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Tradutora de ‘Grande Sertão’ terá apoio

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São Paulo – A saga da tradutora Alison Entrekin – australiana radicada em Santos – para verter ao inglês e publicar Grande Sertão: Veredas atinge agora um novo patamar: o Itaú Cultural vai anunciar o patrocínio do projeto por três anos. Uma das tradutoras mais populares quando o assunto é literatura brasileira contemporânea em inglês – ela já trabalhou com obras de Paulo Lins, Cristovão Tezza e Clarice Lispector -, ela estava há mais de um ano buscando apoio financeiro para a empreitada, nada fácil levando em conta a densidade e a riqueza do texto.

Duas editoras já manifestaram interesse: a Alfred A. Knopf, de Nova York (que publicou uma contestada tradução do livro, em 1963), e a Harvill Secker, de Londres, do grupo Penguin Random House. “Quero que o leitor do inglês seja seduzido pelas palavras e que consiga projetar um livro imaginário, porque a transposição regional é uma das impossibilidades da tradução”, explica Alison – o livro se passa num sertão meio real (entre Minas Gerais e Bahia), meio imaginado. “A salvação da pátria é o neologismo. O brasileiro lê e não sabe bem se as palavras e expressões são coisas reais ou se foram criações. Vou tentar recriar esse enigma em inglês.”

O anúncio do apoio – que envolve outras contrapartidas da tradutora, que envolve atividades e outros conteúdos – será feito nesta quarta-feira, 9, na primeira mesa do seminário Conexões – que ocorre este ano ao mesmo tempo em que o Encontros de Interrogação. Os dois eventos, que vão até o dia 11 na sede do Itaú Cultural (Av. Paulista, 149), têm mesas e painéis que vão discutir literatura contemporânea, suas relações com a política e com o momento atual do Brasil, tradução e estética (programação completa no portal do Estado).

Alison divulgou em julho um primeiro estudo da tradução – que ela assegura que ainda vai ser modificado.

O original

“- Nonada. Tiros que o senhor ouviu foram de briga de homem não, Deus esteja. Alvejei mira em árvores no quintal, no baixo do córrego. Por meu acerto. Todo dia isso faço, gosto; desde mal em minha mocidade. Daí, vieram me chamar. Causa dum bezerro: um bezerro branco, erroso, os olhos de nem ser – se viu -; e com máscara de cachorro. Me disseram; eu não quis avistar. Mesmo que, por defeito como nasceu, arrebitado de beiços, esse figurava rindo feito pessoa. Cara de gente, cara de cão: determinaram – era o demo. Povo prascóvio. Mataram.”

Em inglês

“- Nonought. Shots you heard weren’t a shootout, God be. I was training sights on trees in the backyard, at the bottom of the creek. Keeps my aim good. Do it every day, I enjoy it; have since the tendrest age. Anyhow, folks came a calling. Bout a calf: white one, strayling, eyes like no thing ever seen and a dog’s mask. They told me; I didn’t want to see. Seems it was defective from birth, lips curled back, and looked to be laughing, person-like. Human face, hound face: they decided-it was the devil. Oafenine bunch. They killed it.”

As informações são do jornal O Estado de S. Paulo.