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Sem Miroslav, cineasta Milos Forman não seria tão bom

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São Paulo – Há muito tempo ele estava doente. Há um mês e meio foi internado num hospital da República Checa e há uma semana entrou num coma induzido. No sábado à noite, 28, morreu Miroslav Ondriceck, aos 80 anos. O anúncio foi feito neste domingo, 29, por seu filho David. Como o pai, ele é/era diretor de fotografia, e conceituado. David só não teve a sorte de ter fotografado filmes míticos, que fazem parte da história do cinema.

Miroslav iniciou sua carreira nos estúdios Barrandov, os mais importantes da antiga Checoslováquia. No começo, fotografava documentários. O acaso aproximou-o de um certo Milos Forman, que se tornaria um grande nome da nova onda checa. Estiveram juntos desde 1963. Para Forman, Miroslav fotografou Concurso, Os Amores de Uma Loira e O Baile dos Bombeiros.

A nova onda checa incorporou conceitos da nouvelle vague francesa. Filmes autorais, câmera na mão, som direto, muitos travellings e roteiros que muitas vezes eram improvisados com os atores. Mas os checos tinham uma característica suplementar. Em preto e branco ou em cores, os filmes da nova onda eram de uma beleza, de uma invenção visual de cortar o fôlego.

Os autores beneficiavam-se do democratismo que caracterizou a experiência socialista na Checoslováquia, naquela década marcada por profundas transformações em todo o mundo. Em 1968, a chamada ‘primavera de Praga’ era celebrada como a prova de que o sonho de um novo mundo era possível. Todo poder aos jovens. Alarmada, a União Soviética enviou seus tanques para sufocar o movimento libertário.

Milos Forman abandonou o país. Emigrou para os EUA. Tornou-se um cineasta norte-americano. Busca Insaciável, Hair, Amadeus, Na Época do Ragtime, Valmont. Miroslav continuou sendo seu diretor de fotografia. Filmes grandes e grandes filmes. Impossível imaginar beleza maior que a da abertura de Hair, no Central Park, ao som de Aquarius. Ou a suntuosidade plástica e cênica de Amadeus, pelo qual Forman ganhou o Oscar e Ondricek, o Bafta. Simplesmente não existe filme mais crítico – de Hollywood, inclusive – que Ragtime. Com base em E.L. Doctorow, Forman fez o maior ataque ao racismo perpetrado no cinema norte-americano.

Ondricek fotografou também para George Roy Hill (O Mundo Segundo Garp) e Mike Nichols (Silkwood). Mas a outra grande parceria, além de Forman, foi com o inglês Lindsay Anderson. Se… e Um Homem de Sorte ultrapassam o realismo no rumo do onirismo e do surrealismo. Só um grande fotógrafo poderia assinar aquelas imagens.

As informações são do jornal O Estado de S. Paulo.