornalista pela Universidade Federal de Viçosa e estudante de Publicidade e Propaganda na Unopar, atuou como head de copywriting, social media, assessora de comunicação e analista de marketing. Atua no Folha Vitória como Editora de Saúde desde maio de 2025.