
Depois de um Volume 1 intenso e deliberadamente apoteótico, o Volume 2 da quinta temporada de “Stranger Things” faz a escolha de diminuir o ritmo para organizar o terreno antes do “grand finale”. Não se trata de escassez de momentos épicos, pois eles ainda estão lá, mas agora dividem espaço com conversas difíceis e decisões que carregam o peso de quase uma década de história.
Os três novos episódios, lançados como presentes de Natal, destacam as resoluções e detalhes que definem quem esses personagens se tornaram, apesar de todo o colapso que segue em Hawkins e do Mundo Invertido que expande suas garras. No fundo, o que a série entrega aqui é um conjunto de despedidas discretas.
Certo que alguns destes desfechos são quase protocolares, como se o roteiro empurrasse os personagens para conversas que precisavam acontecer há anos. Ainda assim, essas cenas funcionam, não só por uma boa escrita mas também por serem sustentadas por atuações muito seguras.
Desabafos sinceros no fim do mundo
Noah Schnapp enfim ganha o espaço que Will Byers merecia, algo já sinalizado no Volume 1, mas que aqui se concretiza com mais força. Seu arco é conduzido com uma sensibilidade rara, afinal, a sexualidade de Will vai além de um conflito íntimo, sendo também uma vulnerabilidade que se converte em força emocional diante de Vecna.
Porém, o foco está no desabafo sincero com seus amigos e familiares, as mesmas pessoas que seguem unidas mesmo à beira do apocalipse. Nesses momentos, a série entende que dizer a verdade sobre si pode ser tão assustador quanto o próprio fim do mundo, e trata essa saída do armário com cuidado e empatia.

Sadie Sink continua tendo presença como Max, ainda que reduzida. Há também surpresas pontuais, como a pequena Holly Wheeler, que eleva o nível do horror em cenas específicas, lembrando que a obra ainda sabe ser inquietante quando quer.
O Volume 2 também acerta ao fechar ciclos antigos. A dinâmica entre Steve e Dustin continua impecável, rendendo um dos momentos mais emocionantes da temporada. Há uma cena entre os dois capaz de marejar os olhos com facilidade, funcionando como um lembrete afetuoso da segunda temporada: um cenário simples, mas onde nasceu um dos vínculos mais genuínos da série.
A conversa entre Nancy e Jonathan é direta e honesta. Não precisa de subtexto exagerado nem de explicações intermináveis. Ainda assim, curiosamente, foi o suficiente para gerar interpretações confusas por parte do público, talvez um reflexo de uma série que passou tanto tempo mastigando emoções que, quando decide confiar no espectador, causa estranhamento. Mas já vamos falar sobre isso.
Explicações demais e riscos de menos
A série insiste em explicar demais o que poderia ser sentido ou descoberto pelo espectador. Há certa graça em acompanhar Dustin destrinchando ideias complicadas com a empolgação de quem apresenta um trabalho escolar, mas esse truque já não surpreende como antes. Há momentos em que a escrita é super desenvolvida, e outras que simplesmente vai mastigando os fatos.
Outro aspecto que pesa é a sensação de segurança excessiva. A expectativa de que “ninguém está a salvo” vai sendo diluída episódio após episódio. Não há uma real sensação de morte iminente, e os arcos não apontam para desfechos trágicos. A obra continua refém de seu apego aos personagens principais, uma crítica antiga, reforçada pela constatação de que mortes significativas seguem restritas a personagens secundários ou recém-introduzidos, como Eddie e Bob.
Enquanto isso, o arco militar comandado pela Dra. Kay continua pouco acrescentando à história, existindo mais para atrasar os protagonistas do que para gerar tensão genuína – o mesmo vale para a volta de Kali. Sua presença, que poderia ter muito potencial, visto o pouco aproveitamento no segundo ano da série, acaba sendo cansativa se resume a questionar cada escolha da sua irmã.
E falando em Onze, a personagem símbolo da série chega à reta final estranhamente apagada. Millie Bobby Brown tem momentos pontuais, mas a atuação carece da força que um dia definiu a personagem. Não parece uma evolução natural, como a mudança clara de Dustin, mas sim um esvaziamento. A Onze que conhecemos está ali apenas em fragmentos.
Mesmo assim, o Volume 2 funciona como um elo entre o início e o fim, aprofundando conflitos, reorganizando alianças e preparando o terreno para o confronto final, que chega em um episódio de duas horas no dia 31 de dezembro, em pleno Réveillon.
Após quase dez anos acompanhando esses personagens crescerem, errarem e sobreviverem, a série se aproxima do fim, tentando construir o adeus da forma mais satisfatória possível, mesmo tropeçando nos vícios que carrega desde o início. Resta esperar para descobrir o que a série mais famosa da Netflix escolheu ser quando finalmente apagar as luzes de Hawkins.