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Portela, Beija-Flor e Tijuca se destacam na segunda noite de desfiles no Rio de Janeiro

Outras escolas também desfilaram na Sapucaí e abrilhantaram ainda mais a noite dos cariocas. Muitos famosos desfilaram e mostraram que tem 'samba no pé'

Águia da Portela representou a estátua do Cristo Redentor do Rio de Janeiro Foto: R7

Rio de Janeiro, Guiné Equatorial e Suíça. As escolas que mais se destacaram na segunda noite de desfiles do Grupo Especial carioca foram buscar inspirações em várias partes do mundo para fazer Carnaval. E valeu a pena. Portela, Beija-Flor e Unidos da Tijuca, respectivamente, entraram fortes na briga pelo título.  

A Portela abusou da tecnologia para retratar um Rio de Janeiro surreal em homenagem aos 450 anos da capital fluminense. O principal destaque da escola foi a escultura gigante da águia, símbolo da escola, fazendo às vezes de Cristo Redentor. A arquibancada foi ao delírio quando a ave fechou suas asas sobre o carro e abaixou para passar pela torre de TV da Sapucaí.

A Beija-Flor brilhou pelo primor de suas fantasias e alegorias, além de apresentar evolução e harmonia perfeitos. Na comissão de frente, máscaras mudavam de expressão controladas por controle remoto e impressionaram.

A Tijuca, por sua vez, atual campeã do Carnaval, mostrou que mesmo sem Paulo Barros é uma escola criativa, de comunidade dedicada e que está disposta a brigar pelo título. Se a Suíça, num primeiro momento, parece que não tem cara de folia brasileira, nas mãos da escola fica o mais verde e amarelo dos temas.

A irreverência da União da Ilha para criticar o culto à beleza foi outro destaque da noite. A escola fez um desfile leve e bem-humorado, com direito a luta de estilistas e saradões viciados em “cretina” como complemento alimentar. Veja como foram as apresentações das escolas.

A escola de samba entra avenida prestando uma homenagem ao grande carnavalesco Fernando Pamplona Foto: R7

São Clemente

Primeira escola a desfilar na noite de segunda-feira (16), a São Clemente fez uma homenagem ao carnavalesco Fernando Pamplona, um dos gênios que fizeram história na Sapucaí. O enredo é assinado por outra grande campeã da folia do Rio de Janeiro, Rosa Magalhães, que faz sua estreia na Preto e Amarelo.

Falar de Fernando Pamplona também é homenagear o Carnaval brasileiro, sobretudo o carioca. Mas Rosa Magalhães também reverenciou o folclore acreano. “A Incrível História do Homem que só tinha Medo da Matinta Perera, da Tocandira e da Onça pé de Boi” mostrou as lendas que assustavam o carnavalesco quando ele ainda era criança.

A São Clemente foi a primeira escola a não usar elementos cenográfico na comissão de frente. No abre-alas, tudo o quer dava medo na criança. Uma escultura gigantesca de uma velha bruxa — a matinta perera — foi construída nos mínimos detalhes. A peça, no entanto, atravessou a avenida com um dedo da mão diretia quebrada, o que pode prejudicar a agremiação.

O desfile falou sobre o começo do envolvimento de Pamplona com o Carnaval, o trabalho no teatro municipal do Rio de Janeiro e os enredos campeões do carnavalesco no Salgueiro. Até os garis que limpam a avenida foram homenageados. A última alegoria representou Fernando Pamplona entrando para a eternidade.

Uma das mais irreverentes escolas do Grupo Especial carioca se consagra como uma agremiação madura e experiente, com a grife de Rosa Magalhães e disposta a brigar pelas primeiras posições do Carnaval.

O samba-enredo da escola faz uma homenagem especial aos 450 anos do Rio de Janeiro Foto: ​R7

Portela

Segunda escola a desfilar na noite de segunda-feira (16), a Portela já entrou na avenida como uma das favoritas ao campeonato de 2015. E não foram necessários muitos minutos de samba para a agremiação confirmar a alta expectativa em relação ao desfile, que terminou com gritos de “É Campeão”.

A Portela investiu alto na noite. Antes mesmo de cruzar a faixa amarela, a escola já marcou presença com quatro paraquedistas pousando na Sapucaí. O desfile homenageou os 450 anos do Rio de Janeiro.

A comissão de frente fez bonito com quatro formações de elenco representando a praia, a Lapa, o Jardim Botânico e o Carnaval. O abre-alas foi outro destaque da escola. Uma águia gigantesca simbolizou o Cristo Redentor. Para conseguir passar por baixo da torre de TV — tipo de passarela onde ficam cinegrafistas na Sapucaí —, a águia fechou as asas, quase que abraçando o carro, e abaixou, levando as arquibancadas ao delírio.

Foram muitos os recursos tecnológicos, mas também houve técnicas alternativas. Um dos carros usou como forração 165 mil latinhas consumidas na quadra da escola. As músicas que cantaram o Rio de Janeiro ganharam um setor inteiro. “Do Leme ao Pontal”, “Menino do Rio” e “O Sol de Ipanema” foram alguns dos clássicos retratados.

Fechando a apresentação, o trem do samba, também em forma de águia. Não foi um desfile perfeito, já que houve problemas na avenida, como o gerador de um dos carros, que não acendeu a iluminação nem ligou uma fonte que abria a alegoria. Mas, independentemente disso, foi a escola que mais emocionou a Sapucaí até o momento.

