Economia

Cana deixa de atrair capital estrangeiro

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São Paulo – O grupo francês Louis Dreyfus foi um dos primeiros a fazer aquisições de usinas no Brasil no início dos anos 2000, quando o setor sucroalcooleiro era predominantemente controlado por usinas de capital nacional. Atualmente, cerca de 30% da produção de cana-de-açúcar do País está nas mãos de companhias estrangeiras, de acordo com levantamento da consultoria Datagro.

Das cinco maiores companhias do setor, quatro têm participação de capital estrangeiro: Raízen (joint venture entre a brasileira Cosan e anglo-holandesa Shell), Dreyfus, a americana Bunge e a também francesa Tereos, lideram o ranking. A Odebrecht Agroenergia, do conglomerado baiano, é a única que não tem ainda sócio relevante de fora. Como agravamento da crise no setor, o avanço de grupos de fora foi interrompido. A retomada só deverá ocorrer quando a rentabilidade das usinas voltar a ficar atraente, dizem especialistas ouvidos pelo jornal O Estado de S. Paulo.

A entrada dos “gringos” no setor começou no ano 2000 e se intensificou entre 2007 e 2009, quando boa parte das usinas nacionais estava altamente endividada por causa da expansão de capacidade realizada nos anos anteriores. Com a crise financeira, muitos grupos nacionais foram obrigados a vender parte ou até o controle de seu capital.

Com 11 unidades produtoras, prontas para moer quase 40 milhões de toneladas, a Biosev tem alta capacidade ociosa. A moagem desta safra, a 2014/15, deve ser de até 31 milhões de toneladas. Sob nova gestão desde o fim de 2013, a companhia tem dado prioridade à chamada “disciplina financeira e operacional”. Rui Chammas, presidente do grupo, disse que a empresa está trabalhando para alongar a dívida e reduzir custos para ser capaz de gerar caixa suficiente para a manutenção da operação. A receita líquida da safra 2013/14 ficou em R$ 4,2 bilhões e prejuízo de R$ 725 milhões.

A gestão de Chammas, egresso da petroquímica Braskem, tem sido elogiada por concorrentes pelo rigor financeiro, cujo objetivo é reduzir o alto endividamento ajustado (de R$ 4,08 bilhões até setembro deste ano) e gerar caixa. Quase metade da dívida é de curto prazo.

O grupo chegou ao País em outubro de 2000, com a compra da usina Cresciumal, em Leme (SP). Nos anos seguintes, a companhia cresceu por meio de importantes aquisições, como a dos ativos do grupo Tavares de Mello. A grande tacada foi a associação com a Santelisa Vale, fusão que permitiu que a empresa chegasse à atual capacidade.

“Quando chegaram ao País, os grupos internacionais foram atraídos pelo potencial mercado que o etanol poderia conquistar, com o crescimento da vendas de carros flex (abastecidos com álcool ou gasolina) e as perspectivas de crescimento das exportações do combustível”, disse Luiz Carlos Corrêa Carvalho, da consultoria Canaplan.

“A primeira gestão do governo Lula estimulou investimentos. Depois, o governo passou a dar prioridade para o pré-sal, deixando de lado os combustíveis renováveis”, disse uma fonte. “É difícil para um grupo estrangeiro ter de explicar para sua matriz que o governo mudou de uma hora para outra as políticas de incentivos. Boa parte das estrangeiras que entraram no País também passa por dificuldades.”

Nova consolidação

Com o mau momento do setor, muitas companhias estão à venda, mas a maior dificuldade é encontrar comprador para esses ativos. No entanto, a expectativa de que o governo possa aprovar a retomada da Contribuição de Intervenção no Domínio Econômico (Cide), tributo sobre a gasolina, e elevar a mistura do álcool na gasolina, de 25% para 27,5%, poderá dar fôlego às usinas.

Segundo uma fonte do mercado financeiro, já há fundos nacionais e estrangeiros que vislumbram oportunidades no setor. “No momento de crise surgem as oportunidades. Poderemos ver investidores estratégicos de olho em originação (produção) da commodity, mas o momento de troca de controle a preços elevados acabou”, disse Plinio Nastari, da Datagro. As informações são do jornal O Estado de S. Paulo.