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"Walesa" mostra história política na Polônia

“Walesa” mostra história política na Polônia “Walesa” mostra história política na Polônia “Walesa” mostra história política na Polônia “Walesa” mostra história política na Polônia

São Paulo – O veterano Andrezej Wajda dá à sua cinebiografia de Lech Walesa o tom de uma hagiografia. Uma santificação deste que, de fato, foi um dos grandes personagens do desfecho do século 20. Walesa, líder do sindicato Solidariedade, comandou a resistência ao stalinismo na Polônia, derrotou-o, ganhou o Prêmio Nobel da Paz, foi eleito presidente e comandou o país em sua primeira fase pós-comunista. Não fez tudo sozinho, é claro. Mas sua atuação foi vital no processo.

Para contar a história do líder, Walesa serve-se de um expediente jornalístico: a entrevista que ele concede à jornalista italiana Oriana Fallacci. Oriana (1930-2006) era também uma personalidade em sua área, que hoje chamaríamos de “jornalista-celebridade”, aquele que não apenas busca notícias, mas é ele próprio a notícia. Oriana era famosa por suas entrevistas com homens poderosos e chefes de Estado plenipotenciários – entrevistou Muamar Khadafi, por exemplo. No filme, o encontro entre Walesa e Oriana (interpretada por Maria Rosario Omaggio) parece uma bela briga de personalidades fortes.

Logo no primeiro encontro, Walesa (vivido por Robert Wieckiewicz) acusa a repórter de autoritária, pelas perguntas agressivas. Depois indaga se ela o achava presunçoso. “Não, por que acharia isso?”, responde Oriana, ela própria dona de ego tamanho-família e que por isso não estranha a empáfia dos seus entrevistados.

Com esse dispositivo montado, Wajda vai contando a história com a desenvoltura que lhe é peculiar. E, hagiográfico ou não, o retrato de Walesa é encantador. Até por pequenos detalhes, que expressam o sentimento trágico da vida. Na primeira vez em que é detido, Walesa deixa o relógio e o anel em cima da mesa e diz à mulher: “Se eu não voltar, venda-os para comprar comida”. O ritual se repetirá a cada vez que a polícia política for buscá-lo. Mesmo quando, já internacionalmente conhecido, a possibilidade de “não voltar” sendo mínima, o anel e o relógio ficarão sempre sobre a mesa, a cada nova prisão.

Walesa é pintado como líder nato de massas, capaz de comover os trabalhadores sem qualquer sentimentalismo ou apelo demagógico. Falava a verdade. Convencia. Era também anti-intelectual. Gabava-se de jamais ter lido um livro. Quando termina a última sessão de entrevistas com Oriana, lhe pede que, caso ela escreva um livro sobre aquela série de encontros, que lhe seja enviado. “Vai ser o primeiro que vou ler da primeira à última página.”

Um pouco de contradição tornaria essa figura ainda mais fascinante. Mas Wajda prefere pintá-la de modo unilateral, sem qualquer mácula. Mesmo assim, vale. As informações são do jornal O Estado de S. Paulo.