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Rodrigo Teixeira produz 'A Bruxa', que lida com medos ancestrais do público

Rodrigo Teixeira produz ‘A Bruxa’, que lida com medos ancestrais do público Rodrigo Teixeira produz ‘A Bruxa’, que lida com medos ancestrais do público Rodrigo Teixeira produz ‘A Bruxa’, que lida com medos ancestrais do público Rodrigo Teixeira produz ‘A Bruxa’, que lida com medos ancestrais do público

São Paulo – Algo estranho se passa no sítio retirado onde mora a família de William. Ele é um daqueles puritanos colonizadores da América, na fase anterior à independência. William é tão rigoroso que é expulso da cidade. Com a mulher e os filhos, instala-se à beira de uma floresta. O garoto é curioso, como toda criança. A garota está em plena puberdade, o que significa que seu corpo está mudando. Thomasin é seu nome. Transpira sensualidade e a família percebe isso. Pai e mãe preocupam-se. Como devotos, acreditam em Deus – e no Diabo. A decalagem entre o que as pessoas gostariam de ser e o que são desencadeia o motor trágico da narrativa de A Bruxa.

O filme de Robert Eggers foi exibido com sucesso no Sundance, em janeiro de 2015. No fim do ano, integrou a programação da Mostra. O filme é uma produção do brasileiro Rodrigo Teixeira. Na Mostra, virou cult, estourou nas redes sociais, alavancado pelo público jovem. O produtor foi quem fez a apresentação. Disse que o diretor quis criar um pesadelo do passado, com ecos no presente. A história passa-se no século 17. Tão grande foi a preocupação de Eggers com a verossimilhança que os diálogos foram escritos com base em documentos da época e as próprias roupas, os móveis, tudo foi feito de forma tosca, para se assemelhar, no máximo possível, ao que seria o visual autêntico.

Pai e mãe têm um bebê. Thomasin cuida da criança. Ela percebe um movimento estranho na floresta, e a forma como Eggers filma reforça seu estranhamento. Afinal, o que está ocorrendo? O bebê desaparece. Há um bode preto, Black Phillip, que fala e mete medo. Tudo isso é real ou projeção de medos ancestrais? O pai desconfia que Thomasin virou bruxa. É conhecido o episódio das bruxas de Salem, garotas de uma comunidade parecida com a de A Bruxa. Acusadas de bruxaria, foram sentenciadas.

As bruxas de Salem viraram peça, filme. Há 60 e tantos anos, a história virou metáfora do macarthismo. O medo coletivo (do comunismo) gerou uma onda de paranoia. Suspeitos de antiamericanismo tinham de ser excluídos. Não é o caso de A Bruxa. Eggers faz cinema de gênero, mas não exatamente A Bruxa de Blair. O filme mexe com medos ocultos do público. Thomasin é bruxa? O bode é o demo? Nada é o que parece ser e o tratamento sonoro desestabiliza ainda mais o público. Depois, você vai se perguntar – o que significa tudo isso? Durante, vai sentir medo. O pesadelo do passado de Eggers funciona. Assustou até um especialista como Stephen King, que virou tiete de Robert Eggers.

As informações são do jornal O Estado de S. Paulo.