Economia

Condenado na OMC por incentivo, Brasil pode recorrer para evitar retaliação

Condenado na OMC por incentivo, Brasil pode recorrer para evitar retaliação Condenado na OMC por incentivo, Brasil pode recorrer para evitar retaliação Condenado na OMC por incentivo, Brasil pode recorrer para evitar retaliação Condenado na OMC por incentivo, Brasil pode recorrer para evitar retaliação

Genebra – A Organização Mundial do Comércio (OMC) publica nesta quarta-feira o informe final sobre as políticas de incentivo fiscal do governo brasileiro para o setor automotivo, conhecidas como Inovar-Auto. Condenado, o País poderá a partir de agora recorrer da decisão, na esperança de se livrar de uma eventual retaliação por parte de europeus e japoneses.

No final do ano passado, o governo sofreu a maior derrota nos tribunais da OMC. A entidade, numa primeira instância, aceitou os argumentos de Japão e Europa e condenou a política industrial brasileira. Com isso, exigiram que sete políticas de incentivos fiscais e redução de IPI adotados ainda pelo governo de Dilma Rousseff fossem abandonadas ou completamente reformados.

Mas, atolada com dezenas de processos, a OMC apenas conseguiu concluir as 400 páginas do informe final nesta semana. Só então passaria a valer o prazo para que os governos possam recorrer da decisão. De acordo com diplomatas, o País tem agora entre 21 e 60 dias para agir e questionar a condenação.

Inicialmente, a previsão era de que isso ocorreria em fevereiro. Mas, diante do acúmulo inédito de disputas comerciais na OMC, a tramitação e tradução de documentos enfrenta importantes atrasos.

Ainda que o atraso seja considerado como preocupante, a situação acabou favorecendo o Brasil. Só de posse do recurso é que o Órgão de Apelação da OMC iniciaria um novo exame do caso, o que poderia levar pelo menos mais seis meses para ocorrer. Ou seja: ainda que condenado no final de 2016, o Brasil poderia manter sua política pelo menos até 2018.

O adiamento em uma decisão final ainda vai coincidir com outro aspecto importante do calendário industrial brasileiro. O Inovar-Auto está previsto para acabar em dezembro deste ano, assim como outros oito programas de incentivo fiscal, como o Fundo de Desenvolvimento da Amazônia e do Nordeste. O Broadcast apurou que o Ministério da Fazendo estuda não renovar o incentivo ao setor automotivo, o que daria um fim ao caso também na OMC. Assim, uma retaliação estaria descartada e o Brasil argumentaria que não viola mais as regras internacionais.

No informe confidencial de 400 páginas, os juízes alegaram que a política de incentivos fiscais aos setores de telecomunicações, automóveis e tecnologia é ilegal e afeta empresas estrangeiras de forma “injusta”. Iniciado em 2014, o processo constatou que as leis nacionais são “inconsistentes” com as regras internacionais, “ilegais” do ponto de vista dos acordos assinados pelo Brasil e que a isenção é, no fundo, um “subsídio proibido”.

O Broadcast apurou que a entidade indicou que dar incentivos fiscais para determinados objetivos, por si mesmo, não seria uma violação das regras. Mas a forma utilizada pelo Brasil representou uma ilegalidade. Isso por conta das exigências que o governo fez para beneficiar as empresas com taxas menores. Uma das exigências é de que montadoras produzissem localmente. Para os juízes, o critério representa uma espécie de subsídio disfarçado e que, portanto, seria vetado.

O principal foco foi o Inovar Auto, mecanismo que garantiu uma redução de impostos para o setor automotivo com fábricas instaladas no País. Japão e UE se queixavam de que o programa era ilegal ao reduzir o IPI para certos modelos produzidos com um determinado número de peças nacionais. A OMC aceitou o argumento e condenou os incentivos dados a montadoras.

“Os impostos sobre veículos importados podem exceder aos coletados por carros feitos no Brasil em 30% do valor do veículo”, indicou a Europa em sua queixas. “Impostos combinados da aduana e outras taxas podem levar, em alguns casos, a taxas proibitivas de 80% do valor importado”, acusou Bruxelas.

No início do ano, a presidente cassada Dilma Rousseff admitiu em Genebra que cometeu uma “grande burrada” ao dar incentivos fiscais. Segundo ela, o setor privado “embolsou o dinheiro” e não investiu.