Comércio livre, especialização e o papel da interdependência econômica

 “Os italianos fazem macarrão, os suíços fazem relógios…” — essa frase simples, dita por Howard Marks, fundador da Oaktree Capital, resume um dos princípios mais fundamentais da economia: a especialização produtiva aliada ao livre comércio como vetor de prosperidade global.

Em um mundo no qual a eficiência econômica é resultado direto da interdependência entre nações. Quando cada país, empresa ou indivíduo se concentra naquilo que faz melhor, todos ganham. Esse é o coração da teoria das vantagens comparativas — um conceito consagrado desde os tempos de David Ricardo, mas ainda hoje frequentemente ignorado em discursos protecionistas ou nacionalistas.

Na prática, isso significa que a inovação de uma startup em Tel Aviv, a engenharia de precisão de uma fábrica na Baviera ou a logística de um porto em Cingapura afetam, direta ou indiretamente, a vida de bilhões de pessoas ao redor do mundo. Tentativas de “internalizar” tudo, de isolar mercados em nome de uma autossuficiência ilusória, tendem a gerar ineficiência, aumento de custos e escassez.

O cimento pode vir do Brasil, o aço da Turquia, a automação da Itália e os sistemas de gestão da Dinamarca, e tudo isso chega em um canteiro de obras com um propósito: gerar valor local com know-how global. Interromper esse fluxo seria andar na contramão do progresso.

Acordos Multilaterais e Segurança Jurídica

É natural, em tempos de instabilidade geopolítica, que surjam pressões por relocalizar cadeias produtivas ou erguer barreiras tarifárias. Mas é preciso separar o discurso político da racionalidade econômica. Em vez de restringir o comércio, deveria fortalecer acordos multilaterais, melhorar infraestrutura logística e investir em segurança jurídica para tornar países mais atrativos e competitivos dentro dessa engrenagem global.

A lógica de Howard Marks é clara: especialização e livre comércio tornam o mundo melhor. Ao invés de tentar produzir tudo, em todo lugar, o caminho para o desenvolvimento está em fazer bem aquilo que sabe fazer melhor, e confiar que o mercado, em sua complexidade, continuará fazendo as conexões que geram valor.

Mateus Vitória Oliveira

Colunista

Associado do Instituto Líderes do Amanhã

Associado do Instituto Líderes do Amanhã