Especial Dia das Mães

"Agarrei a oportunidade": mãe solo muda de vida e vira eletricista após curso

Rayza Rodrigues alugava pula-pula quando resolveu estudar para ser eletricista e entrar em uma área dominada por homens

Foto: Divulgação/EDP
Foto: Divulgação/EDP

A eletricista Rayza Rodrigues, de 27 anos, divide seu tempo entre a maternidade solo e o emprego, dominado majoritariamente por homens. Ela se reinventou após a pandemia, quando, vendo uma oportunidade de melhorar sua renda, participou da escola de eletricista só para mulheres.

Rayza contou sua história de luta e persistência. Antes de se tornar eletricista, a mulher trabalhou montando pula-pula na pracinha próxima de sua casa, na Grande São Pedro, em Vitória, e alugando o brinquedo em alguns fins de semana.

LEIA TAMBÉM:

Em 2021, ela terminou o curso de eletricista e depois trabalhou um tempo como terceirizada na empresa de energia do Espírito Santo, EDP. Em 2022, ela prestou processo seletivo para a mesma companhia, foi aprovada e segue trabalhando lá até hoje.

Nascimento da filha

Com 17 anos, em 2015, Rayza começou a faculdade de Educação Física, porém alguns anos depois, ela engravidou, por isso trancou o curso para poder cuidar da filha, Laura Gabrielle.

Na época, ela e o pai da criança estavam em um relacionamento, mas, um tempo depois, eles se separaram. Hoje, com 7 anos, Laura Gabrielle não tem mais contato com o pai, apenas com a avó paterna.

A filha de Rayza, entretanto, parece entender muito bem a situação. “Ela entende que ele se afastou, mas que em alguma hora ele volta”, explicou a eletricista.

Ela também contou sobre os desafios que a maternidade trouxe: “No início pensei: e agora, como é que vai ser? O que eu vou fazer? Quero dar o melhor para ela.”

Nos primeiros anos de sua filha, Rayza ficava em casa, para dar os cuidados necessários à filha. Morando com a mãe, Mara Lúcia, de 51 anos, e com o padrasto, Paulo Sérgio, de 49, ela sempre teve uma rede de apoio, mas com o início da pandemia de Covid-19, as coisas mudaram e a família inteira passou a ficar em casa. Então, Rayza teve que inovar.

Pula-pula na pracinha

Laura Gabrielle sempre pedia para a mãe um pula-pula e, antes mesmo de pensar em tirar uma renda daí, Rayza incentivou a filha a economizar para comprar o tão desejado brinquedo.

A filha juntou seu dinheiro e conseguiu colaborar com R$ 300,00, que somados ao valor dado por Rayza, foram utilizados para comprar um pula-pula.

No meio das dificuldades da pandemia, Rayza inovou e começou a montar o pula-pula na pracinha próxima de sua casa, fazendo sua renda. Ela também alugava o brinquedo aos fins de semana.

Fui me virando também, colocando pula-pula na rua, essas coisas. Foi bem puxado em alguns pontos. Mas foi aquele desafio para poder crescer mais.

Nessa época, ela já tinha se inscrito no curso de eletricista para mulheres, porém com a crise de saúde mundial, a capacitação foi cancelada e ela acreditava que o curso não retornaria.

Foto: Divulgação/EDP
Curso de eletricistas só para mulheres

Já em 2021, a eletricista recebeu um e-mail avisando da sua aprovação na escola de eletricista só para mulheres. Ela disse que, no primeiro momento, achou até que fosse mentira, porém quando foi ao local, viu que era real.

“Participei do processo seletivo inteiro. Foram três meses participando da escola de eletricista. Por isso, abandonei o trabalho de pula-pula nas pracinhas e aluguel do brinquedo nos fins de semana”, contou Rayza.

Ela revelou que viu no processo uma forma de melhorar de vida.

Vi uma oportunidade de crescimento profissional, para me qualificar. E também para dar um futuro melhor para a minha filha, uma qualidade de vida melhor para ela, um estudo melhor. Agarrei essa oportunidade e estou aqui até hoje, explicou a eletricista.

Outro fato interessante que Rayza compartilhou sobre o curso é que a maioria das mulheres que estavam participando eram mães, algumas mães solos. Porém, na hora de prestar o concurso para a EDP, o número de mulheres reduzia drasticamente.

Só que essa não foi a realidade de Rayza. Ela utilizou o curso para inovar e trabalhar em uma área completamente diferente e deu certo: ela já trabalha há dois anos na EDP.

Trabalho como eletricista

Depois do fim do curso, Rayza trabalhou como terceirizada na EDP e, em 2022, passou por um processo seletivo e entrou na empresa, na base de Alto Laje, em Cariacica.

O processo foi longo, passando por dinâmicas e entrevistas com gestores. Essa fase também foi intimidadora para Rayza. “Você vê mais homens, que já estão nessa área, que já sabem lidar, que dominam. Foi intimidador. Depois de conseguir passar, fiquei muito surpresa e feliz”, explicou a eletricista.

Foto: Divulgação/EDP

Rayza também compartilhou o orgulho de sua filha, Laura Gabrielle, da profissão da mãe: “Ela sempre fala com todos: minha mãe leva energia para a casa dos outros”.

Além disso, ela diz que não recebe apoio só da família agora, mas também dos colegas de trabalho. Eles a apoiam para ela conseguir participar da vida da filha, como em projetos escolares e consultas médicas.

Rayza trabalha na área de instalação elétrica, uma área dominada majoritariamente por homens.

No início foi desafiador estar nesse ambiente cheio de homens, mas depois fomos nos conhecendo, hoje em dia, os meninos me apoiam, me ajudam bastante. Aqui na base de Alto Laje, eu sou a única mulher, mas na prestadora tem mais.

Rotina como mãe

Apesar do apoio da família e da empresa em que trabalha, ela também conta que ao chegar em casa, os deveres de mãe solo ainda são desafiadores: “É um segundo trabalho.”

A rotina é cansativa, pois ao chegar em casa muitas funções ainda devem ser feitas, como a lição de casa com a filha e tarefas domésticas. Apesar da rotina corrida e cansativa, ela mostrou que sempre tenta realizar alguma atividade de lazer com a filha, como ir à sorveteria e ao cinema.

Normalmente, nos fins de semana, fazemos atividades só nós duas, vamos para a sorveteria, que ela gosta muito. Ou quando lança algum filme que ela gosta, a gente vai ao cinema. Vamos para a pracinha também.

Ana Piontkowski *

Estagiária

Graduanda em jornalismo pela Universidade Federal do Espírito Santo (Ufes) e estagiária do Jornal Folha Vitória.

Graduanda em jornalismo pela Universidade Federal do Espírito Santo (Ufes) e estagiária do Jornal Folha Vitória.