Entretenimento e Cultura

'Que Viva Eisenstein' desperdiça um grande personagem

‘Que Viva Eisenstein’ desperdiça um grande personagem ‘Que Viva Eisenstein’ desperdiça um grande personagem ‘Que Viva Eisenstein’ desperdiça um grande personagem ‘Que Viva Eisenstein’ desperdiça um grande personagem

São Paulo – Que Viva Eisenstein! – Dez Dias que Abalaram o México é um filme movido pelo propósito de chocar. O autor, Peter Greenaway, é cineasta de talento, mas, por vezes, se deixa levar pelo desejo infantil de provocar. O eleito da vez é um dos ídolos do cinema de todos os tempos, o soviético Sergei Eisenstein (1898-1948), autor de clássicos como Encouraçado Potemkin, Greve e Outubro.

Greenaway concentra-se numa única passagem da biografia do soviético – a estada no México, na cidade de Guanajuato, onde seria introduzido à cultura mexicana e a otras cositas más. Eisenstein fora ao país filmar o documentário Que Viva México!, que ficou inconcluso. Mas Greenaway parece pouco se interessar nos dissabores dessa obra problemática. Na verdade, prepara todo o caminho para a cena em que Eisenstein (Elmer Bäck) recebe iniciação sexual do seu hospedeiro mexicano. Por isso, monta o filme de maneira rápida (e mesmo frenética e cansativa) para chegar ao seu cume. Como se precisasse chegar a um ápice que representasse uma espécie de divisor de águas existencial. A partir daí, sossega um pouco. O ritmo cai. Sem melhorar muito.

O filme tem qualidades. Greenaway é um esteta. As imagens são bonitas. Belas mesmo, destacando o colorido mexicano. Não surpreende quem conhece o trabalho anterior de Greenaway, marcado por uma obsessão barroca da imagem. Não raro, o cineasta britânico deixa-se levar pelo esteticismo, pelo exagero da busca por uma beleza que, ao fim e ao cabo, parece um tanto vazia. Seu cinema tem sofrido dessa espécie de síndrome que denota a contradição de quem domina todos os meios de expressão, mas, no fundo, não tem muito o que fazer com eles. Falta-lhe ter o que dizer. Há muitos anos, Greenaway afirma que o cinema acabou. O que tem levado muita gente a dizer que foi o cinema de Greenaway que, de fato, acabou. Exagero.

No caso, não se tratava de abordar os impasses de Eisenstein, o choque cultural entre o espírito eslavo e a flamejante cultura mexicana, as inibições diante do culto à morte típico do país latino, o desejo de liberdade sob a longínqua custódia de Stalin. Todo o interesse parece apenas concentrado na revelação de que Eisenstein era gay. Bom, a esta altura do campeonato, pode-se perguntar: e daí? Resumo da ópera: Que Viva Eisenstein! é apenas um filme tolo.

As informações são do jornal O Estado de S. Paulo.