Claudia Raia no desfile da Beija-Flor Foto: R7

Beija-Flor

Terceira escola a entrar na avenida, a Beija-Flor fez um verdadeiro espetáculo na avenida. Se defender um enredo afro parece algo repetitivo, a escola de Nilópolis mostrou o que parece ser a mais bela África d e todos os tempos. O samba foi para a boca do público, a animação tomou conta dos componentes e as esculturas foram luxuosa e detalhadamente acabadas.

O desfile da Azul e Branco, mais uma vez, pareceu impecável, com harmonia e evolução incríveis. Se não bastasse isso, foi preciso se reverenciar ao talento. O casal Selminha Sorriso e Claudinho comemoraram 20 anos com o pavilhão oficial da Beija-flor.

A escola homenageou a Guiné Equatorial. O enredo, semanas antes do Carnaval, foi alvo de polêmica já que o país africano, patrocinador do desfile, é governado há 35 anos pelo presidente Teodoro Obiang Nguema, a quem caem diversas acusações de violações aos direitos humanos.

Mas a Beija-Flor não se abateu pela polêmica, muito menos entrou nela. O desfile abriu exaltando a ancestralidade na comissão de frente. No abre-alas, os povos ainda na floresta. Símbolos da cultura africana foram mostrados nas alas, que retrataram o continente como berço negro do mundo.

Após a chegada dos colonizadores, as riquezas naturais da Guiné Equatorial, como o cacau e o petróleo. Por fim, a ascensão do país africano. 

A comissão de frente tinha uma Branca de Neve negra interpretada pela atriz Cacau Protássio Foto: R7

União da Ilha

Não faltou brincadeira e bom humor para a União da Ilha criticar a vaidade e o culto exagerado ao corpo. Quarta escola a desfilar na madrugada de terça-feira (17), a agremiação levou para a Sapucaí o enredo “Beleza Pura?”, um desfile leve, bonito e a cara do Carnaval brasileiro.

A escola não economizou na ironia e nas brincadeiras. Logo na comissão de frente, uma branca de neve completamente fora dos estereótipos da personagem: negra e gordinha. A agremiação passou pelos padrões de beleza de acordo com as civilizações, desde os tempos de babilônia.

Em um dos carros, dois estilistas lutavam em um octógono. No chão, uma ala formou uma passarela para que um desfile só de Olívias Palitos exibissem grifes famosas. Suplementos alimentares e apelidos de academia foram outros elementos que viraram piada na escola.

A Ilha mostrou ainda a busca pela fama e a tentativa de parar o tempo em nome da juventude eterna. Mas a velha-guarda, colocada estrategicamente no final do desfile, lembrou que a beleza vem da sabedoria.

A escola dificilmente vai brigar pelas primeiras posições, mas fez uma das apresentações mais legais de se ver no ano.

Cris Vianna brilhou como rainha de bateria Foto: R7

Imperatriz Leopoldinense

A Imperatriz Leopoldinense se inspirou na banana que arremessaram para o jogador Daniel Alves para pedir o fim do preconceito. Com isso, a agremiação aproveitou para homenagear Nelson Mandela, morto no fim de 2013. A forma de unir as duas coisas foi exaltar as raízes negras do Brasil.

Esse foi o segundo enredo afro da noite, o terceiro do Carnaval, mas sem repetir nada do que já havia sido mostrado na avenida.

O enredo “Axé, Nkenda! Um Ritual de Liberdade e que a Voz da Igualdade Seja Sempre a Nossa Voz”, começou com a mãe terra, representando o início de tudo, seguida pelas belezas africanas. A vinda dos negros para o Brasil foi representada pelos escravos que eram obrigados a embarcar nos navios rumo à terras tupiniquins.

Então foi a vez de mostrar a herança afro nas raízes brasileiras, que passam pela culinária, o artesanato e as festas típicas. Negros que fizeram história por aqui foram lembrados em estandartes e na penúltima alegoria. Martinho da Vila, Jovelina Pérola Negra, Dona Ivone Lara, Lázaro Ramos, Taís Araújo, entre outros. O último setor foi inteiro dedicado a Nelson Mandela.

O desfile teve um tom político, mas exaltou com leveza as raízes brasileiras. E lembrou que o preconceito, ainda em 2015, faz parte da nossa realidade. Com harmonia e evolução impecáveis, alegorias originais e bem acabadas, a escola encantou a avenida.

Unidos da Tijuca fala da Suíça em desfile Foto: R7

Unidos da Tijuca

Atual campeã do Carnaval carioca, coube a Unidos da Tijuca encerrar os desfiles do Grupo Especial. Cantando a Suíça, a escola distribuiu e fez nevar na Sapucaí, mostrando que veio forte para brigar pelo bicampeonato.

Após anos de glórias, este foi o primeiro ano da escola do Borel sem o carnavalesco Paulo Barros. E, para quem tinha alguma dúvida, a escola mostrou que a personalidade, criatividade e comunidade dedicada que a transformaram em uma potência nos últimos anos são as mesmas, se é que não ficaram ainda mais fortes.

Com enredo patrocinado, a escola usou a imagem de Clóvis Bornay, descendentes de suíços, para homenagear o país europeu. A comissão de frente mostrou o encontro do carnavalesco criança com sua versão adulta. Personagens do folclore suíço saíam dos livros e dançavam para o público.

No abre-alas, um enorme dragão articulado impressionou com movimentos precisos. Composições coreografadas vestidas de gárgulas mostravam que as alegorias vivas — marca de Paulo Barros — ainda fazem parte da escola.

Para falar do inverno rigoroso, foi montada uma pista de patinação. Nas alas, as invenções e marcas da Suíça: canivete, fechaduras de senhas, relógio, leite, queijo e chocolate. O Carnaval local foi a ponte para a homenagem a Clóvis Bornay, que fechou o desfile.

Com informações do Portal R7