
Ela poderia passar despercebida em uma trilha no mato, confundida com qualquer outra folha verde. Mas quem encosta na Gympie-Gympie raramente esquece da experiência. Nativa das florestas tropicais da Austrália, essa planta aparentemente inofensiva guarda um segredo terrível: seu toque pode causar dores lancinantes que duram por meses. E não é exagero. Casos reais documentam pessoas com sintomas por até 9 meses — e em alguns relatos, a dor foi comparada à de queimaduras graves ou choques elétricos.
Gympie-Gympie: conheça a planta mais temida da Austrália
A Dendrocnide moroides, mais conhecida como Gympie-Gympie, é uma urtiga gigante que cresce em áreas tropicais úmidas do nordeste de Queensland. Ela pertence à família das Urticaceae, a mesma das urtigas comuns, mas sua ação é incomparavelmente mais agressiva.
A aparência é enganadora: folhas grandes, em formato de coração, com bordas serrilhadas e textura aveludada. Mas escondidos por toda a planta — inclusive nas folhas, caules e frutas — estão milhões de pelos finíssimos e ocos, que funcionam como agulhas. Ao menor contato, esses pelos injetam uma potente neurotoxina que se fixa nos nervos e provoca uma dor que desafia analgésicos comuns.
O que acontece com o corpo após o contato com a Gympie-Gympie
Os efeitos da toxina são imediatos: ardência intensa, vermelhidão e sensação de queimação no local do toque. Mas o pior vem depois. Em questão de minutos, a dor se espalha para os gânglios linfáticos, gerando um desconforto profundo que pode levar a vômitos, delírios e até perda de consciência. Segundo cientistas australianos, a toxina ativa canais de dor nos nervos que continuam disparando sinais mesmo sem estímulo físico — como se o corpo fosse enganado e mantido em estado de alerta constante.
Há relatos de cavalos que entraram em pânico após encostar na planta e precisaram ser sacrificados, tamanha a dor e o sofrimento. Um ex-oficial do exército, ao manusear uma folha da planta durante uma caminhada, descreveu a dor como “alguém tentando apagar um cigarro na minha pele”.
Por que a dor dura tanto tempo?
Os pelos da planta não apenas injetam a toxina, mas também se quebram e permanecem presos na pele, liberando pequenas quantidades da substância por semanas. Além disso, a toxina é incrivelmente estável, resistindo até mesmo à fervura, o que dificulta sua neutralização. Só recentemente pesquisadores conseguiram decifrar parte da estrutura molecular desse veneno, o que abre caminho para o desenvolvimento de tratamentos mais eficazes.
Até lá, os cuidados incluem a remoção dos pelos com cera quente (semelhante à depilação), compressas com ácido clorídrico diluído (usado por profissionais) e repouso com medicação forte. Mesmo assim, a recuperação pode ser longa e dolorosa.
O risco invisível: onde ela cresce e como se proteger
A Gympie-Gympie cresce em áreas de floresta densa e sombreadas, especialmente após desmatamentos e queimadas. Ela se beneficia do solo úmido e da abundância de luz indireta. Por isso, trilheiros, fazendeiros e trabalhadores florestais na Austrália são treinados para reconhecer suas folhas e evitá-las a todo custo.
Sinalizações são instaladas em áreas de risco, e há até kits de primeiros socorros específicos para casos de contato com a planta. Curiosamente, algumas aves e insetos parecem imunes aos efeitos da toxina e usam a planta como abrigo.
Há alguma utilidade para a Gympie-Gympie?
Apesar de sua fama temida, cientistas estudam a planta por seu potencial biomédico. A toxina contém moléculas que interagem com receptores específicos do sistema nervoso, e isso pode abrir portas para novos analgésicos ou tratamentos para dores crônicas. O paradoxo da natureza: o que causa uma dor extrema pode também nos ensinar como bloqueá-la.
A planta não é um monstro mítico ou exagero da mídia. Ela está lá, crescendo em silêncio, esperando um desavisado que confunda suas folhas com algo inofensivo. E é esse contraste entre a aparência frágil e o potencial destrutivo que mais impressiona.