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Tradicional maratona de cinema terá menos filmes, mas bilhetes mais baratos

Tradicional maratona de cinema terá menos filmes, mas bilhetes mais baratos Tradicional maratona de cinema terá menos filmes, mas bilhetes mais baratos Tradicional maratona de cinema terá menos filmes, mas bilhetes mais baratos Tradicional maratona de cinema terá menos filmes, mas bilhetes mais baratos

Certas coisas já haviam sido anunciadas – a 44ª Mostra Internacional de Cinema deverá se realizar de 22 deste mês a 4 de novembro. O pôster deste ano é uma criação do autor chinês Jia Zhangke, cuja obra a Mostra tem sido a principal divulgadora no Brasil. Foi, inclusive, com o selo da exibição que saiu o livro O Mundo de Jia Zhanke, de Jean-Michel Frodon, coorganizado por Walter Salles, sobre ele e seus filmes. A 44ª Mostra apresenta mais dois – o curta A Visita e o longa Nadando Até o Mar Ficar Azul, apresentado fora de concurso na Berlinale, em fevereiro.

Embora a flexibilização já esteja reabrindo as salas em São Paulo, o evento será predominantemente remoto, com algumas sessões presenciais – no Belas Artes Drive-in e no Cinesesc Drive-in, na unidade Sesc Dom Pedro II. Coordenadora da Mostra, Renata de Almeida, explica: “Uma mostra como a nossa não se produz de um momento para outro. Graças aos patrocinadores que se mantiveram solidários na crise sanitária – Itaú, CPFL, Sesc e Spcine -, conseguimos enfrentar mais esse desafio: fazer um evento a distância. A plataforma exclusiva Mostra Play foi criada pelas mesmas empresas (Festival Scope e Shift72) que viabilizaram o Tribeca Festival, o Festival de Toronto e a seção de mercado de Cannes.” A lista de filmes alcança 197 títulos que poderão ser acessados no site mostra.org. A partir daí, serão direcionados às plataformas. Cada ingresso (ou visualização) custará R$ 6.

“Esse é o novo normal, e estamos nos adaptando aos novos tempos”, reflete Renata. “Veneza fez um festival presencial, mas restringiu muito a participação. O brasileiro da seleção, Narciso em Férias, nem pode ter os diretores Renato Terra e Ricardo Calil no tapete vermelho. Tudo pela segurança!”

Criada por Leon Cakoff em 1977, a Mostra atravessou, e venceu, a censura do regime militar, tornando-se vitrine para a revelação de nomes viscerais do cinema de autor em todo o mundo. O compromisso com a autoralidade está mantido. “Faz parte do DNA da Mostra.” Os quase 200 filmes selecionados são produções, ou coproduções de 71 países – 30 só do Brasil. Espelham a diversidade do cinema mundial. Um quarto deles, em torno de 50, são assinados por mulheres e a Mostra realiza nos dias 29 e 3 o Fórum Nacional Lideranças Femininas no Audiovisual. “Será uma parceria do + Mulheres Lideranças do Audiovisual Brasileiro com a ONU Mulheres Brasil e a Spcine”, destaca Renata.

E ela anuncia as atrações que logo estarão no site: “Dadas as circunstâncias desse ano, não estamos oferecendo pacotes, como é tradição na Mostra. O público pagará por visualização.” De Berlim, virá o vencedor do Urso de Ouro, Não Há Mal Algum, do iraniano Mohammad Rasoulof. O filme conta quatro histórias que entrelaçam moralidade e pena de morte – prepare-se para o choque no final da primeira. Rasoulof está confinado no Irã, como Jafar Panahi. Não pôde participar do festival. Talvez tenha sido um dos mais emocionantes momentos da história da Berlinale – ao agradecer o prêmio, em nome do diretor, o produtor destacou a coragem dos atores. A câmera passeou pelo rosto deles. No telão, dava para ver aquelas pessoas, homens e mulheres, chorando.

De Berlim, a Mostra também apresenta Bem-Vindo à Chechênia, de David France, dos EUA, que ganhou o Urso de Ouro gay de ativismo e o prêmio da Anistia Internacional. O filme aborda as perseguições à comunidade LGBTQ+ na Chechênia. Numa entrevista no Kremlin, o líder Ramzan Kadyrov disse que não existem gays no país e o filme mostra o por quê. Estão matando todos. Por melhores que sejam, não se comparam ao radical Days, de Tsai Ming-liang, que nem o júri oficial nem o da crítica tiveram coragem de premiar. Tsai, o autor da Malásia radicado em Taiwan, e seu muso, Lee Shang-kenbg. Há 30 anos, eles dividem arte e vida. Todo filme de Tsai é sobre Lee. Um filme voluntariamente não legendado. Feito de longos silêncios e sutis movimentos de câmera. A solidão, por dois grandes artistas.

Mais alguns tira-gostos, à espera do grande banquete. A abertura, no dia 22, será no Belas Artes Drive-in com o mexicano Nova Ordem, vencedor do prêmio do júri de Veneza. Ainda tem o diário de confinamento de Ai Weiwei em Wuhan e o curta documentário de Sergei Loznitsa, Une Nuit à l’Opera, sobre as noites gloriosas da Ópera de Paris. A Mostra atribui seu prêmio Humanidade, “por tudo o que eles estão fazendo”, aos funcionários da Cinemateca Brasileira – a instituição atravessa uma crise tremenda. São dois prêmios Humanidade, e o outro irá para o documentarista Frederick Wiseman, cujo City Hall integra a programação. O Prêmio Leon Cakoff irá para a produtora Sara Silveira, uma guerreira em defesa do cinema autoral. E ainda haverá o resgate de Fernando Coni Campos, com três filmes que pertencem à história – Viagem ao Fim do Mundo, Ladrões de Cinema e O Mágico e o Delegado. Que venha a Mostra!

As novidades

– Todos filmes serão exibidos online, além de dois diários no Belas Artes Drive-in (menos às 2ªs) e no Cinesesc Drive-in.

– Os títulos disponibilizados na Mostra Play custarão R$ 6 por visualização.

– Não haverá pacotes de ingressos e os filmes terão número limitado de visualizações: 2 mil.

– A Mostra terá 197 títulos em sua programação.

– Não haverá Central da Mostra, no Conjunto Nacional, mas uma loja virtual venderá os produtos.

Filmes imperdíveis

– Casa de Antiguidades, de João Paulo Miranda, um dos 30 brasileiros, selecionado por Cannes.

– Days, de Tsai Ming-liang, destaque de Berlim, a solidão humana.

– Gênero, Pan, de Lav Diaz, autor dos filmes longuíssimos necessita de apenas 2h30 para falar da ligação entre homens e animais.

– Não Há Mal Algum, de Mohammad Rasoulof, a pena de morte em quatro histórias.

– Notturno, de Gianfranco Rosi, a dor humana em áreas de guerra e violência extrema.

As informações são do jornal O Estado de S. Paulo.