Economia

Aneel suspende repasse de recursos de fundo para distribuidoras

A próxima transferência seria realizada nesta semana, um total de R$ 420 milhões, mas a diretoria julgou que não havia respaldo no regulamento para a medida

Aneel suspende repasse de recursos de fundo para distribuidoras Aneel suspende repasse de recursos de fundo para distribuidoras Aneel suspende repasse de recursos de fundo para distribuidoras Aneel suspende repasse de recursos de fundo para distribuidoras
Foto: Estadão Conteúdo
Foto: Estadão Conteúdo

A Agência Nacional de Energia Elétrica (Aneel) decidiu suspender repasses milionários de um fundo para as distribuidoras de energia. A próxima transferência seria realizada nesta semana, um total de R$ 420 milhões, mas a diretoria julgou que não havia respaldo no regulamento para a medida. O órgão regulador também vai instaurar um processo de fiscalização para apurar a conduta da Câmara de Comercialização de Energia Elétrica (CCEE) no caso.

O dinheiro está na Conta de Energia de Reserva (Coner), fundo para onde são arrecadados recursos para pagar usinas contratadas em leilões de energia de reserva. A Coner existe desde 2009 e o encargo é pago por consumidores livres e residenciais para financiar a geração de energia por eólicas, biomassa e pequenas centrais hidrelétricas (PCHs).

A energia de reserva é contratada pelo preço de leilão, mas é liquidada pelo preço do mercado à vista (PLD). Quando o PLD está baixo, o consumidor tem que pagar essa diferença, mas quando o PLD está elevado, como nos últimos meses, o consumidor ganha um crédito, que é depositado na Coner e é revertido para as tarifas na data do reajuste tarifário.

Devido à crise financeira do setor elétrico, nos últimos anos, a pedido das distribuidoras, a Aneel autorizou o repasse antecipado do dinheiro da Coner para abater despesas mensais das empresas e, consequentemente, abater os reajustes tarifários futuros.

O último pedido foi apresentado em setembro do ano passado, pela Associação Brasileira de Distribuidores de Energia Elétrica (Aneel). A Aneel julgou a solicitação em outubro e autorizou o repasse de R$ 1,124 bilhão. Em 2014, os repasses também foram realizados.

Nos dois últimos meses, as distribuidoras receberam um repasse de R$ 613 milhões e, em seguida, outro de R$ 517 milhões. Porém, a Aneel considerou que as transferências, referentes aos meses de junho e julho, não deveriam ter ocorrido.

“Isso não tem previsão na norma. Naquele momento (2017), a Aneel entendeu que deveria ter feito o repasse. Em paralelo, decidimos abrir audiência pública e entendeu-se que aquilo deveria ser uma regra permanente: toda vez que a Coner alcançasse algum patamar de acúmulo, automaticamente isso seria rateados pelas distribuidoras”, disse o diretor-geral da Aneel, André Pepitone.

“Foi isso que foi submetido à audiência pública. Foi feito um repasse em outubro, mas foram feitos repasses referentes a junho e julho de 2018 sem autorização da Aneel”, acrescentou.

A Associação Brasileira de Distribuidores de Energia Elétrica (Abradee) e a Câmara de Comercialização de Energia Elétrica (CCEE) foram procuradas, mas não se manifestaram.

Segundo Pepitone, para resolver o assunto, a Aneel decidiu abrir audiência pública para tornar a regra de repasses permanente. Se isso for aprovado, as empresas não terão mais que fazer os pedidos todos os anos. Porém, a audiência pública ficará aberta por 10 dias; as contribuições serão analisadas por 5 dias.

Em tese, o relator do processo, diretor Sandoval de Araújo Feitosa Neto, poderia trazer o processo novamente para julgamento daqui três semanas, mas não há prazo para que isso ocorra. Pepitone evitou, no entanto, classificar os repasses já realizados de ilegais.

“Não posso taxar já o repasse de ilegal, mas, digamos assim, não tem autorização da Aneel, disse Pepitone. “Eu diria que o repasse não teve a aprovação da Aneel. Então, foi instaurada também uma medida de fiscalização para avaliar a conduta da CCEE, que não tinha prerrogativa de fazer esse repasse.

Para alguns temas, a Aneel autoriza o vigor da norma mesmo em meio à audiência pública. Foi o que ocorreu na revisão das bandeiras tarifárias, cujo reajuste foi antecipado para outubro de 2017 e aplicado imediatamente. Em situações normais, ele só poderia valer em janeiro do ano seguinte.

Pepitone disse, porém, que a situação agora é diferente, ainda que as distribuidoras tenham apresentado o pleito em razão de dificuldades financeiras. “Isso vale para casos muito extremos. A melhor técnica regulatória observa que, primeiro, se faça o debate com a sociedade, se aprimore o regulamento, para depois aplicá-lo. Casos muito excepcionais, com motivação inequívoca constatada, poderiam ensejar a aplicação do regulamento já paralelo com a abertura da audiência pública. Hoje, com a fundamentação apresentada, não sugeria isso”, disse.

Em setembro, o diretor-geral da Aneel enviou ofício às distribuidoras, que cobrava medidas para conter o agravamento da situação financeira das empresas. Na correspondência, Pepitone mencionou o repasse de recursos excedentes da Coner como uma das formas de mitigar o problema e disse que está ciente do problema do fluxo de caixa das empresas. Ele ainda destacou que as projeções mostravam que a situação das distribuidoras ao fim de 2018 seria melhor que a de 2017 e que qualquer medida adicional de ajuda poderia elevar a judicialização no setor.