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Montagem faz narrativa de Gil fora dos padrões

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São Paulo – Gilberto Gil aprovou o projeto, mas com uma condição: que não fosse biográfico. Isso estimulou a imaginação de Gustavo Gasparani, experiente ator, diretor e dramaturgo que criou as 11 cenas que compõem Gilberto Gil, Aquele Abraço – O Musical, unindo letras de canções com fatos históricos a fim de traçar o perfil de um dos mais importantes músicos brasileiros. O resultado revelou-se irregular na forma, mas conquistou uma unidade encantadora graças a seu talentoso elenco.

Assim, antes de tudo, é preciso nominar os atores Alan Rocha, Cristiano Gualda, Daniel Carneiro, Gabriel Manita, Jonas Hammar, Luiz Nicolau, Pedro Lima e Rodrigo Lima, que apresentam 58 canções de forma completa ou parcial, além de tocarem 39 diferentes tipos de instrumentos em cena. Mas não se deve se impressionar pelos números – mais que o ecletismo, o grupo de artistas surpreende pela rápida transição em que transporta o público de uma música de protesto para outra de amor, do infantil para o ousado.

Gasparani acertou ao sustentar o espetáculo sob três aspectos: Poeta, Canção e Tempo. A tríade traduz com eficiência o trabalho de Gil, tão bem fincado na riqueza rítmica, na onomatopeia, na pesquisa das tradições, na religiosidade, na tecnologia, no tropicalismo, enfim. Gasparani leu todas as letras e ouviu todos os discos de Gil, trabalho árduo mas certamente prazeroso, e que se faz notar no musical por meio da teatralidade e da forma como a obra de Gil dialoga tanto com a atualidade como a dos oitos atores, cuja experiência pessoal com as canções do compositor também influenciou o espetáculo.

Dessa forma, uma diversidade rítmica emerge de uma poesia delicada e profunda. E também transgressora, como no belíssimo quadro em que Daniel Carneiro e Jonas Hammar comprovam, por meio da letra de O Seu Amor, que o carinho entre homens possui uma virilidade sexy, culminando com um beijo que, às vezes, assusta uma pequena parte da plateia. É a questão de gêneros e da liberdade sexual, que sempre agrada Gil, especialmente como forma de protesto durante a ditadura militar.

Outro momento certeiro da direção de Gasparani está em deixar nu Gabriel Manita para cantar e tocar guitarra em Se Eu Quiser Falar com Deus. O desnudamento transforma a poesia da letra, tornando-a mais clara e provocando uma rara epifania.

Seria injusto com o elenco, no entanto, reduzir os acertos de Aquele Abraço aos seus momentos mais controversos, ainda que belos. A unidade que se vê em cena, tanto na execução dos instrumentos, como nas interpretações dos oito artistas revela-se uma raridade, pois não existem destaques positivos ou negativos. O que prevalece é uma unidade, uma sintonia tão bem orquestrada porque natural, que transforma Aquele Abraço em uma exceção entre os inúmeros musicais biográficos brasileiros mesmo não relatando de forma tradicional a vida e a obra de Gilberto Gil, seu trabalho e seus momentos marcantes estão ali, bem vivos e empolgantes.

GILBERTO GIL – AQUELE ABRAÇO

Teatro Procópio Ferreira. Rua Augusta, 2.823, tel. 30834475. 5ª e 6ª, 21h; sáb., 21h30; dom., 18h. R$ 50 / R$ 120. Até 29/5

As informações são do jornal O Estado de S. Paulo.