Professor e historiador Marcus Vinícius Sant'ana, caminha Guia Negro Centro de Vitória
Caminhada no Dia da Consciência Negra destaca história negra em monumentos do Centro de Vitória. Foto: Thaís Gobbo/Divulgação

Nesta quinta-feira (20) é celebrado o Dia da Consciência Negra, data dedicada a homenagear a história da população negra no Brasil e a luta contra a escravidão e o racismo no país. Para isso, uma caminhada pelo Centro de Vitória mostra monumentos históricos do povo preto no Espírito Santo e explica seus significados.

Como forma de valorizar a história da população preta no Estado, o professor e historiador Marcus Vinícius Sant’Ana coordena a caminhada de cerca de 3 horas pelo Centro. O grupo sai às 9h30, na Igreja de Nossa Senhora do Rosário dos Negros, e termina no Museu Capixaba do Negro (Mucane) por volta de 12h.

A “Caminhada Vitória Negra” é uma iniciativa nacional, criada pelo Guia Negro, sendo realizada em todas as capitais do Brasil. Marcus Vinicius é o representante em Vitória e já organiza o evento há quatro anos. Para ele, ações como essa reforçam a história do povo negro para a população.

É uma caminhada voltada para a educação racial, para contar a história do povo negro no Brasil, que sofre de apagamento.”

Marcus Vinícius Sant’ana, professor e historiador

A caminhada é realizada desde 2021, sempre no Dia da Consciência Negra, mas também pode ocorrer em outras datas esporádicas. Para esta quinta (20), todas as 30 vagas já foram preenchidas.

Conheça alguns monumentos da caminhada

O tour pela história da população negra capixaba passa por diversos monumentos importantes no Centro de Vitória, guiado pelo professor Marcus Vinicius. Veja o que significam alguns deles:

Igreja Nossa Senhora do Rosário dos Negros

Foto: Divulgação/IPHAN

A igreja foi construída no século XVIII por negros escravizados e libertos da Irmandade de Nossa Senhora do Rosário dos Pretos, com o objetivo de venerar a padroeira dos negros. Foram dois anos até a conclusão da igreja, em 1767.

De acordo com Marcus Vinícius, o templo é voltado para a população negra e uma referência para o povo preto capixaba. No local, foi feita a “Casa Leilão”, onde se arrecadava fundos para a compra de alforria de escravos. Ao lado da igreja, um cemitério também foi criado para enterrar os negros, que não eram aceitos em cemitérios públicos na época.

Unidos da Piedade

Thiago Soares/Folha Vitória

A caminhada passa pela sede da Unidos da Piedade, a primeira escola de samba fundada no Espírito Santo, criada ainda na década de 1950 e 14 vezes campeã do Carnaval de Vitória.

Marcus Vinícius destaca que a escola surgiu com forte carga racial e serve de acessibilidade e manifestação para as pessoas pretas no carnaval e também no restante do ano, com a realização de festas e ações sociais.

Estátua de Dona Domingas

Dona Domingas – Foto: Thiago Soares/Folha Vitória

Dona Domingas é a única mulher negra a ter escultura pública no Espírito Santo. O monumento fica localizado em frente ao Palácio Anchieta.

A estátua retrata a mulher caminhando pelas ruas de Vitória com as costas encurvadas e carregando uma sacola cheia apoiada no tronco. Ela era catadora de materiais para revenda.

Dona Domingas nasceu na época da escravidão e morreu em 1966. Estima-se que tenha vivido mais de 100 anos.

Museu Capixaba do Negro

Foto: Flávio Almeida/Prefeitura de Vitória

O Mucane, criado na década de 1980, é o último ponto da caminhada pelo Centro de Vitória. O local foi o primeiro museu dedicado à história do povo preto do Brasil.

Segundo Marcus Vinícius, o museu centraliza as ações da população negra capixaba, onde são expostas obras, atividades culturais e histórias do povo preto no Espírito Santo.

A Prefeitura de Vitória destaca que “o Mucane não é um Museu ‘da escravidão’, pois não é um espaço que se dedica ao resgate da memória de sofrimento e desumanização do negro brasileiro, mas, sim de suas potências, de sua arte e manifestações culturais”.

Enzo Bicalho, estagiário do Folha Vitória
Enzo Bicalho Assis

Repórter

Jornalista formado pela Universidade Federal do Espírito Santo (Ufes). Foi estagiário do Folha Vitória entre novembro de 2024 e outubro de 2025 e é repórter desde novembro de 2025.

Jornalista formado pela Universidade Federal do Espírito Santo (Ufes). Foi estagiário do Folha Vitória entre novembro de 2024 e outubro de 2025 e é repórter desde novembro de 2025.