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Peça em homenagem aos 70 anos de Itamar Assumpção foi feita pela filha do artista

Paulistano nascido em 1949, o músico rebelde, chamado de vanguardista, ganha homenagem no ano que completaria 70 anos, com o espetáculo Pretoperitama

Peça em homenagem aos 70 anos de Itamar Assumpção foi feita pela filha do artista Peça em homenagem aos 70 anos de Itamar Assumpção foi feita pela filha do artista Peça em homenagem aos 70 anos de Itamar Assumpção foi feita pela filha do artista Peça em homenagem aos 70 anos de Itamar Assumpção foi feita pela filha do artista
Foto: Reprodução

Quando se cansava ou precisava relaxar, o músico e compositor Itamar Assumpção saía de sua casa e caminhava pelas ruas da Penha “para comprar cadernos”, diz a filha do artista, a cantora e compositora Anelis. 

Paulistano nascido em 1949, o músico rebelde, chamado de vanguardista – apesar de sua desaprovação – ganha homenagem no ano que completaria 70 anos, com o espetáculo Pretoperitamar.

Um projeto para o palco era desejo antigo da família do artista. Após sua morte em 2003, ações de homenagens e lançamentos prestaram tributo a Itamar. Nesse ano, sua música foi lembrada no palco da Virada Cultural e os discos Beleléu, Leléu, Eu e Às Próprias Custas S/A foram reeditados. “Há muito material ainda inédito, composições e músicas gravadas voz e violão”, diz Anelis.

Mas antes de iniciar mais um projeto musical, o palco parecia chamar mais alto. “O primeiro contato que ele teve com a arte foi por meio do teatro. Ser ator influenciou sua musicalidade, suas composições e a vontade de narrar histórias”, afirma Anelis.

O estudos no palco começaram em Londrina, quando se mudou com a família. Itamar já tinha tentado ser jogador de futebol e cursar contabilidade, mas a intimidade com violão foi mais profunda. Na época dos grandes musicais, Itamar despontou com Arrigo Barnabé, a quem cantou os versos “Onde estará Arrigo Barnabé?/Atrás da estátua do Borba Gato”, e os expoentes do Teatro Lira Paulistana. Arrigo tem participação especial no espetáculo.

Entre 1980 e 1986, Itamar grava três discos, Beleléu, Leléu, Eu, com a banda Isca de Polícia, Às Próprias Custas S/A e Sampa Midnight. O estilo bem humorado das letras e a fusão com o rap e reggae se juntaram ao tom contestatório de Nego Dito: “Se ‘chamá’ polícia/Eu viro onça/Eu quero matar/A boca espuma de ódio/Pra provar pra quem quiser ver e comprovar”.

Para a atriz e dramaturga Grace Passô, que assina o texto com Ana Maria Gonçalves, a obra de Itamar se mostra um universo vasto de exploração. “Ele foi como uma grande gramática e em si um discurso de liberdade. Itamar carrega um nível de inventividade que atravessa as linguagens, como eram suas apresentações, marcadas pela performance.”

No palco, atores e músicos contam uma história de outros tempos. No dia em que Itamar morre, o artista faz uma viagem para o futuro. E em 2019, um grupo parte para encontrar Nego Dito e trazê-lo para os festejos de seus 70 anos. Segundo Anelis, a obra do pai alimenta a cena com a dedicação incansável de um artista. “Em seus cadernos, por exemplo, ele desenvolvia ideias sobre como uma planta pensaria e se expressaria, também fazia esse exercício com animais, formigas.”

Em Pretoperitamar, além de apresentar um artista contemporâneo para geração as novas gerações, o espetáculo também busca deslocar pontos de vista sobre os rótulos que Itamar recebeu no passado. “Como outros artistas, foi chamado de maldito e ser considerado marginal são coisas impostas”, diz Anelis.

Por outro lado, a criatividade pulsante e a companhia de artistas de sua geração o colocou no time elogioso da Vanguarda Paulistana, termo que também pode ser questionado. “Ele sempre reclamou”, diz Anelis. “Uma palavra de origem francesa, europeia, para denominar um artista negro. É uma lobotomia, que nos apaga, que apaga nossas origens. É como se a gente precisasse inventar outras palavras para existir.”