Economia

Ano começa com demissões no Estado. Veja como não ser pego de surpresa pelo desemprego

Além da recessão econômica nacional, medidas de ajuste fiscal anunciadas por prefeitos eleitos e reeleitos devem turbinar o fechamento de postos de trabalho no Estado

Ano começa com demissões no Estado. Veja como não ser pego de surpresa pelo desemprego
Apenas em novembro de 2016, Estado perdeu mais de 2 mil vagas de trabalho Foto: Agência Brasil

Apesar de um novo ano ter começado há quatro dias, um velho problema deve continuar a afetar a população capixaba: o desemprego. Além da recessão econômica, outro fator que deve contribuir para a ascendência da curva referente ao fechamento dos postos de trabalho é o ajuste fiscal promovido por prefeitos eleitos e reeleitos.

Boa parte deles, como Audifax Barcelos (REDE), da Serra, já adotou medidas de contenção de despesas logo nos primeiros dias de governo, que visam à redução de cargos comissionados, revisão de contratos e arrocho dos valores de procedimentos licitatórios.

Para entender melhor como deve ficar a economia capixaba neste ano de 2017, considerando o contexto político-econômico, o Folha Vitória ouviu o economista Eduardo Reis Araújo, membro do Conselho Regional de Economia do Espírito Santo (Corecon-ES).

Segundo ele, a recuperação da economia estadual “está muito dependente  da Samarco”, cuja paralisação teve um impacto grande para o Produto Interno Bruto (PIB) e consequentemente para o mercado de trabalho. 

“Os indicadores que temos mostram que fechamos 2016 com uma queda de 7% a 8% do PIB, apesar de estatísticas do Banco Central e do Instituto Jones dos Santos Neves (IJSN) apontarem 14%. Acredito que essas estimativas maiores estão trazendo o peso da paralisação da Samarco, que também não podemos desprezar”, disse. 

“A paralisação dessa empresa acabou afetando boa parte do setor público, como a prefeitura de Anchieta e o Estado, já que a arrecadação do ICMS acaba tendo queda. A paralisação, no geral, representa um pedaço da economia do Espírito Santo que não esta operando e isso traz prejuízo”, completa.

Eduardo Reis Araújo é economista e membro do Corecon-ES Foto: Arquivo Pessoal

Eduardo Reis Araújo também citou outros complicadores.”Outro fator que ajuda a paralisar a economia capixaba é o contexto nacional. Investimentos que a Petrobras faria no Estado foram adiados e o setor público sofreu muito com a queda no preço do barril do petróleo. Esse declínio afetou as receitas e implicou, neste momento de ajuste fiscal, em redução de pessoal comissionado como também na paralisação de investimentos”, afirma Eduardo.

Segundo ele, com o adiamento dos investimentos, o desemprego é certo. “Estamos falando de empresas que dependiam do setor público e agora não estão fornecendo serviços nem fazendo obras para prefeituras e governo. Isso implica em maior desemprego”. 

Na avaliação do economista, em 2017 não deve haver a mesma queda que ocorreu no ano passado. “A perspectiva pra 2017 é um pouco melhor, mas não podemos ser tão otimistas a ponto de estimar um crescimento superior a 0,5% no PIB”. 

A taxa de desemprego, segundo o especialista, deve continuar a crescer, uma vez que as empresas se encontram com ‘capacidade ociosa’. “Quando a economia começa a voltar aos trilhos elas [empresas] esperam haver um crescimento maior para que sintam a necessidade de contratar. Por esse motivo a taxa de desemprego deve continuar crescente até o final do ano”, alerta. 

Entretanto, pelo fato do Estado ser um dos poucos com equilíbrio fiscal no Brasil, é possível que o ambiente de negócios capixaba se recupere ainda antes do que a economia nacional. “O esforço fiscal do Estado pode capitalizar novas empresas e isso nos coloca à frente. Temos sido uma vitrine nesse sentido e isso é muito útil para nós”, avalia.

Educação financeira e capacitação

Uma das dicas do economista para que ninguém seja pego de surpresa caso o desemprego bata à porta é a educação financeira. “A ausência dela é algo que a gente precisa falar e as pessoas precisam se atentar”, alerta. Segundo ele, as pessoas não podem abrir mão de listar receitas e despesas e, numa situação de normalidade, economizar entre 20% e 30% dos rendimentos. “Esse dinheiro serve justamente para momentos de imprevisto, como problemas de saúde e desemprego”, exemplifica. 

Outras dicas são identificar despesas que pesam muito no custo de sobrevivência e buscar renegociar contratos, como o de aluguel, que pesam sobre o orçamento individual e/ou familiar. “Às vezes o que gera despesa não é o cafezinho, mas a conta bancária, que envolve taxas de conta corrente e anuidade de cartão de crédito”, afirma. De acordo com Eduardo, hoje há opções disponíveis no mercado que permitem manter contas e cartões de crédito sem pagar taxas mensais e/ou anuais.

Dependendo da situação, a mudança do padrão de comportamento também é necessária. “Se alguém está desempregado e só se deslocava de carro, vai ter de se enquadrar à nova realidade e abrir mão desse veículo para usar o transporte público. A regra básica é que tem de ter a despesa sempre abaixo da receita. Então ou você reduz as despesas ou busca uma fonte de renda extra”. 

O economista citou as habilidade pessoais que muitos fazem uso para conseguir oferecer serviços, ainda que em condições menos favorecidas do que as de antes. “Um contador que trabalhava no setor público, por exemplo, pode usar seu conhecimento para prestar serviços para pessoas físicas ou empresas até se colocar de novo no mercado”. 

A qualificação também é bem vinda no momento da crise. “Às vezes a pessoa só sabe fazer um trabalho. Então este é o momento para se requalificar. Só entregar currículo não traz tanto resultado. Um curso de aprimoramento pode ser a chave”, diz.

Estado perdeu mais de 2 mil vagas de trabalho 

O Espírito Santo teve saldo negativo no número de empregos formais em novembro, conforme apontam dados do Cadastro Geral de Empregados e Desempregados (Caged) anunciados recentemente pelo Ministério do Trabalho. No mês, as empresas do estado contrataram 22.240 trabalhadores e dispensaram 24.452, com um saldo negativo de 2.212 vagas (redução de 0,31% em relação a outubro).