Economia

Diretor do Dieese diz não ver motivo para comemorar redução da taxa de desemprego

Segundo o diretor do Dieese, o País vive um desemprego estrutural resultante de uma mudança também estrutural da economia brasileira

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Foto: Divulgação

Na contramão dos analistas do mercado financeiro, o diretor técnico do Departamento Intersindical de Estatísticas e Estudos Socioeconômicos (Dieese), Clemente Ganz Lúcio, não vê motivos para comemorar a taxa de desemprego no trimestre encerrado em novembro, de 11,2%, divulgada nesta sexta-feira (27) pelo IBGE. O mercado, segundo expectativas colhidas pelo Projeções Broadcast, esperava por uma taxa de 11,4%, que já seria a menor desde junho de 2016.

O diretor do Dieese destacou que 38,833 milhões ou 41,1% das pessoas em idade ativa ainda encontram-se na informalidade, segundo os dados da Pesquisa Nacional por Amostra de Domicílios (Pnad).

Para Lúcio, um dos grandes problemas de se ter quase 50% da população em idade de trabalho atuando na informalidade é a dificuldade que a Previdência terá para se financiar.

“Do jeito que a coisa está andando, o governo se verá obrigado a conceder BPC (Benefício de Prestação Continuada) para grande parte da população e quem puder vai ter de recorrer à capitalização”, alertou.

Segundo o diretor do Dieese, o País vive um desemprego estrutural resultante de uma mudança também estrutural da economia brasileira, que combina desindustrialização com venda de patrimônio, e que tenta se compensar com postos de trabalho precários.

“Partes destes empregos são informais, parte ilegais por serem assalariados sem carteira. Ou seja, a formalidade é precária, a informalidade cresce e a gente está perdendo densidade industrial, o que significa que esse mercado de trabalho não se sustenta”, pondera Lúcio. Ele chama atenção ainda para o aumento das jornadas parciais e trabalhos intermitentes.

No longo prazo, esses fatores não só comprometem o mercado de trabalho como a demanda. De acordo com ele, é possível que mais pessoas numa família passarão a fazer uma jornada maior de trabalho para manter a mesma renda que antes uma só pessoa garantia. “Um chefe de família trabalhava para ganhar R$ 5 mil e agora três pessoas terão de trabalhar para ganhar os mesmos R$ 5 mil”, exemplificou o diretor do Dieese.

Para Lúcio, não há dúvida de que, no curtíssimo prazo, para quem não ganhava nada, um emprego mesmo que precário é positivo. O problema é o longo prazo, quando a idade chega e essa pessoa não tem proteção social. “Se isso continuar, logo o governo vai ter de começar a pensar em outra reforma da Previdência”, disse.