ReTuna, na Suécia, é o primeiro shopping do mundo dedicado a venda de produtos de segunda mão
Imagine um Shopping Center onde tudo já foi usado, mas pode voltar a ter uma nova vida. A Suécia realmente acredita na filosofia da reutilização e da reciclagem. Prova disso é ReTuna, um grande centro comercial que vende apenas produtos reciclados e é o primeiro deste tipo no mundo.
A primeira vez que fui a Suécia, e já se passaram 30 anos, vi algo que me chamou muita atenção. No prédio onde fiquei, havia uma porta para o lado externo, que por curiosidade resolvi abrir para ver o que era, e me deparei com um depósito cheio de objetos, como mesas, cadeiras, quadros e eletrodomésticos, além de outro com uma placa na porta com os dizeres, “terceiro mundo”.
Perguntei a um morador, o que era aquele depósito e a reposta foi, “não é um depósito e sim uma lixeira, os móveis do meu apartamento, peguei todos lá”. Fiquei até com receio de perguntar sobre a porta do “terceiro mundo”, cheio de roupas, calçados e casacos. A resposta foi que deixavam, para ser doado aos países pobres e emergentes. Resultado, o sueco ao comprar algo novo, não tinham um destino com o usado, senão jogar no “lixo”.
As coisas mudaram, e como! Hoje a Suécia é um dos países que mais reciclam no mundo, e dentro desse novo conceito, foi inaugurado em 2015, na cidade de Eskilstuna, o ReTuna, primeiro shopping center de produtos usados, administrado pela empresa municipal Eskilstuna Energi och Miljö (EEM). “Seu lixo é o tesouro de outra pessoa”, diz o lema desse shopping center sustentável, onde os suecos podem deixar brinquedos, móveis e outros itens usados em um depósito para que nada seja desperdiçado.
Fotos: Divulgação/ ReTuna, Reprodução
Os visitantes podem levar ao depósito do shopping center, o chamado “Returen”, o que eles não usam mais, desde brinquedos a móveis, roupas, objetos decorativos e dispositivos eletrônicos. No depósito, o pessoal faz uma primeira coleção do que é utilizável e do que não é. Os artigos são então distribuídos para as lojas do shopping. A equipe de cada loja faz uma segunda seleção, na qual se escolhe o que é preciso reparar, converter, perfeccionar e finalmente vender. Desta forma, os materiais ganham uma nova vida.
Anna Bergstrom, uma das fundadoras do projeto e atual diretora do shopping, explica que a montagem do espaço envolveu políticos, empresários e o poder municipal da cidade que buscava formas de reduzir o desperdício. “Nós pegamos tudo em uma casa que não estiver em uso – não negamos nada”. Segundo ela, quando um objeto que chega por meio de doação não tem viabilidade comercial, mas é bom, eles repassam a outras instituições que podem utilizá-lo, como escolas e instituições. Se ele for de interesse, vai para o depósito da empresa onde será restaurado e revendido em uma das 15 lojas. As pessoas podem deixar seus próprios objetos no shopping, que tem um drive-thru específico para isso.
Fotos: Divulgação/ ReTuna, Reprodução
“A sustentabilidade não é somente sobre guardar e consumir menos, mas fazer mais com os recursos que já temos”, destaca o site do ReTuna. O portal, inclusive, faz um convite às pessoas para levarem ao depósito do shopping os itens que estejam quebrados ou que teriam destinação certa para o lixo. O local conta com uma espécie de “drive thru”, onde é possível estacionar o carro e deixar as doações de forma prática. Produtos que não possuem condições de comercialização são reciclados em um centro anexo ao estabelecimento e são enviados para outras destinações, como adubo, por exemplo. Se as lojas compram produtos novos, como café, os itens precisam ser orgânicos ou sustentáveis para estarem alinhados com a proposta do centro comercial.
O ReTuna foi criado e desenvolvido por uma equipe de ativistas ambientais que moram em Eskilstuna, com o objetivo de tornar a cidade um exemplo em políticas de gestão de resíduos. A ideia foi bem recebida pela população local, que descobriu na prática da reciclagem a forma criativa com que itens, geralmente descartados, se tornem produtos incríveis e com potencial de comercialização.
Segundo a gerente Anna Bergstrom, as pessoas vão ao local doar um móvel ou roupa velha, por exemplo, e acabam atraídas pelos itens à venda, encontram utilidades para a sua casa e depois vão fazer um lanche no restaurante com alimentos orgânicos. “Quando você sai daqui, deve sentir que fez algo de bom para o meio ambiente”, explica, em uma publicação do site oficial.
Vejo isso como um grande mercado e acredito que em breve cada shopping terá o seu espaço de produtos reaproveitados e por que não um shopping só com esse conceito?
Fonte: The Huffington Post. / @ibsustentabilidade
Reportagem de Claudia Wallin, de Estocolmo (Suécia) para a BBC Brasil