
Em todo canto do Brasil sempre há alguém com uma xícara de café na mão. Resultado de um cultivo tradicional, a bebida é uma paixão nacional e, por isso, tem até um dia em sua homenagem.
O Dia Nacional do Café, comemorado em 24 de maio, representa o período em que se inicia a colheita nas principais regiões produtoras do país.
De grande impacto na economia, o café também tem papel fundamental na vida dos agricultores que se dedicam ao cultivo do grão. Tanto é que, na região do Caparaó, o legado é passado de geração a geração, o que contribui para a qualidade da produção local.
Café geracional
A família Lacerda, produtora de café em Dores do Rio Preto (ES) e em Espera Feliz (MG), está na quarta geração que se dedica ao cultivo do grão. Hoje quem comanda o negócio é José Alexandre Lacerda e o filho dele, João Vitor, de 22 anos, segue os passos.
Mas tudo começou com o avô de José, que passou os conhecimentos para o pai dele, Onofre Alves de Lacerda, hoje com 80 anos. Logo quando começou no ramo, Onofre percebeu a possibilidade de produzir cafés especiais, que apresentam padrão de qualidade superior ao dos tradicionais.
Foi com base nesse cultivo que a família se sustentou ao longo dos anos, mesmo em períodos de crise, como conta José: “Nesses longos anos, vimos e vivenciamos alguns períodos de crise na cafeicultura e, para garantir a manutenção e o sustento da nossa família, precisamos intercalar a nossa atividade principal com o cultivo de outros produtos, como batata, milho, cebola e feijão”.
A insistência na produção fez o negócio crescer e, hoje, a família tem uma grande variedade de cafés, como Caparaó Amarelo, Catuaí Vermelho, Gueixa e outros produzidos por meio de processos variados, como o fermentado, o natural e o cereja descascado.
“Dentro dessa multiplicidade de opções, conseguimos produzir opções diferentes para atingir mercados distintos. É uma grande responsabilidade entender o que foi iniciado pelo nosso pai, que é trabalhar na qualidade dos nossos cafés, e entregar essa qualidade na mesa das pessoas. E, felizmente, também temos conseguido transmitir isso para os nossos filhos”, celebra José.
Vencedor do segundo lugar no Coffee of the Year – concurso voltado para produtores de todas as regiões do Brasil -, João Vitor busca agregar inovação e tecnologia à tradição familiar para desenvolver melhorias aos produtos.
Para José, a continuidade do legado é motivo de satisfação, orgulho, e representa o mais importante do café: a união da família no campo.
É uma alegria muito grande perceber que o que a nossa família começou há muitos anos é uma realidade e que hoje vivemos disso, conseguindo transmitir essa tradição não só para os nossos filhos, mas também para as pessoas que convivem conosco no dia a dia. Ver o meu filho tomando a decisão de se manter no campo, de se aprofundar mais no aprendizado da cafeicultura e de ser premiado pelo trabalho que realiza é motivo de muito orgulho.
Produção familiar
A família Protazio começou há mais de 8 décadas no ramo do café com o patriarca José Marques de Abreu Neto.
Hoje, Manoel Protazio, a esposa dele, filhos, genros, noras e netos mantém viva a tradição nas terras que se estendem do Espírito Santo a Minas Gerais.
A uma altitude de 1.200 metros, os Protazio encontram na lavoura vizinha do Parque Nacional do Caparaó as condições climáticas ideais para a produção de cafés especiais.
Desde 2010, quando adquiriram o descascador comunitário, a família tem se destacado no Brasil e ganhado prêmios que confirmam a qualidade do produto. Para Manoel, a rápida ascensão é uma surpresa, mas também uma satisfação.
“A cafeicultura vem passando de geração em geração, mantendo viva a tradição da agricultura familiar para atingir o objetivo, que é levar café de qualidade para os nossos consumidores”, conta.
A importância da tradição
A sucessão familiar se mostra relevante para os produtores do Estado porque garante a continuidade da qualidade do produto, explica a analista técnica do Sebrae-ES, Jhenifer Soares.
Segundo ela, antes existia o movimento de saída dos mais jovens do campo e, agora, a lógica é outra:
Os jovens vão para a cidade em busca de conhecimento e de especialização, mas retornam para o campo levando inovação, tecnologia e estratégias modernas de gestão. Isso resulta em um modelo de negócios mais eficiente e sustentável, alinhado às demandas do mercado.
A relevância das regiões cafeicultoras e tradicionais para o Espírito Santo é tanta que o Estado possui três Indicações Geográficas (IGs) para o café: Caparaó para o café arábica, Montanhas do Espírito Santo para o café arábica e Espírito Santo para o café conilon.
“A qualidade do café capixaba é indiscutível e, por isso, é importante ter meios para dar continuidade a essa tradição”, defende Jhenifer Soares.