A série se equilibra entre ser uma extensão do universo ou um show com voz própria (Foto: Reprodução/X/@genv)
A série se equilibra entre ser uma extensão do universo ou um show com voz própria (Foto: Reprodução/X/@genv)

A segunda temporada de “Gen V” até consegue, em partes, provar que era mais do que um derivado de luxo de “The Boys”, e apesar de manter um saldo final positivo, a série escorrega em ambições maiores do que as próprias pernas.

O resultado é uma temporada que começa interessante, tropeça no drama adolescente e termina tentando gritar mais alto do que precisava, tudo isso enquanto segura a plaquinha de “ponte para a temporada final da série principal”.

Os novos episódios sofrem com a clássica falta de frescor. Abalada pela ausência de Andre — personagem vivido por Chance Perdomo, cuja morte na vida real impactou profundamente o roteiro —, a trama passa longos episódios tentando se reencontrar.

A justificativa narrativa para a saída do personagem é bem conduzida e emocionalmente eficiente, destacando, inclusive, o papel de Polaridade, pai de Andre, que consegue suprir parcialmente sua ausência em determinados momentos da história.

A segunda temporada diverte mas poderia ir mais longe (Foto: Reprodução/X/@genv)

O ritmo se arrasta em alguns trechos, mas, por sorte, a virada chega — e, quando chega, muda tudo. Do meio para o fim, a obra pisa no acelerador, reencontra sua identidade e, curiosamente, lembra o que fazia a primeira temporada funcionar: o caos e a sátira bem dosada.

Marie no centro e todo o resto orbitando

O maior acerto é dar a Marie Monroe o protagonismo que ela merecia. A personagem assume o centro da narrativa com confiança e propósito, se tornando o principal contraponto ao caos da Vought e à sombra do Capitão Pátria. Sua evolução é nítida: de uma jovem em busca de aceitação a uma figura firme, pronta para liderar uma resistência, mesmo que ainda cheia de traumas.

A relação com a irmã funciona como âncora emocional, mostrando uma faceta mais vulnerável da personagem em meio ao caos do campus. É por meio dela que a série encontra uma boa dinâmica e se mantém pulsando, mesmo quando tudo parece prestes a explodir.

O problema é que todo o resto gira em torno dela, e só dela. Emma, Jordan, Sam e Cate continuam personagens interessantes, mas os arcos se tornam quase decorativos, limitados a servir como apoio moral ou alívio cômico. Alguns novos Supers até surgem com potencial, mas desaparecem sem deixar marca.

O vilão Cipher, interpretado por Hamish Linklater, é a exceção: enigmático, teatral e imprevisível, ele dá à temporada a dose de tensão e mistério que faltava. Sua presença eleva o jogo e entrega as melhores cenas. Mesmo que sua trama exista para empurrar a série de volta ao eixo de The Boys, há algo de genuíno em sua ameaça, algo que finalmente faz a obra lembrar o porquê de ter surgido.

Marie e Cipher roubam as cenas e se tornam os destaques da temporada (Foto: Reprodução/X/@genv)

Algo próprio ou apenas uma ponte?

Mas, no fim das contas, tudo converge para a quinta e última temporada de “The Boys”. Cada reviravolta, cada revelação, cada decisão narrativa parece construída para preparar terreno para o que vem a seguir. A base eugenista da Vought, o discurso de resistência e as pontes com personagens da série principal formam uma engrenagem a serviço da máquina maior.

É coerente dentro do universo, mas enfraquece a produção como obra autônoma. Quando a série vive em função de outra, perde parte do brilho, e, ironicamente, se torna vítima da mesma estrutura que critica. Ainda assim, há algo magnético nessa bagunça.

Conforme a série avança para o final, a tensão cresce, os dilemas morais se multiplicam e o caos controlado retorna com força. O último episódio entrega tudo o que o público esperava: ação, sangue, dilemas éticos e um clímax que finalmente faz valer a insistência.

A cena final é um convite para a inevitável guerra entre Supers e humanos, onde Marie surge como peça-chave dessa batalha. No fim, a segunda temporada diverte mas parece refém da própria franquia. O resultado não é por inovação, mas por haver uma consistência.

A boa notícia? Marie Monroe está finalmente pronta para brigar com o Capitão Pátria, então, que essa promessa faça toda a jornada valer.

Gabriel Miranda

Repórter

Jornalista em formação pela Estácio de Sá, faz parte da redação da TV Vitória e está à frente do quadro "Só Soundtrack Boa" na Jovem Pan Vitória. Com olhar atento e conhecimento de cinema e cultura pop, escreve sobre filmes, séries, bastidores e tudo que movimenta esse universo pop.

Jornalista em formação pela Estácio de Sá, faz parte da redação da TV Vitória e está à frente do quadro "Só Soundtrack Boa" na Jovem Pan Vitória. Com olhar atento e conhecimento de cinema e cultura pop, escreve sobre filmes, séries, bastidores e tudo que movimenta esse universo pop.