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Longa Lucy expande os limites da mente

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São Paulo – Para o espectador que viu o trailer de Lucy, o longa do francês Luc Besson parecerá uma nova versão da Femme Nikita, que o próprio diretor fez em 1990, com Anne Parrillaud. Nikita tornou-se tão popular que ganhou um remake nos EUA e até virou série de TV. Garota acolhida em programa secreto vira máquina de matar. Em Lucy, Scarlett Johansson parece acuada num laboratório, pega em armas e sai disparando, mas não é a Parrillaud. Há muita ação física em Lucy, mas o filme é principalmente uma fantasia científica na vertente kubrickiana. Luc Besson encarou o desafio de fazer o seu 2001, e venceu.

Stanley Kubrick, 2001? Lucy começa na alvorada da humanidade, com a primeira mulher. Um corte quase tão gigantesco quanto o de Kubrick – o osso que vira nave – projeta o espectador na desordenação e no caos da vida atual. Scarlett faz a Lucy moderna, que o cara com quem fica projeta numa aventura infernal. Ela deve entregar uma valise atada em seu pulso. Os receptores são gângsteres orientais que matam sem dó. A valise contém quatro pacotes de uma nova droga.

Toda essa parte inicial é entremeada por trechos de uma conferência que está sendo ministrada por Morgan Freeman. O homem, ele diz, usa uma porção reduzida de sua capacidade mental. Embutida na master class está a interrogação – o que ocorreria se o homem ampliasse sua mente? É o que Scarlett, sob o efeito da droga, vai fazer. Ampliando sua capacidade mental, ela domina a matéria – o mundo ao seu redor e as mentes das outras pessoas. Torna-se alvo de uma caçada humana, mas, a essa altura, já se tornou, como Nikita, uma poderosa máquina de matar e sua mente não para de evoluir. O que vai ser dela quando atingir 100%?

Kubrick, em 2001, deu forma a uma questão (filosófica? científica?) levantada por um dos mais prestigiados autores de literatura futurista, Arthur C. Clarke. Para atingir o impossível, o homem deve começar transpondo os limites do possível.

Lucy, cada vez mais poderosa e iluminada, transpõe esses limites e descobre que o

tempo é a medida das coisas. Isso lhe permite viajar até a alvorada da humanidade para se encontrar com a outra Lucy. Tocam-se os dedos, como Deus e o homem na sublime criação de Michelangelo. Adquirindo todo o conhecimento, Lucy vira Deus – ou o computador Hal-9000, justamente de 2001, a odisseia no espaço de Kubrick.

Talvez Luc Besson esteja querendo propor ao espectador sua interpretação de como Scarlett, a mulher mais sexy do mundo – e aqui, também a mais letal – virou a voz que assombra Joaquin Phoenix no computador em Ela, de Spike Jonze. Há menos de 20 anos – há exatamente 16 -, Scarlett ainda era uma menina em O Encantador de Cavalos, de Robert Redford. Adulta, sua estrela não parou de brilhar e ela se tornou preferida de expoentes do cinema de autor, de Sofia Coppola a Woody Allen e Christopher Nolan.

Mas Scarlett também foi a Viúva Negra/Natália Romanova/Natasha Romanoff de Homem de Ferro 1 e 2, Os Vingadores e Capitão América 2. Foi a alien predadora sexual de Sob a Pele, de Jonathan Glazer, que acaba de sair em DVD, e foram esses filmes, mais que os outros, que fizeram dela a ‘sexiest woman alive’. Besson, um diretor considerado de segunda, mas mais inteligente que seus críticos, deve ter pensado em tudo isso ao colocá-la no centro de sua odisseia – na Terra. Lucy, o filme, intriga e fascina. Desconcerta. Deslumbra.