Swann Arlaud, ator
Como foi a experiência com François Ozon?
Ele deu um impulso muito grande a minha carreira. Ozon permite que a gente crie o personagem e depois o ajuste às suas intenções. Estimula os atores, é ótimo.
E o tema da pedofilia na Igreja?
Naturalmente que sabia da história, que foi muito midiatizada na França, mas uma coisa é ler, informar-se, e outra é dar vida à história, vivenciando a dor, a humilhação, a vergonha. Porque o mais traumático é que as pessoas que sofreram abuso se sentem culpadas. É tudo muito complexo. A natureza humana é material inesgotável para um ator.
O filme é muito falado, e a associação formada pelos que denunciam o abuso se chama Palavra Liberada. O que é mais difícil de expressar, palavra ou sentimentos?
Quando você está no clima do personagem, fica tudo muito orgânico. O gesto fica autêntico, a fala vira nossa. Muitos diálogos, senão todos, vieram do site do Palavra Liberada. São reproduções exatas. Não era fácil, porque são coisas íntimas, por mais que François (Ozon) não insista nos detalhes. Não seria ator, se não conseguisse dar conta disso.
O roteiro dá conta das desigualdades na sociedade francesa. Temos desde os ricos, com famílias estruturadas, até figuras mais desestruturadas, como o Emmanuel que você interpreta. Que tal isso?
Emmanuel carrega suas cicatrizes de forma muito intensa. É o último a aparecer, e o que traz as veias mais abertas. A moto, a jaqueta, todos os detalhes são preciosos. Constroem uma virilidade ostensiva, que me parece ferida.
Por mais dolorido que seja, você não vitimiza o Emmanuel…
Pode até parecer estranho, mas, para mim, essa não é uma história de vítimas. Esses homens são heróis, por sua coragem de enfrentar tudo, e colocar essa história na rua.
As informações são do jornal O Estado de S. Paulo.