Economia

Desvalorização do yuan vem em momento inoportuno, diz Langoni

Desvalorização do yuan vem em momento inoportuno, diz Langoni Desvalorização do yuan vem em momento inoportuno, diz Langoni Desvalorização do yuan vem em momento inoportuno, diz Langoni Desvalorização do yuan vem em momento inoportuno, diz Langoni

Rio – O economista Carlos Langoni, diretor do Centro de Economia Mundial da Fundação Getulio Vargas (FGV) e ex-presidente do Banco Central (BC), afirma que a desvalorização do yuan “vem num momento muito inoportuno” para o Brasil. Segundo ele, foi uma surpresa, mas não improvável. Parece um valor pequeno para os nossos padrões, mas, para a maneira como a China controla sua moeda, é uma desvalorização bastante forte. Na verdade, essa decisão é um sinal de enfraquecimento da economia chinesa.

“A China vem num processo de desaceleração e a forma como essa perda de fôlego de crescimento vai se desenvolver é fundamental para a economia mundial. O cenário ideal é a ‘aterrissagem suave’, em que a economia parece estar convergindo para 5% a 6% (de crescimento ao ano), pois atualmente está em 7%. A grande preocupação é que, em vez de um processo gradual, previsível e inevitável de desaceleração, haja uma queda mais abrupta.”, diz.

Segundo Langoni, a estratégia do novo governo chinês é sair do modelo que dependia exclusivamente de exportações e de investimentos para um modelo mais dependente do consumo interno. A desvalorização, diz ele, é surpreendente porque vai na contramão dessa transição. Ao desvalorizar o câmbio, segundo o economista, o governo chinês está voltando a estimular a exportação, que, lembra, teve uma queda de mais de 8% em julho.

Brasil

Esse ajuste cambial, repete o economista, vem num momento inoportuno, pois encontra a economia brasileira vulnerável, com um ajuste ainda incompleto, no meio de uma forte tensão política. “Na verdade, no caso brasileiro, muito intensivo em commodities, o impacto é direto. A China é hoje o maior mercado para as exportações brasileiras, é seu principal parceiro comercial e caminha para ser também um grande parceiro em termos de financiamento, principalmente em projetos de infraestrutura. Esse aparente enfraquecimento chinês tem impacto direto porque reforça a tendência baixista das principais commodities, das quais o Brasil depende para manter as exportações.”, afirmou Langoni.

Outro complicador, diz ele, é o possível efeito da medida chinesa sobre o real. Langoni fala que, numa situação ideal, o Brasil estaria entrando o 2º semestre com o ajuste fiscal implementado, com as medidas estruturantes sendo já contabilizadas e, portanto, com um espaço maior para a política monetária. Mas que isso não aconteceu. “Com a economia brasileira numa trajetória de recessão, mais aguda do que se imaginava, o espaço para usar os juros como instrumento indireto de controle do câmbio é muito limitado. Talvez mais um pequeno ajuste na taxa de juros ainda seja necessário, mas o BC vai ter de voltar a intervir no mercado de câmbio, ainda que não desejasse.”

Esse movimento chinês, diz, reforça o viés de valorização cambial não só diretamente, mas também indiretamente, porque sinaliza commodities em baixa. “No caso brasileiro, a correlação é muito forte entre preço das commodities e taxa de câmbio. O BC poderá trabalhar apenas para que esse processo seja feito de forma gradual, moderada e ordenada.” As informações são do jornal O Estado de S. Paulo.