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Teatro Municipal mostra produção da ópera 'Thaïs', de Massenet

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São Paulo – Uma mulher fascinante, de enorme poder de sedução, adorada e procurada por todos. Uma cidade pujante – mas, ao mesmo tempo, marcada pelo excesso, pelo exagero, o que bem poderia despertar em uma pessoa o desejo de fugir, de se afastar. “Thaïs bem poderia ser Lady Gaga; Alexandria, a Nova York dos anos 1970, deixada para trás em nome da busca de uma verdade interior em um retiro espiritual, quem sabe na Índia”, diz o diretor Stefano Poda, que estreia nesta quinta, 23, no Teatro Municipal sua montagem de Thaïs, de Jules Massenet. Mas o comentário é seguido por um largo sorriso, o suficiente para acalmar os corações mais tradicionais. Sua produção, afinal, recusa “modernidades fáceis”, como a descrita acima. Mas está longe do convencional – e, para além de Massenet, propõe uma reflexão sobre o teatro, a ópera e o mundo atual.

Os relatos sobre Thaïs remetem à Idade Média, quando surge a figura da cortesã convertida pelo monge Athanaël que, no entanto, se dá conta de que sua tentativa de salvar a moça de uma “vida de pecado” era apenas forma de esconder o seu próprio desejo, eventualmente incontrolável, por ela. No final do século 19, a história foi recriada em um romance de Anatole France, repleto de ironia sobre os vícios da religião institucionalizada. Massenet leu o livro, encantou-se pela narrativa e resolveu transformá-la em ópera. Mas o fez à sua maneira, menos preocupado com o sarcasmo de France, mais interessado na investigação do desejo – e de seu poder autodestruidor.

“Thaïs é a história de um caminho interior, que nos leva do mundo da forma para o mundo da alma”, diz o italiano Poda, que criou esta montagem originalmente para o Teatro Regio de Turim, em 2008, e, em 2016, volta ao Municipal de São Paulo para dirigir a Fosca, de Carlos Gomes. “A evocação da alma e do sonho, a recordação de épocas passadas, a noção de liberdade, a necessidade de soltura, descobertas, silêncios, a coragem de sentir, a ópera nos fala de tudo isso.”

Esses, no entanto, parecem ser apenas pontos de partida para o diretor, que não parece preocupado em uma interpretação fechada da obra. “Eu acredito na música, é ela que nos permite ir além. A música fala de tudo, sem escrever nada. A música é a liberdade, ela acredita na abertura, no poder da sensação”, acredita. E, nesse sentido, ele enxerga a ópera como uma “investigação sobre os sentidos do tempo”. “O grande teatro é o espaço do reencontro com si próprio, da reflexão. Nesse sentido, Thaïs é acima de tudo um espelho para o espectador. Este é um trabalho sobre o interior, sobre o inconsciente, sobre uma personagem que está escondida dentro de nós. Ele não pode ser realista. A história precisa ser aberta.”

Poda assina a direção cênica, os cenários, os figurinos e também o desenho de luz. Gosta, diz, da “unidade absoluta da sensação do pensamento”. Sua direção de atores tem como objetivo “desaprender”. “Os tempos na ópera quase nunca coincidem com o tempo teatral. A exigência, portanto, é outra. Estamos falando, antes, de gestos, de lembranças”, explica. A cenografia, por sua vez, dialoga com a “iconografia, as artes plásticas, com o patrimônio da história da arte em diálogo com a música”. E há a luz. “Só ela pode seguir a música, pois ela também não tem corpo. Só a luz pode revelar as razões íntimas das personagens”, completa o diretor.

Espelhos

Ermonela Jaho, soprano albaniana que interpreta o papel de Thaïs, se diz “encantada” com a riqueza dos elementos pensados por Poda para a montagem – e o modo como formam um todo coeso, ao mesmo tempo em que não tiram a liberdade do espectador de chegar às próprias conclusões. “Esta é uma ópera sobre filosofias de vida, sobre escolhas, sobre a busca da verdade, daquilo que é belo. Cada nota escrita por Massenet é um pedaço da alma que se descortina. E a percepção disso é pessoal.” Para ela, é interessante o jogo de espelhos entre Thaïs e Athanaël. “Ela se transforma de acordo com aquilo que tem de mais profundo. Ele, por sua vez, alardeando a virtude, demora a entender a si próprio. Há, porém, algo em comum: a certeza de que nossa natureza fala mais forte.”

Jaho divide o papel principal com a soprano Sara Rossi Daldoss (a atriz Tônia Grecco vive a personagem em outra época); Athanaël é vivido por Lado Atanelli e André Heyboer; completam o elenco Jean-François Borras, Luc Robert, Carla Cottini, Malena Dayen, Ana Lucia Benedetti, Károly Szemerédy, Saulo Javan, Lina Mendes e Eduardo Trindade. A regência é do maestro francês Alan Guignal e, no dia 1º, do brasileiro Gabriel Rhein-Schirato. As informações são do jornal O Estado de S. Paulo.