Conheça a importância da educação financeira nas escolas do futuro e como ela está sendo incorporada ao modelo de ensino.
Educação financeira é uma ferramenta poderosa para lidar com as pressões do dia a dia e deveria ser encarada como estratégica pelas empresas. Crédito: Divulgação

Artigo escrito por Érico Colodeti Filho, especialista em investimentos pela Associação Brasileira das Entidades dos Mercados Financeiro e de Capitais (Abima). Especialista em criptomoedas pela Associação Nacional das Corretoras Distribuidoras de Títulos e Valores Mobiliários, Câmbio e Mercadorias (Ancord). Professor universitário e apresentador do “Me Tira do Perrengue“.

A saúde mental no ambiente de trabalho deixou de ser um tabu. Se tornou uma prioridade inadiável, um pilar fundamental para a sustentabilidade das empresas e o bem-estar de seus colaboradores. A Portaria do Ministério do Trabalho e Emprego (MTE) nº 1.419, de agosto de 2024, ao incluir expressamente os fatores de risco psicossociais relacionados ao trabalho no Gerenciamento de Riscos Ocupacionais (GRO) da NR-1, não apenas formalizou uma necessidade. Ressaltou a urgência de um olhar mais humano e abrangente sobre as condições de trabalho.

Organizações globais como a OIT e a OMS já alertam para os trilhões de dólares perdidos anualmente devido à depressão e ansiedade. Que se manifestam em bilhões de dias de trabalho não realizados. Um cenário que no Brasil se reflete nos transtornos mentais ocupando o segundo lugar entre os adoecimentos registrados. No entanto, este cenário já complexo é dramaticamente agravado por um fator externo que se infiltra no cotidiano de milhões de brasileiros. O assustador crescimento do endividamento e da inadimplência das famílias. Isso, muitas vezes impulsionados pelo uso desenfreado dos jogos online, as famigeradas “bets”, que têm causado um verdadeiro estrago financeiro e emocional.

A gravidade da situação é tamanha que a Caixa Econômica Federal, sensível à repercussão negativa, recuou de seu plano de lançar uma plataforma própria de apostas. Um sinal claro da crescente preocupação social com os impactos desses jogos.

Diante desse panorama, as empresas são desafiadas a implementar um verdadeiro “ecossistema de bem-estar”. É onde a prevenção dos riscos psicossociais é tão crucial quanto a segurança física. É aqui que entra uma analogia poderosa, embora muitas vezes subestimada: a educação financeira.

Se as condições de trabalho, como a sobrecarga ou a falta de reconhecimento, são perigos psicossociais capazes de desencadear estresse, esgotamento e depressão tal como detalha o guia da NR-1, a instabilidade financeira age como um catalisador silencioso. Nesse sentido é um perigo latente que, embora nem sempre originado diretamente no ambiente corporativo, reverbera com força avassaladora em sua atmosfera. Ou seja, a proliferação das apostas online, como destacado pela Revista Pesquisa Fapesp, aumenta consideravelmente os gastos das famílias e o risco de problemas com o jogo, muitas vezes levando os apostadores a pagarem taxas de empréstimo de até 400% para financiar o vício, como noticiado pela BNN Bloomberg. Do mesmo modo este é um dado alarmante que ilustra o quão profundo é o impacto na vida das pessoas.

Educação financeira e saúde mental

Imagine a saúde mental de um colaborador como um complexo sistema de vasos comunicantes. Quando um desses vasos, o da estabilidade financeira pessoal, sofre com fissuras ou vazamentos, a pressão aumenta em todos os outros. A preocupação com dívidas, o superendividamento, bem como a incerteza sobre o futuro econômico ou a dificuldade em gerir o orçamento familiar se tornam um fardo pesado. E que o indivíduo carrega para o trabalho diariamente.

Nesse sentido, essa carga invisível drena energia, afeta a concentração e a capacidade de tomar decisões. Ou seja, torna o profissional mais vulnerável aos próprios riscos psicossociais do ambiente corporativo. Podem ser eles o excesso de demandas ou a má gestão de mudanças. Os estudos sobre o impacto econômico da inadimplência, como os abordados em periódicos acadêmicos, reforçam a urgência de abordar essas questões.

