Economia

BC reconhece inflação elevada em dezembro, mas vê choque como temporário

Na semana passada, ao manter a Selic (a taxa básica de juros) em 2,00% ao ano pela terceira vez consecutiva, o BC já havia destacado a inflação de curto prazo

BC reconhece inflação elevada em dezembro, mas vê choque como temporário BC reconhece inflação elevada em dezembro, mas vê choque como temporário BC reconhece inflação elevada em dezembro, mas vê choque como temporário BC reconhece inflação elevada em dezembro, mas vê choque como temporário
Foto: Agência Brasil/ Tânia Rêgo

O Banco Central reconheceu nesta terça-feira, 15, que a inflação brasileira seguirá salgada no curto prazo. Na ata do último encontro do Comitê de Política Monetária (Copom), o BC citou os impactos para a inflação trazidos pela alta dos preços dos alimentos, pelas mensalidades escolares e pela energia elétrica mais cara.

“As últimas leituras de inflação foram acima do esperado e, em dezembro, apesar do arrefecimento previsto para os preços de alimentos, a inflação ainda deve se mostrar elevada, com coleta extraordinária de preços de mensalidades escolares e transição para o mais elevado patamar de bandeira tarifária de energia elétrica”, afirmou o BC no documento.

Na semana passada, ao manter a Selic (a taxa básica de juros) em 2,00% ao ano pela terceira vez consecutiva, o BC já havia destacado a inflação de curto prazo.

No mercado financeiro, após o IPCA – o índice oficial de inflação – registrar alta de 0,89% em novembro, a projeção mediana é de elevação de 1,19% em dezembro, conforme o Relatório de Mercado Focus. Esta projeção é impulsionada pelo avanço no custo dos alimentos, pelas mensalidades escolares e pela energia elétrica. Em dezembro, a Agência Nacional de Energia Elétrica (Aneel) retomou o sistema de bandeiras tarifárias na conta de luz, com taxa extra de R$ 6,243 a cada 100 kWh. Devido à pandemia do novo coronavírus, a agência vinha praticando a bandeira verde, sem taxa extra.

Apesar da pressão inflacionária nos últimos meses, o BC manteve a avaliação, na ata publicada nesta terça, de que os choques atuais são temporários. Na prática, o BC não acredita que a alta mais recente da inflação vá gerar efeitos duradouros.

Ainda assim, o BC vem preparando o terreno para, eventualmente, elevar os juros em 2021 para conter a alta de preços. Isso porque as projeções de inflação estão se aproximando das metas perseguidas pelo BC nos próximos anos. A avaliação é de que a instituição poderá acabar com o chamado forward guidance (ou prescrição futura, na tradução do inglês).

Adotado em agosto, o forward guidance é uma indicação técnica do BC de que não pretende elevar os juros se a inflação seguir sob controle e o risco fiscal não se alterar. O problema é que, nos últimos meses, a inflação ao consumidor está de fato mais salgada. O IPCA nos 12 meses até novembro acumulada alta de 4,31%.

Ao avaliar o cenário, o BC afirmou na ata que “em breve, as condições para a manutenção do forward guidance podem não mais ser satisfeitas”. Na prática, se retirar esse ponto técnico de suas comunicações, o BC ficará mais livre para elevar os juros se achar necessário.

No Relatório de Mercado Focus, que compila as projeções das instituições financeiras, a expectativa é de que a Selic suba para 2,25% em agosto do próximo ano. O mês marcaria o início do ciclo de alta de juros.

Outra preocupação do BC é com o risco fiscal. Na ata desta terça, o BC reafirmou que “alterações de política fiscal que afetem a trajetória da dívida pública ou comprometam a âncora fiscal motivariam uma reavaliação, mesmo que o teto dos gastos ainda esteja nominalmente mantido”. Em outras palavras, a autarquia indicou que não basta manter o teto de gastos – regra fiscal que limita o gasto público ao equivalente ao orçamento do ano anterior, corrigido pela inflação. É preciso manter a dívida pública sob controle.

Atualmente, a dívida bruta brasileira está em 90,7% do Produto Interno Bruto (PIB), mas algumas projeções indicam que ela poderá se aproximar dos 95% até o fim do ano. Esta alta é justificada pelo aumento dos gastos públicos durante a pandemia do novo coronavírus e servem como um sinal de alerta para o governo. Isso porque a Dívida Bruta do Governo Geral – que abrange o governo federal, os governos estaduais e municipais, excluindo o Banco Central e as empresas estatais – é uma das referências para avaliação, por parte das agências globais de classificação de risco, da capacidade de solvência do País. Quanto maior a dívida, maior o risco de calote por parte do Brasil.