Economia

Bancada do agro articula flexibilização ambiental

Bancada do agro articula flexibilização ambiental Bancada do agro articula flexibilização ambiental Bancada do agro articula flexibilização ambiental Bancada do agro articula flexibilização ambiental

A bancada de parlamentares ligados ao agronegócio se articula para aprovar, logo após as eleições, uma série de projetos de lei que flexibilizam as regras ambientais. O objetivo é que, encerrado o primeiro turno, os temas sejam levados a plenário no Congresso, com o objetivo de serem sancionados ainda neste ano pelo presidente Jair Bolsonaro (PL), que tenta a reeleição.

A pressa está atrelada à possibilidade de o ex-presidente Lula (PT), que lidera as pesquisas de intenção de voto, vir a ser eleito – além da troca de cadeiras que ocorrerá no Congresso Nacional. Lula já deixou clara a sua posição contrária a propostas prioritárias para a bancada do agro, como a liberação de mais agrotóxicos. A reaproximação do ex-presidente com Marina Silva (Rede-SP), ex-ministra do Meio Ambiente, também pesa. Por isso, parlamentares que têm o setor como base se articulam para aprovar, no atacado, o pacote de medidas que flexibilizam as regras ambientais.

No Senado, as atenções estão voltadas a quatro projetos de lei que já passaram pela Câmara, com a articulação do presidente Arthur Lira (Progressistas-AL), e que, agora, dependem de aprovação do Senado para, então, seguir à sanção presidencial.

O primeiro diz respeito à liberação de mais agrotóxicos. Na tentativa de reduzir a rejeição ao assunto, a bancada do agronegócio passou a chamar os produtos de “pesticidas”. Depois de uma forte oposição de organizações civis, que batizaram a proposta de “PL do Veneno”, o texto que abre as portas do País para a entrada de novas substâncias foi aprovado na Câmara e, agora, está no Senado.

O senador Acir Gurgacz (PDT-RO), presidente da Comissão de Agricultura, diz que a proposta dos agrotóxicos será submetida a audiência pública logo após a eleição para, em seguida, ser votada em comissão e levada a plenário. Se aprovada, segue para sanção de Bolsonaro.

O caminho é parecido ao que já foi desenhado para outros três projetos de lei: o que flexibiliza o processo de licenciamento ambiental, o que afrouxa as regras de regularização fundiária, e o que permite o chamado “autocontrole dos produtores rurais”, que autoriza empresas e produtores a criar seus próprios programas de defesa agropecuária.

“A nossa posição é que temos de votar esses três projetos neste ano. Passadas as eleições, vamos abrir as negociações para que sejam votados”, diz Acir Gurgacz. “Temos acordo com o presidente do Senado Rodrigo Pacheco (PSD-MG) e com os líderes partidários para colocar em votação no plenário logo depois das comissões.” Logo depois das eleições começa a Copa do Mundo, período em que as atenções do País estão dispersas.

A tramitação no Senado, porém, pode não ter a velocidade planejada pela bancada. Questionado pela reportagem, o presidente Rodrigo Pacheco preferiu não se comprometer com datas. “Não há previsão. Avaliaremos a pauta após as eleições, em reunião de líderes”, disse.

Pacheco já sinalizou para organizações civis socioambientais e parlamentares que não haverá atropelo do processo legislativo e que todos os temas serão objeto de discussões em comissões, antes de serem levados à votação pelo plenário Casa. Pelo regimento do Senado, a decisão sobre a pauta de votação cabe ao presidente – ou seja, não se trata de uma decisão automática.

‘DANOS IRREVERSÍVEIS’

Em linha com ponderações do Observatório do Clima, o consultor jurídico do Instituto Socioambiental (ISA), Mauricio Guetta, afirma que estão em jogo o futuro ambiental do País, o atendimento às metas do clima e o controle do desmatamento. “É preciso entender o que estão querendo passar a toque de caixa nos próximos três meses. Estamos falando das principais bases da proteção socioambiental ao Brasil. Se esses projetos forem aprovados, os danos serão irreversíveis, tanto para a Amazônia quanto para as metas climáticas e a saúde humana”, diz. “É muito importante que a sociedade se envolva, se mobilize. É seu direito exigir saúde adequada, um meio ambiente equilibrado. Esses projetos afastam o Brasil das metas climáticas, do controle do desmatamento, inviabilizam todos os compromissos firmados.”

O deputado Sergio Souza (MDB), que preside a Frente Parlamentar Agropecuária, diz acreditar que esses projetos prioritários da bancada do agro virarão lei ainda este ano e afirma que as propostas são vítimas de “narrativas” que precisam ser desmontadas. “É o caso dos pesticidas, (projeto) que estava parado na Câmara há 20 anos”, cita. “Precisávamos melhorar o texto, mudar a narrativa, mostrar que se trata de moléculas menos nocivas ao meio ambiente, foi o que fizemos.”

As informações são do jornal O Estado de S. Paulo.