Cachoeira Casca D'Anta tem 186 metros de altura, a maior queda do Rio São Francisco (Foto: Maeli Radis/Folha Vitória)
Cachoeira Casca D'Anta tem 186 metros de altura, a maior queda do Rio São Francisco (Foto: Maeli Radis/Folha Vitória)

Subidas e descidas. O vento gelado bagunçando meu cabelo, o céu de um azul intenso, e as montanhas vestidas de verde escuro — meu tom preferido de verde. Árvores pequenas se espalham pela vegetação nativa do cerrado diante do paredão imenso que os nativos chamam de “baú”. A Serra da Canastra é, sem dúvidas, a coisa mais impressionante que já vi com meus próprios olhos.

São seis os municípios de Minas Gerais que formam a Serra: Vargem Bonita, São Roque de Minas, Sacramento, São João Batista do Glória, Capitólio e Delfinópolis. O local é conhecido pelas paisagens deslumbrantes e pelo turismo de aventura: rapel, trilhas, travessias, balonismo, voo de parapente e camping.

“Para conhecer tudo com calma”, disse nosso guia, Fernando Scalon, “o ideal é passar cinco dias passeando pelas quatro portarias que compõem o parque nacional”. Nosso roteiro, no entanto, se ateve à nascente histórica do Rio São Francisco e à impressionante queda da Cachoeira Casca D’Anta.

Para chegar até lá, passamos pela Portaria 1, localizada em São Roque de Minas. Todo o território se divide em quatro portarias, com entradas em Sacramento e São João Batista da Canastra. Há rotas que conectam os principais atrativos, ideais para quem busca explorar o parque por completo.

Estrada para o rio São Francisco (Foto: Maeli Radis/Folha Vitória)

O velho Chico foi “descoberto” em 1501 e sua nascente geográfica fica, na verdade, no município de Medeiros, em Minas Gerais. O rio não brota do nada, como um gêiser de desenho animado. Ao contrário, forma diversas poças pelo território até se reunir na bacia. Apesar disso, ficou decidido que a nascente histórica se concentraria ali, na Serra da Canastra, onde há uma pequena concentração de água e a estátua do santo.

Reza a lenda que, nas noites de lua cheia, o santo desce até o parque. Coleta arnica, carqueja e macela para curar os animais doentes. Quando o dia amanhece, abençoa o rio e sobe aos céus. Dizem também que quem se banha nas águas do velho Chico nunca mais se afasta de Minas. Talvez seja por isso que, mesmo de longe, ainda sinto saudade.

Nascente histórica do Rio São Francisco (Foto: Daniela Maciel)

Antes de seguir até a cachoeira, paramos no Restaurante da Sueli. No meu prato, macarrão com carne moída, igualzinho ao que minha tia mineira fazia. E, embora eu tenha provado inúmeras delícias durante os dias em terras mineiras, foi esse sabor que ficou comigo.

Calmaria feroz da cachoeira Casca D’Anta

Para acessar a cachoeira, seguimos pela parte baixa, entrando pela Portaria 4. A trilha leva cerca de 30 minutos, e é possível escolher entre o caminho pela estrada ou o “rústico”, que corta a mata. Medrosa que sou, fiquei com a estrada.

Passarinhos cantando, o som dos cascalhos sob os pés e, ao fundo, o murmúrio da água, essa é a trilha do caminho. De vez em quando, a cachoeira surge entre as árvores e rouba o fôlego, mas nada me preparou para encará-la de frente, magnífica. É difícil descrever o sentimento.

Veja bem, eu não vi tanto do mundo quanto gostaria, mas do que já vi, nada se compara à grandiosidade da Casca D’Anta.

A maior queda do Rio São Francisco tem 186 metros de altura. A água é absolutamente gelada e carrega uma calma inexplicável. Mesmo agora, quase um mês depois, ainda a sinto na pele e no coração. Ainda consigo ouvir o som da queda, feroz, inabalável.

Há tanto para ver, provar, sentir e vislumbrar na Serra da Canastra. E eu certamente voltarei, não por causa da lenda de São Francisco, mas porque certas paisagens não nos deixam partir por completo.

*A jornalista viajou a convite do Governo de Minas Gerais, por meio da Secretaria de Estado de Cultura e Turismo.

Maeli Rhayra, editora de entretenimento do Folha Vitória
Maeli Radis

Editora de Entretenimento e Cultura

Editora de Entretenimento e Cultura do Folha Vitória. Formada em jornalismo pela Universidade Federal do Espírito Santo (Ufes).

Editora de Entretenimento e Cultura do Folha Vitória. Formada em jornalismo pela Universidade Federal do Espírito Santo (Ufes).