Fechado para reformas desde 2017, quando completou 90 anos, o Theatro Carlos Gomes, um dos pontos mais reconhecíveis e charmosos do Centro Histórico de Vitória, está em fase final de restauração.
Quem passa pelo cartão-postal diariamente deve ter notado que o amarelo, que dava cor ao local nos últimos anos, deu lugar a uma outra tonalidade, que fica entre o cinza e bege.
Esta cor tem nome, se chama camurça, assim como o tecido. E ainda que possa parecer que a tonalidade tenha sido escolhida a esmo, a verdade é que era ela quem dava cor ao Carlos Gomes quando foi inaugurado, num longínquo 1927, pelo menos, um tom extremamente parecido com ele.
Quem explica é a presidente do Instituto Modus Vivendi, responsável pela execução dos trabalhos, Erika Kunkel.
Ela relata que a cor do teatro foi escolhida após um processo de pesquisa científica chamado de prospecção estratigráfica. No que consiste esta operação? Restauradores e arquitetos analisam diversas camadas de tinta utilizadas na arquitetura do espaço. Com isso, é possível identificar qual cor mais se aproxima da original.
Cada camada mais recente de tinta é cuidadosamente retirada, para revelar detalhes, cores e técnicas originais da obra.
“Não foi uma cor escolhida de forma aleatória, foi feita uma pesquisa científica com restauradores e arquitetos especialistas e aprovada pelo Conselho Estadual de Cultura. Foi provavelmente uma das primeiras cores, e ela harmoniza perfeitamente com o estilo do monumento, que é o estilo eclético”, explicou.
Ainda de acordo com ela, a cor foi bem recebida pela comunidade e também pelo próprio Conselho de Cultura, que enxergam na tonalidade mais aproximada do original quanto possível, uma restauração de valor artístico e histórico para o teatro.
A cor foi descoberta nas prospecções das paredes internas do teatro, o que sugere que ela tenha sido utilizada na fachada durante o processo de construção do prédio.
“Veio a calhar por ser uma cor muito atual, apesar de muito antiga. Essas surpresas do restauro são sempre muito gratificantes, estamos recebendo um feedback muito positivo. Era provavelmente a cor original, porque era a mais antiga encontrada nas paredes, então é provavelmente a primeira cor”, disse.
Processo de restauro
Erika explica que o restauro já está 80% concluído, faltam agora pequenos ajustes, como finalização do restauro dos adornos da fachada, pintura e iluminação externa. A parte da obra civil na área interna já está 100% completa.
O restauro é feito por meio da Lei Rouanet e com patrocínio da EDP e do Banco Nacional do Desenvolvimento (BNDES). A reabertura ocorre em dezembro deste ano.
Segundo Erika, a participação do Conselho Estadual de Cultura é fundamental para o processo, uma vez que é ele quem aprova todo o processo e fiscaliza a execução do projeto.
“Ele possui uma equipe técnica que faz o acompanhamento e as aprovações para que possamos executar. Muito importante pois esse conselho é o responsável para a conservação dos monumentos”, afirmou.
Ainda de acordo com ela, o restauro é essencial, não apenas pelas intervenções arquitetônicas, mas pelo cuidado histórico, artístico e afetivo que o teatro representa para Vitória e o Espírito Santo.
Eu acho que resgatamos a memória afetiva do Centro, da Praça Costa Pereira, o glamour daquele local. O capixaba tem uma memória afetiva muito forte com o teatro. Foi palco de grandes apresentações, a história do balé está ligada ao teatro, assim como a música. Hoje a abertura dele, restaurado dentro do mais original possível, e trazendo as tecnologias para o uso atual, é muito importante. Abrimos o retorno do palco cultural, memória afetiva do nosso Estado, além da memória artística do monumento.