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Mostra contempla Lina Bo Bardi com olhos do presente

Mostra contempla Lina Bo Bardi com olhos do presente Mostra contempla Lina Bo Bardi com olhos do presente Mostra contempla Lina Bo Bardi com olhos do presente Mostra contempla Lina Bo Bardi com olhos do presente

São Paulo – Tapio Snellman, cineasta finlandês; Madelon Vriesendorp, artista holandesa; Assemble, coletivo britânico; Ioana Marinescu, fotógrafa romena – em 2010, quando começou a preparar a mostra Lina Bo Bardi: Together, a arquiteta argentina Noemi Blager quis reunir um time multidisciplinar de criadores para mergulhar na obra da ítalo-brasileira que projetou obras referenciais da arquitetura como o Masp, em São Paulo, e o Solar do Unhão, em Salvador. “Não queria fazer uma exposição de desenhos e maquetes, isso não é importante em Lina”, diz a curadora. Interessava apresentar e refletir sobre Lina Bo Bardi (1914-1992), criadora e pensadora de várias vertentes, com “olhos do presente”.

Depois de exibida, desde 2012, em nove países – Inglaterra, Áustria, Suíça, França, Suécia, Holanda, Alemanha, Itália e EUA, Lina Bo Bardi: Together encerra sua itinerância – ou melhor, fecha seu ciclo – em local especial, o Sesc Pompeia, considerado por especialistas como o projeto mais importante da arquiteta, que chegou ao Brasil em 1946 e em 1951 naturalizou-se brasileira. Atrás dos caminhos de água da área de convivência do complexo de cultura, esportes e lazer inaugurado em 1982, a mostra é o resultado de uma imersão contemporânea e sintética nos processos e no espírito de criação da homenageada.

Como conta Noemi Blager, de 55 anos, seu primeiro encontro com a obra de Lina Bo Bardi ocorreu em 2006. “Fui ao Masp e fiquei maravilhada com a generosidade de outorgar espaço público tão grande”, afirma, referindo-se ao vão livre do museu, marco da Avenida Paulista. “Já tínhamos 15 anos de arquitetura icônica, narcisista, que estava em seu auge, e de repente, vejo Lina Bo Bardi. Com ela é o contrário, ela coloca as pessoas no coração de seus projetos”, comenta a curadora, radicada em Londres. “O escritor Jorge Luis Borges dizia que a literatura existe quando há um leitor e com Lina é o mesmo.” No momento em que conheceu o Masp, sua motivação foi realizar uma mostra que apresentasse, portanto, a arquiteta na Europa – mas a exposição despertou mais interesse do que a argentina poderia imaginar.

Se, recentemente, se discute se Lina Bo Bardi tem sido objeto de fetichismo e se o interesse de norte-americanos e de europeus pela arquitetura latino-americana tem caído em uma espécie de moda, Noemi Blager indaga no Sesc Pompeia: “Que vida tem esse lugar hoje?”. “Está tão bem-feito que as intenções têm sido logradas. O fetichismo é uma redução de uma idiossincrasia”, diz, elogiando também as revisões contemporâneas dos projetos da arquiteta para o Masp engendradas pela atual direção artística do museu – como as reinterpretações de suas expografias ou a atual recriação da exposição A Mão do Povo Brasileiro, de 1969.

Sendo assim, Lina Bo Bardi: Together corre por vários caminhos. Resgata em “tecnologia de hoje” a poltrona Bowl, desenhada por Lina em 1951 e só agora produzida em edição limitada e industrial pela marca italiana Arper – e três exemplares da peça podem ser experimentados pelo público. Ou ainda, a artista Madelon Vriesendorp dialoga com a arquiteta em seu gosto pelo colecionismo e no olhar para as criações populares, admiradas por ambas “sem-hierarquias”. Já o Assemble, que ganhou o prêmio Turner em 2015, criou dispositivos expográficos inteligentes e feitos com materiais especiais para a mostra. E Tapio Snellman e Ioana Marinescu documentam, de formas muito sensíveis e inusitadas, construções como a Casa de Vidro e o próprio Sesc Pompeia.

LINA BO BARDI: TOGETHER

Sesc Pompeia. Rua Clelia, 93, telefone: 3871-7700. 3ª a sáb., 10h/21h; dom., 10h/19h. Grátis. Até 11/12.