São Paulo – Pablo Trapero tem sido uma presença permanente no Festival de Cannes e, no ano passado, chegou a presidir o júri que outorgou os prêmios da seção Un Certain Regard. Este ano, Trapero ficou mais feliz ainda de voltar a Veneza – e de ganhar o prêmio de direção, outorgado pelo júri de Alfonso Cuarón, por El Clan. Com o título de O Clã, o filme estreia nesta quinta-feira, 10, nos cinemas brasileiros.
“Lá atrás, foi Veneza que me descobriu e deu projeção internacional com meu longa Mundo Grua. Voltar e ainda ser premiado foi muito gratificante.”
E com O Clã Trapero ainda entrou para o reduzido time dos autores cujos filmes ultrapassaram 1 milhão de espectadores na Argentina. “Chegamos a quase 2 milhões, algo em torno de 1,8, o que foi verdadeiramente excepcional. O Clã foi a segunda maior bilheteria de todos os tempos na Argentina (após Relatos Selvagens). Esperava uma boa acolhida, mas isso superou toda expectativa. Além da bilheteria, o filme desencadeou um debate muito interessante sobre o episódio real e suas ramificações na história argentina.”
O Clã baseia-se na história da família Puccio – família respeitável, o filho integrante da equipe nacional de rúgbi e, por trás dessa fachada, o pai, ligado ao regime militar, sequestra e mata com os filhos pessoas ricas de quem extorque dinheiro, anunciando-se como porta-voz de uma organização anarco-revolucionária. Trapero reflete – “Há um aspecto universal em O Clã, que é a história da família, de pai e filhos. Mas existe a singularidade argentina. Mesmo que o tema da duplicidade também seja universal, creio que existem elementos particulares que fazem da família Puccio – pai autoritário, família submissa – um bom retrato para espelhar a realidade nacional.”
O diretor acredita que essa história – esse horror – só foi possível porque somou-se à duplicidade um outro problema, ou fenômeno contemporâneo, a indiferença. “As pessoas tendem a achar que esse tipo de atividade criminal ocorre longe delas e que, portanto, não lhes diz respeito nem atinge. Entendo isso como uma fuga da realidade. Tem gente que até hoje não acredita que o jovem Puccio, Alejandro, um campeão, tenha feito aquelas coisas horríveis. É um pouco como o que ocorreu em Paris. A bomba tem de estourar na cara delas (das pessoas indiferentes) para que se deem conta.” As informações são do jornal O Estado de S. Paulo.