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Mostra no Masp reúne até obras marcadas pelo cubismo analítico de Picasso

Mostra no Masp reúne até obras marcadas pelo cubismo analítico de Picasso Mostra no Masp reúne até obras marcadas pelo cubismo analítico de Picasso Mostra no Masp reúne até obras marcadas pelo cubismo analítico de Picasso Mostra no Masp reúne até obras marcadas pelo cubismo analítico de Picasso

São Paulo – O Masp possui 18 obras de Portinari em seu acervo, entre as quais pinturas como O Retirantes e Criança Morta (ambas de 1944 e integrantes da exposição Portinari Popular). São dois exemplos do impacto que o cubismo analítico de Picasso exerceu sobre o pintor brasileiro, que decompõe a forma para entender a estrutura da realidade brasileira. São as obras que, segundo o curador do museu, Adriano Pedrosa, mais despertam a atenção dos visitantes, cujo número chegou a 50 mil em julho, o maior registrado nos dois anos da nova gestão.

A atenção concedida ao tema do trabalho (ou à falta dele, num momento de crise como a atual) levou a curadoria a expor no primeiro subsolo a instalação homônima do artista mineiro Thiago Honório, também do acervo do Masp, constituída de pás, talhadeiras, picaretas, marretas e outros materiais de construção que, segundo o curador Fernando Oliva, “representam de maneira metonímica o corpo dos trabalhadores” – o artista trocou objetos usados dos operários por novos.

Como os operários que retratou, também Portinari experimentou no corpo os efeitos do acúmulo de trabalho – ele morreu intoxicado pelo chumbo das tintas, deixando algo em torno de 5 mil obras para a posteridade, de retratos de celebridades, amigos e pessoas da sociedade (feitos para sobreviver) a pinturas que emulam a arte dos índios carajás.

Essa escolha da via nacionalista como expressão tem a marca de Mário de Andrade, seu mentor, que retratou em 1935. O autor de Macunaíma defendia a necessidade de uma arte moderna, de cunho nacionalista, e encontrou em Portinari seu interlocutor. A desarticulação da figura em Os Retirantes, a despeito do parentesco picassiano, é um exemplo dessa tentativa de criar aqui uma pintura dramática genuína. Ela, porém, é sintoma de um conflito interno de Portinari, apontado pela crítica, na época, como ausência de harmonia e convicção – além de certa incoerência de estilo.

Biógrafo e amigo, Antonio Callado não concordava com essa divisão binária entre o conservador acadêmico e o inovador moderno. Para ele, o diálogo de Portinari com o passado (as composições de Piero della Francesca, as figuras sem olhos de Modigliani) e os contemporâneos (Picasso, Di Cavalcanti) sempre foi positivo.

Descontando a questão da influência, que é natural nas artes, o modo de resgatar a identidade nacional em Portinari passa por um modelo formal europeu, por um padrão que os modernistas (Portinari incluído) foram buscar na Europa (e isso fica claro na tela Favela/Shantytown, 1958), que tem muito da portuguesa Maria Helena Vieira da Silva (1908-1992). Ela morou no Brasil e, por sua vez, foi marcada pelas formas fragmentadas de Cézanne.

O espírito original e autêntico do amor de Portinari pelos tipos populares e as coisas do Brasil deve mesmo ser buscado numa tela como Baile na Roça (1924), que, por ter sido rejeitada, acabou reprimindo o jovem pintor. Felizmente, não para sempre, como prova a mostra.

As informações são do jornal O Estado de S. Paulo.