A eleição de Leão XIV reacende o debate sobre a influência econômica da Igreja Católica e os limites práticos de sua agenda.
O Vaticano anunciou, nesta quarta-feira (7), a escolha do novo Papa: o cardeal norte-americano Robert Prevost, de 69 anos, foi eleito após quatro escrutínios no conclave e adotará o nome de Leão XIV. A nomeação representa um marco, pois é a primeira vez que um norte-americano assume o comando da Igreja Católica. Mais do que uma mudança de liderança espiritual, a escolha reacende um antigo debate: até onde vai a influência do Papa sobre a economia global?
Embora o Vaticano não detenha instrumentos econômicos formais nem autoridade sobre políticas fiscais ou monetárias, a liderança papal exerce um papel crucial no debate público sobre temas como desigualdade, meio ambiente, migração e justiça social. A experiência recente do pontificado de Francisco, que terminou com sua morte em abril de 2025, mostrou como o discurso da Igreja pode atravessar fronteiras e pressionar governos, empresas e instituições.
Uma liderança com peso simbólico
Prevost assume o cargo com a reputação de conciliador e perfil diplomático. É considerado um “construtor de pontes”, com sólida atuação pastoral e uma visão globalizada da Igreja. A expectativa é de que mantenha o foco em temas humanitários, especialmente nas áreas de acolhimento a migrantes, combate à pobreza e mudanças climáticas, pautas que marcaram o papado anterior.
Esses temas, apesar de não parecerem econômicos, têm implicações reais para políticas públicas. Declarações papais sobre crise migratória, por exemplo, influenciaram decisões em países europeus, inclusive na destinação de recursos públicos e na formulação de políticas sociais.
Da mesma forma, a encíclica Laudato Si’, publicada por Francisco em 2015, foi amplamente citada em conferências ambientais internacionais, e usada como argumento por governos e ONGs na defesa de metas climáticas mais ambiciosas.
No entanto, especialistas apontam que a influência da Igreja ocorre principalmente no campo da moral pública, e não necessariamente se converte em resultados econômicos mensuráveis.
Igreja, doações e economia real
Outro aspecto relevante é o impacto interno da Igreja sobre sua própria estrutura econômica. O Vaticano administra um vasto patrimônio financeiro e imobiliário, além de uma extensa rede de instituições de caridade, hospitais e escolas em todo o mundo.
A maneira como o Papa conduz essa estrutura, sobretudo em relação à transparência, combate à corrupção e gestão de recursos, pode influenciar diretamente a confiança dos fiéis e, consequentemente, o volume de doações recebidas.
Esse efeito é percebido em países de forte presença católica, onde a Igreja ainda tem papel relevante no atendimento de populações vulneráveis. Um papado com foco na responsabilidade fiscal e social pode estimular o engajamento e ampliar a atuação econômica da instituição nas bases.
Limites de ação e riscos de generalização
Apesar da ampla visibilidade e da influência moral que exerce, o Vaticano é uma potência simbólica, e não uma força operacional no sistema financeiro internacional. A economia global é movida por fatores como produtividade, inovação, comércio e investimento, áreas nas quais a Igreja atua raramente de forma direta.
A tentativa de transformar discursos éticos em políticas públicas também encontra resistência em democracias mais livres economicamente e em regimes nos quais prevalecem agendas de crescimento e competitividade. O risco é superestimar o alcance real das posições do Papa, especialmente quando estas entram em conflito com os princípios da economia de mercado.
Ao mesmo tempo, há um espaço legítimo para o papel da Igreja como consciência crítica diante das assimetrias do sistema global. O desafio de Leão XIV será equilibrar a missão pastoral com a complexidade dos cenários político e econômico do século XXI, e fazê-lo sem que suas palavras se tornem apenas gestos simbólicos.