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'Risco', primeiro passo da nova identidade do Balé da Cidade

‘Risco’, primeiro passo da nova identidade do Balé da Cidade ‘Risco’, primeiro passo da nova identidade do Balé da Cidade ‘Risco’, primeiro passo da nova identidade do Balé da Cidade ‘Risco’, primeiro passo da nova identidade do Balé da Cidade

– O tema anunciado para a temporada é Corpo Antropofágico e a obra que a inaugura se chama Risco, em cartaz até sábado, 1º, no Theatro Municipal de São Paulo, com trilha sonora que reúne Os Planetas (Marte), de Gustav Holst, e Festas Romanas, de Otorino Respighi.

Criada e dançada pelos bailarinos do Balé da Cidade de São Paulo (BCSP), com direção de Sérgio Ferrara, anuncia a “nova identidade” que seu recém-empossado diretor artístico, Ismael Ivo, em texto publicado no programa de março do teatro (vendido a R$10) declara pretender nela construir. Segundo ele, trata-se de uma “inédita instalação coreográfica de dança”, que usa o “direito de exercer uma licença poética dançante” e “transcende o mero exercício de estéticas”.

Resguardado o direito a implantar o perfil que deseja, cabe considerar o que dele resultou nesta primeira iniciativa. Em primeiro lugar, ponderar a respeito do “inédita”, uma vez que a estrutura escolhida para esta composição (partir da colaboração criativa dos bailarinos) ecoa, por exemplo, e quase 20 anos depois, à de Baile na Roça, Coreografias para Portinari, de 1998, dirigida por José Possi Neto no período em que comandou a companhia (1997-1999). Com direito, inclusive, a uma espécie de “reedição” da cena do banho, com cabelos esvoaçando água ao redor.

Todavia, essa não é a questão central. O que chama a atenção são as fragilidades que jorram para fora da classificação escolhida para a obra. ‘Instalação coreográfica’ poderia salvaguardá-la de uma apreciação que a tratasse como mais uma produção do BCSP. Mas tal possibilidade se inviabiliza porque a dramaturgia de Risco se organiza sobre o entendimento de coreografia que alinhava a sua história. Talvez desejasse ser uma ‘instalação coreográfica’, mas não guarda familiaridade com esse tipo de produção, e sim com os hábitos produzidos pelo repertório no qual os bailarinos têm sido formados. Assim, o espaço se mantém como um lugar já dado, a ser “preenchido” por ações que o “decoram”, mas não o configuram. E as dinâmicas dessas ações recolhem, aqui e ali, das concepções coreográficas que os bailarinos já dançaram. Tudo isso poderia ser forte e potente, caso o corpo-tema prometido entrasse em cena praticando a antropofagia que, no entanto, não compareceu.

Como o elenco não demonstra familiaridade com propostas de movimento que não reproduzam demandas técnicas com as quais tecem seu cotidiano artístico, cobre-se de fragilidades que, geralmente, não são associadas a seu desempenho.

Nesse sentido, o programa escolhido pode estar anunciando algo a ser levado em conta, na medida em que faz coabitar Risco e o tipo de produção que vinha pavimentando o percurso do Balé da Cidade (Adastra, de Cayetano Soto, de 2015, com música de Ezio Bosso).

Apresenta o elenco mostrando o que sabe fazer bem e, ao mesmo tempo, comunica um “de onde venho, para onde vou”, mas sem abandonar o que já fui. Aguardemos a segunda temporada, anunciada para 16 a 25 de junho.

Vale sublinhar a importância da música ao vivo, condição importante para o desenvolvimento artístico de uma companhia do porte dessa. Que a continuidade da parceria com a Orquestra Sinfônica Municipal, regida por Luis Gustavo Petri, se mantenha.

BALÉ DA CIDADE DE SÃO PAULO

Teatro Municipal. Praça Ramos de Azevedo s/nº, tel. 3053-2100. De 5ª a sáb., às 20h; dom., às 17h. R$ 35 a R$ 100. Até 1º/4.

As informações são do jornal O Estado de S. Paulo.