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Um percurso autoral, no qual ideias filosóficas predominam

Um percurso autoral, no qual ideias filosóficas predominam Um percurso autoral, no qual ideias filosóficas predominam Um percurso autoral, no qual ideias filosóficas predominam Um percurso autoral, no qual ideias filosóficas predominam

São Paulo – É uma obra limitada, em termos de números. Tirando um ou outro curta, a obra de Terrence Malick (1943) resume-se a oito longas-metragens. Há grandes intervalos entre um e outro, embora, nos últimos tempos, Malick venha acelerando sua produção. “Acelerando” em seus termos, claro. O homem não tem pressa.

Tendo se formado em filosofia, impregna sua obra de reflexões, justo sobre o tempo, o sentido das coisas e questões éticas. O que não o torna lá muito palatável para uma indústria voltada quase única e exclusivamente para o entretenimento de consumo rápido.

No entanto, pela formação, Malick parece situar-se numa zona mista. A filosofia o habilita à especulação, mas o trabalho como repórter de várias publicações (entre elas a revista The New Yorker) o coloca com os pés bem firmados no chão. Aplicada ao cinema, essa duplicidade faz com que parta do real e, daí, busque o sentido de tudo, ou a sua falta.

De Terra de Ninguém (1973) a De Canção em Canção (2017), Malick percorreu caminho próprio e explorou seus temas preferidos com crescente sentido autoral – o que significa a luta pela linguagem própria. Dessa forma, fez Além da Linha Vermelha (1998), filme de guerra pouco usual, em que a meditação se sobrepõe à ação, vencendo o Festival de Berlim. O mesmo se pode dizer da originalidade de O Novo Mundo (2005), sua visão da história da conquista da Virginia e do contato dos exploradores com os nativos.

Um ponto de chegada, talvez sua obra síntese, A Árvore da Vida (2011) lhe valeu a Palma de Ouro em Cannes. Através da história de uma família em Waco, Texas, na década de 1950, Malick esboça um paralelo com a vida cotidiana e vai além, buscando o sentido humano, das origens e do seu destino. Tamanha ambição teria derrotado artista menos dotado, mas o filme é maravilhoso e profundo.

Na comparação com a Árvore da Vida, o trabalho seguinte, Amor Pleno (2012), poderia ser visto como um tanto decepcionante. Numa história que mescla amor divino e amor profano, Malick parece apenas tirar algumas consequências do longa anterior. Mesmo assim, é tudo menos banal. Suas ideias são ricas, as cenas intensas e o todo faz pensar. E sentir.

No contexto da obra, De Canção em Canção, apesar de seu brilho, parece um filme de passagem, com o qual Malick prepara um salto maior. Já tem um inédito em pós-produção, Radegund, história de um objetor de consciência austríaco que se nega a lutar pelos nazistas na 2ª Guerra Mundial.

As informações são do jornal O Estado de S. Paulo.