Entretenimento e Cultura

Thriller não convencional privilegia os olhares

Thriller não convencional privilegia os olhares Thriller não convencional privilegia os olhares Thriller não convencional privilegia os olhares Thriller não convencional privilegia os olhares

São Paulo – Em que momento Atom Egoyan parou de interessar aos críticos? Pois a verdade é que ele parou. Nos anos 19990, de forma quase consecutiva, em 1994 e 1997, ele ganhou o prêmio da crítica – da Federação Internacional da Imprensa Cinematográfica, Fipresci – no Festival de Cannes, com Exótica e O Doce Amanhã.

Seus novos filmes mal interessam à crítica, que antes o idolatrava. Arauto da (pós) modernidade, ele desconstruiu gêneros e os limites da alta e da baixa cultura, mas hoje é acusado de fazer thrillers convencionais.

Ele se defende que À Procura não é nem um thriller. E, se for, é um thriller bizarro. O filme conta a história de um pai cuja filha foi abduzida. Sua vida entra em colapso. A polícia desconfia dele, a mulher afasta-se. Os anos passam e nós, o público, sabemos que a menina está viva e é usada por seu sequestrador para atrair outras garotas na rede. O próprio sequestrador é bem visto na comunidade, conhece o pai e, cúmulo do sadismo, lhe concede ver a filha, mas sob certas condições que sejam seguras para ele – o criminoso.

Se há um suspense em À Procura, não é o tradicional. Quem sequestrou, onde ela (a garota) está? A tortura é outra – mental -, exercida sobre o pai e a menina. As ferramentas são outras – de busca, na internet. O computador, como instrumento de busca, baseia-se na mente humana, no cérebro que estabelece combinações e seleciona dados. Egoyan sabe disso. O pai vira obsessivo, claro. Não desiste da busca. Atom Egoyan pode ter sido abandonado pela maioria da crítica, mas é bom não desistirmos dele.

Segue sendo um autor crítico da linguagem e do mundo. E um bom diretor de atores. Egoyan queixa-se que o filme que deveria obter reconhecimento para o extraordinário ator que ele acha (sabe) que Ryan Reynolds é, não obteve o efeito desejado. Mas é que Reynolds tem aquela cara de bebezão, um jeito torto de olhar que agrada às mulheres nas comédias românticas. O olhar de dor vira raiva de bicho prestes a explodir. Rosario Dawson como a policial tem de selecionar seu olhar, saber ver. A menina vira mulher e é vigiada o tempo todo. Se há um tema nessa história de família destroçada é o olhar. E o cinema, dizia Nicholas Ray, é melodia do olhar. As informações são do jornal O Estado de S. Paulo.