Ago 2021
22
Luan Sperandio
DATA BUSINESS

porLuan Sperandio

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Luan Sperandio
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porLuan Sperandio

Fake news no mercado financeiro

Após a gestora Squadra publicar no início de 2020 uma carta apontando indícios de que os lucros normalizados da companhia eram significativamente inferiores aos lucros contábeis reportados nas demonstrações financeiras da companhia, acendeu-se o alerta, com o preço do ativo naturalmente caindo. Porém, a empresa refutou as argumentações por meio de nota e, em conference call com seus acionistas, a IRB Brasil afirmou que a Berkshire Hathaway, do megainvestidor Warren Buffett, era investidora da empresa e que, recentemente, tinha aumentado a sua posição. Isto é, se a companhia de um dos maiores investidores da história estava “comprada na IRB Brasil”, as alegações da Squadra seriam tão somente um ruído de mercado, como tantos outros.

Todavia, no dia seguinte, a Berkshire comunicou por nota oficial que a empresa não era, nunca foi e não tinha a intenção de se tornar acionista da IRB Brasil. Foi o estopim para o papel despencar de preço, com a pandemia posterior sendo apenas a pá de cal. Desde então, as ações da empresa perderam mais de 80% de valor, com o ativo se tornando sinônimo de desconfiança no mercado financeiro. Em apenas um caso de desinformação e fake news, houve um prejuízo superior a R$ 30 bilhões!

Em paralelo, atualmente há um excesso de informação ruim a respeito de investimentos, com boa parte do que é publicado sobre investimentos em redes sociais sendo feito por “influenciadores” que se vendem como “gurus de investimentos”, mas não possuem nenhuma expertise técnica. Isso inclui a recomendação de ativos a partir de análises superficiais — algo que é vetado por órgãos de controle. Muitos deles, na falta de conhecimento, acabam por vender fantasias, causando prejuízos aos seguidores.

O digital também trouxe maior dinamicidade aos ativos listados em bolsa. Em parte, isso pode refletir um problema na medida em que notícias, boatos e memes a respeito de, por exemplo, ruídos e especulações políticas — como houve no caso citado da IRB Brasil — passam a se proliferar rapidamente e influenciar no preço de ações. Há diversas investigações em aberto por suspeitas de manipulação de mercado, em que alguns agentes induzem propositalmente milhares de seguidores em determinada direção a fim de lucrar às custas dos prejuízos destes.

Há uma oferta grande de informações de baixa qualidade, incluindo quem atua de má-fé e de forma ilícita ou fraudulenta. Apenas em 2020 foram identificadas pela Comissão de Valores Mobiliários mais de duas centenas de pirâmides financeiras atuando no país, algo que é tipificado como crime contra a economia popular.

Além disso, no último ano registrou-se no Brasil um avanço de 45% nos golpes financeiros nos últimos meses deste ano, de acordo com dados da Febraban (Federação Brasileira de Bancos).

Por conseguinte, a democratização do mercado financeiro representa uma faca de dois gumes: caso não se faça um processo de curadoria entre essas informações caoticamente dispersas na rede, pode-se levar a uma sequência de tomadas de decisões baseadas em ilusões que, em última análise, podem resultar em graves prejuízos financeiros. Felizmente, há bons profissionais que podem lhe ajudar nisso, mas boa parte da população está à mercê de uma confusão informacional que nem sempre vem acompanhada de boa-fé!

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As informações/opiniões aqui escritas são de cunho pessoal e não necessariamente refletem os posicionamentos do Folha Vitória

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