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‘Os filmes impregnam nosso imaginário’, diz Rodrigo Grande

‘Os filmes impregnam nosso imaginário’, diz Rodrigo Grande ‘Os filmes impregnam nosso imaginário’, diz Rodrigo Grande ‘Os filmes impregnam nosso imaginário’, diz Rodrigo Grande ‘Os filmes impregnam nosso imaginário’, diz Rodrigo Grande

São Paulo – Existem ecos evidentes de Alfred Hitchcock e de Quentin Tarantino em No Fim do Túnel. O voyeur bisbilhoteiro de Janela Indiscreta, o assalto e o bando selvagem de Cães de Aluguel. “O projeto nasceu como obra de gênero, impregnado por filmes que vi, e amo”, explicou em São Paulo o diretor e roteirista Rodrigo Grande. Nascido em Rosário, em 1974, ele realizou curtas premiados e alguns longas. Rosarigasinos obteve repercussão nacional e internacional. No Fim do Túnel está indo pelo mesmo caminho – mas o filme não foi indicado pela Argentina como representante do país na disputa do Oscar. O escolhido foi El Ciudadano Ilustre, premiado no recente Festival de Veneza.

Rodrigo Grande reconhece que o próprio cinema lhe serviu de inspiração, num momento difícil de sua vida. “Mas eu não dizia – vou colocar um pouco de Hitchcock, de Tarantino. Os filmes impregnam nosso imaginário. O meu, o seu. Você vai escrevendo e nem se dá conta. Busca certa originalidade, certa força e nem se dá conta de que muita coisa já foi feita, até melhor. O importante é colocar a sua verdade nas coisas. E acho que isso No Fim do Túnel tem. É um filme sobre culpa. Sobre um homem que se reconstrói.” Rodrigo queria muito que a morte estivesse presente, mas não como representação do fim de tudo. “Era mais como passagem, transformação. O fim pode ser um (re)começo.”

E foi assim que ele criou o cachorro, que acompanha Joaquín, o personagem de Leonardo Sbaraglia. Quando a mulher – a femme fatale – adentra a casa com a filha emparedada no seu silêncio, é com o cão que a menina começa a se soltar. A garota sussurra no ouvido do ‘perro’ as verdades que a mãe nem sonha. O vilão da história, o chefe do bando que organiza o assalto à agência bancária – e, por isso, o grupo constrói o túnel sob a casa de Joaquín -, é um monstro. Percebemos isso por duas ou três cenas que é bom não antecipar – olha o spoiler. Mas tem também o abuso. “É o mais hediondo dos crimes”, reflete o diretor. “Digo isso como pai, como cidadão. Para o próprio desenvolvimento da trama, era preciso que esse homem fosse abjeto, para provocar uma resposta visceral e imediata, e não apenas do público. Conspurcar a inocência é crime”, diz Grande.

Foram anos de dedicação ao projeto, e por isso mesmo Rodrigo Grande teve tempo de pensar em tudo. Algumas reviravoltas de roteiro – o que os norte-americanos chamam de ‘twists’ – poderão surpreender e até desconcertar, mas Rodrigo diz que foi um trabalho sincronizado do escritor com o diretor. “Como exerço as duas funções, pensava sempre na melhor maneira de servir a uma e a outra.” A casa foi concebida por ele como personagem. “Os brinquedos no jardim abandonado estão lá para lembrar Joaquín de sua culpa.” O túnel tanto pode ser uma lembrança de A Um Passo da Liberdade/Le Trou, de Jacques Becker, como de Fugindo do Inferno, de John Sturges. O elenco superou sua expectativa – “Són bárbaros”, ele diz, em bom argentinês. Mas contar com Federico Luppi (e suas cãs) “foi um luxo”, define.

As informações são do jornal O Estado de S. Paulo.