Economia

Dólar caro significa preços altos no médio prazo, diz analista

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São Paulo – A crise política prejudica a formação de boas perspectivas para a inflação no longo prazo, ainda que de forma indireta. A quebra de confiança quanto à governabilidade na gestão Dilma 2 acentua a depreciação do Real em relação ao dólar. E dólar mais caro significa preços mais altos no médio prazo. “Ainda que hoje há menos repasse do câmbio para a inflação, o dólar valorizado traz impactos para o IPCA”, afirma o economista-chefe da Porto Seguro Investimentos, José Pena.

Só nos últimos sete dias, o dólar subiu quase 7% em relação à moeda brasileira. No ano, a alta já é de quase 18%. “A dinâmica de câmbio gera um risco de revisões adicionais nas projeções do IPCA”, afirma Rodrigo Alves de Melo, economista-chefe da Icatu Vanguarda, uma das cinco instituições que mais acertam as previsões para inflação no curto prazo, segundo o Banco Central (BC).

O risco à ancoragem das expectativas com crise política e com dólar caro ocorre em um momento de melhora nas projeções. De janeiro até agora, o relatório de mercado Focus, divulgado pelo Banco Central semanalmente, mostra uma queda na mediana das projeções do IPCA do ano que vem de 5,70% para 5,51%.

Ainda que tênue, a redução nas taxas para 2016 indicam um início de reversão da criticada desancoragem das expectativas. Iniciada em 2012, quando o Comitê de Política Monetária (Copom) persistia na redução da taxa de juros sob críticas de analistas, a desancoragem correspondeu à escalada nas projeções do IPCA para o médio e longo prazos. Em janeiro de 2012, a mediana das projeções indicava um IPCA de 4,11% em 2016. A taxa foi crescendo até chegar nos 5,70% do início deste ano. “(Em 2012), o BC surpreendeu ao ser muito agressivo no ciclo de queda dos juros, o que comprometeu a credibilidade com a meta de inflação e a formação de expectativas em um ambiente fiscal muito ruim”, diz Melo, da Icatu Vanguarda.

Na avaliação de Melo e da economista do banco Brasil Plural, Priscilla Burity, um dos motivos para essa possível volta da ancoragem de expectativas foi a credibilidade emprestada pelo ministro da Fazenda, Joaquim Levy, e pelo pacote fiscal para a melhora das contas públicas. O governo e, inclusive, a própria presidente Dilma Rousseff demonstram disposição em organizar as contas públicas ainda que isso “signifique alguns sacrifícios temporários”, como disse a presidente no domingo.

Outro motivo apontado por Priscilla foi o choque de reajuste nos preços administrados. “(O ajuste fiscal e o choque tarifário em 2015) são dois motivos técnicos que geram um impacto nas projeções para 2016”, diz a economista do Brasil Plural, uma das cinco instituições que mais acertam nas previsões de longo prazo segundo o Banco Central (BC).

A aparente inércia do governo quanto à evolução do câmbio neste ano também favorece essa visão mais positiva no longo prazo. “Se alguém me falasse há seis meses que o câmbio estaria no patamar de R$ 3 hoje, eu diria que as autoridades tratariam de estar mais ativas para reduzir isso (a depreciação do Real)”, diz. E uma maior intervenção do governo no mercado de câmbio, argumenta Priscilla, altera a taxa de forma imediata, mas não anula a necessidade de ajuste no médio prazo. Ou seja, intervenção gera a piora das previsões para o médio e longo prazo.

A ancoragem das expectativas é, segundo economistas, uma atribuição da autoridade monetária e uma variável essencial para o próprio comportamento dos preços. Quando entende que a inflação não estará baixa no médio e longo prazo, o empresariado trata de ajustar seus preços e contratos imaginando o que será mais adequado com as condições futuras. Esse comportamento gera uma pressão inflacionária que, por consequência, impacta as expectativas de mercado. Ou seja, é um ciclo vicioso. “É importante que a autoridade monetária cuide das expectativas de mercado, e é uma atribuição dentro do contexto do sistema de metas de inflação”, afirma o professor de economia da Universidade Mackenzie, Pedro Raffy Vartanian.