Nesse contexto, a educação financeira surge como uma medida de prevenção de altíssimo impacto, uma “qualificação continuada” não apenas para a vida pessoal, mas para a resiliência profissional. Do mesmo modo, o guia da NR-1 sugere a importância da autonomia e da flexibilização como ferramentas para combater a sobrecarga. Assim, ao munir os colaboradores com as ferramentas do conhecimento financeiro, desvendando os segredos do orçamento, dos investimentos inteligentes bem como do planejamento para o amanhã e, de forma crucial, ao desmistificar os riscos e armadilhas dos jogos de azar, a empresa lhes oferece mais do que simples informações. Concede-lhes um profundo senso de controle e autonomia sobre suas finanças e seu futuro, um verdadeiro bálsamo contra o estresse que aflige a sociedade contemporânea.

Ao aprender a gerir suas finanças e a identificar os riscos de comportamentos impulsivos, o trabalhador não só reduz a ansiedade fora do expediente, mas também libera recursos cognitivos e emocionais para se engajar de forma mais plena e produtiva em suas tarefas. Ou seja, do mesmo modo isso se conecta com a abordagem de “Adicções Digitais” discutida em publicações como a Springer, que aborda o tema sob uma perspectiva interdisciplinar.

Importância de investir em educação financeira

Empresas que investem em programas de educação financeira, com foco na conscientização sobre os riscos do endividamento e dos jogos online, estão, na verdade, realizando uma “avaliação ergonômica preliminar” das condições de vida de seus talentos. Ou seja, uma extensão humana e perspicaz do que a NR-17 preconiza. Elas reconhecem que um ambiente de trabalho saudável vai além das paredes do escritório. Nesse sentido, compreendem que o bem-estar integral do funcionário é indissociável de sua saúde financeira. Do mesmo modo, isso se alinha com a necessidade de um processo contínuo de melhoria, como o ciclo PDCA da ISO 45001, em que a prevenção é a chave.

Ao promover a clareza sobre como lidar com o dinheiro e os perigos do vício em apostas, a empresa não está apenas oferecendo um benefício, mas construindo um alicerce sólido para que seus colaboradores enfrentem os desafios profissionais com maior equilíbrio e confiança.

A transparência na comunicação e a criação de um ambiente de confiança, elementos cruciais para a identificação e avaliação de riscos psicossociais no GRO, são igualmente vitais na implementação de programas de educação financeira. Quando os colaboradores sentem que a empresa realmente se importa com seu bem-estar, em suas múltiplas dimensões, a adesão e o engajamento são naturalmente maiores. Ou seja, isso significa ir além de uma visão restrita dos perigos “puramente” relacionados à concepção do trabalho, para abraçar uma perspectiva maior. Que reconhece como fatores externos, como o estresse financeiro amplificado pelas apostas online, podem amplificar ou até mimetizar os efeitos dos riscos psicossociais internos. A decisão da Caixa Econômica Federal serve como um lembrete importante de que a sociedade como um todo está percebendo a necessidade de abordar esses novos desafios financeiros e psicológicos.

Portanto, ao seguir as diretrizes da NR-1 para gerenciar os riscos ocupacionais, incluindo os psicossociais, as empresas têm uma oportunidade de ouro para expandir seu horizonte de cuidado. A educação financeira, embora não esteja explicitamente na lista de itens da norma, é uma ferramenta estratégica que complementa e fortalece o compromisso com a saúde mental, oferecendo um antídoto contra o endividamento e a armadilha das apostas online.

Érico Colodeti Filho é especialista em investimentos, professor universitário e apresentador do Me Tira do Perrengue. Foto: Divulgação

Ela empodera o indivíduo, reduz o estresse, e indiretamente, minimiza os impactos negativos que as preocupações pessoais podem ter na produtividade e no clima organizacional. É um investimento na pessoa por trás do profissional, uma demonstração de empatia que se traduz em um ambiente de trabalho mais humano, resiliente e, consequentemente, mais próspero para todos.

Redação Folha Vitória

Equipe de Jornalismo

Redação Folha Vitória é a assinatura coletiva que representa a equipe de jornalistas, editores e profissionais responsáveis pela produção diária de conteúdo do Folha Vitória. Comprometida com a excelência jornalística, a equipe atua de forma integrada para garantir informações precisas, atualizadas e relevantes, sempre alinhada à missão de informar com ética, democratizar o acesso à informação e fortalecer o diálogo com a comunidade capixaba. O trabalho do grupo reflete o padrão de qualidade da Rede Vitória de Comunicação, consolidando o veículo como referência em jornalismo digital no Espírito Santo.

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