Economia

Empresas do ES apostam em diversidade e inclusão para satisfazer clientes e gerar lucro

Equipes com diferentes culturas podem alavancar empresas, melhorar a imagem delas, e oferecer produtos mais adequados à realidade dos clientes

Já foi ao supermercado e se deparou com um senhorzinho embalando as compras? E quando o rapaz do caixa aponta para um cartaz para que você mostre como quer pagar, afinal ele é surdo-mudo e se comunica dessa forma!

Uma reunião para definir novos produtos em uma empresa pode ter na mesma mesa uma jovem com piercing e cabelo colorido, um executivo tradicional, uma mulher negra, um homossexual… reunir diversas culturas e vivências aumenta a chance de “pensar fora da caixa”.

É o que se chama de Diversidade e Inclusão dentro das empresas.

“Diversidade não é caridade, é a coisa inteligente a fazer.”

A frase dita pelo ex-presidente dos EUA, Barack Obama na última visita ao Brasil em 2017, já dava uma ideia do que as empresas começariam a fazer, ou, deveriam se preparar para aderir a esse movimento, que hoje não tem volta.

Foto: Divulgação/ Pixabay
A busca por diversidade e inclusão nas empresas ganhou força e espaço

Satisfação no trabalho e lucratividade

O “futuro próximo” chegou mais rápido do que se imaginava. A própria pandemia ajudou a acelerar as ações para inclusão em grandes empresas, em uma tentativa de seguir o pilar social do conceito ESG (environmental, social and corporate governance- meio ambiente, social e governança).

Já está provado que aumentar a diversidade e inclusão melhora não só o relacionamento dos funcionários dentro das empresas como também aumenta o retorno financeiro,

Uma pesquisa realizada pela McKinsey & Co. em 2020 em mais de 15 países da América Latina, com 1.300 grandes empresas e 3.900 funcionários em vários níveis revela os seguintes dados:

Foto: Divulgação

Empresas com mais diversidade de gênero na liderança têm 25% mais chances de maior retorno financeiro do que as concorrentes.

Organizações com diversidade étnica e cultural tiveram retorno financeiro 35% melhor do que as demais.

Empresas com mais mulheres em cargo de liderança tiveram performance 48% melhor do que as que a concorrência, que não tinha pelo menos 30% de presença feminina nessas posições.

Nas empresas comprometidas com a diversidade, 63% dos funcionários indicam que estão felizes no trabalho. Nas que não têm essa característica, o índice de felicidade foi de 31%.

A diretora de diversidade da Associação Brasileira de Recursos Humanos, Cynthia Molina reforça que a diversidade ajuda a melhorar o relacionamento e consequentemente no desempenho das empresas.

“Os dados mostram que nas empresas comprometidas com a diversidade e inclusão, há uma redução de 50% nos conflitos entre funcionários. Os colaboradores se mostram 17% mais engajados. Isso ajuda nos resultados da empresa, há uma melhora de 50% no desempenho da organização diversa”, 

Metas e resultados

A Suzano, líder mundial na fabricação de celulose de eucalipto e uma das maiores fabricantes de papéis da América Latina, tem 35 mil colaboradores diretos e indiretos. 

O trabalho de aumento da diversidade começou de forma voluntária por um grupo de colaboradores em 2016. De lá para cá, o investimento só cresceu e hoje existe o programa chamado “Plural”, que busca ampliar a representatividade dentro da empresa.

Foto: divulgação/ Suzano

As metas para alcançar esses objetivos são anuais e também a longo prazo. Até 2025, a empresa quer alcançar 30% de mulheres em posições de liderança e ter 30% de pessoas negras em posições de liderança. Além disso pretende garantir 100% de acessibilidade,  100% de ambiente inclusivo às pessoas com deficiência e chegar a um ambiente 100% inclusivo para pessoas LGBTQIA+.

Em 2020, houve aumento de 10% na representatividade de mulheres no quadro geral da organização e em 20% a presença feminina em posições de liderança. A ampliação do ambiente para  LGBTQIA+  foi de 92,4%.  À medida que as metas vão sendo cumpridas o reconhecimento também acontece, como explica a líder de diversidade na Suzano, Julia Targa:

“Recentemente tivemos dois reconhecimentos muito significativos. Um deles foi o do selo WOB (Women on Board), que reconhece as empresas que promovem a diversidade no ambiente corporativo por meio da participação feminina nos conselhos de administração ou consultivos. E o segundo foi a participação, pela primeira vez, no Prêmio WEPs (Princípios de Empoderamento das Mulheres), organizado pela ONU Mulheres, que aconteceu em junho de 2021. Como resultado, a Suzano foi reconhecida na categoria Bronze, entre empresas de grande porte. Esse é um ótimo balizador para avaliarmos como está a nossa caminhada evolutiva na jornada de D&I.”

Como aumentar a inclusão

Os desafios para aumentar a diversidade são muitos. A diretora de diversidade da ABRH, Cynthia Molina, explica que primeiro é preciso fazer um censo para identificar a quantidade de funcionários de grupos minorizados que já existe. Esses grupos variam, mas é possível citar, por exemplo, negros, mulheres, com mais de 50 anos, pertencentes ao LGBTQIA+. E a partir daí criar programas específicos para aumentar os quadros.

Foto: Divulgação /Pexel

A diretora diz que algumas empresas se baseiam em dados nacionais e locais para estipular as metas. Como no Brasil 64% das pessoas são pretas e pardas, há organizações que pretendem refletir dentro da empresa esse número, levando em consideração também a região onde se encontram.

E não adianta conduzir o trabalho de inclusão e diversidade somente com o setor de Recursos Humanos, é preciso envolver os outros colaboradores e também as lideranças, afirma, Cynthia Molina:

“Não adianta o RH ter essas metas se as lideranças não abraçam a causa. Para isso são necessários treinamentos para ajudar as pessoas a ficaram mais libertas de preconceitos e fazer treinamentos para que as pessoas consigam conviver, respeitar, incluir e tirar o melhor delas para o ambiente de trabalho.”

No vídeo, a diretora explica que diversidade é ter pensamentos plurais dentro da organização e diversidade é sobre permitir a entrada de pessoas de grupos minorizadas de forma estruturada. Confira!

Consumidor atento

O que leva as empresas a buscar a inclusão: pressão do mercado, responsabilidade social, criar produtos adequados a diferentes público? Os motivos são variados, mas uma coisa é certa, j´á tem muito consumidor que leva em consideração na hora da compra, o nível de envolvimento das empresas com esses temas.

Foto: Reprodução/Arquivo Pessoal

A  cientista social e consultora para Educação em Direitos Humanos, Rosilene Bellon, diz que está sempre muito atenta ao ambiente inclusivo dos lugares que frequenta. Ela observa o respeito aos caixas exclusivos, a existência de ações que fortaleçam os direitos humanos e a presença de colaboradores de diferentes perfis.

“Se o consumidor se identifica com quem está do ‘outro lado’ há uma relação de empatia. Uma pessoa transexual ao entrar em uma loja e não ser bem acolhida, não ser respeitada na sua individualidade, na sua identidade, ela não retorna. Mas, se ao chegar na loja ela encontra alguém com quem se identifica, gera um vínculo”, pondera Rosilene.

Reputação em jogo

O avanço das mídias sociais faz com que os consumidores fiquem ligados no posicionamento das marcas que consome, quando o assunto é inclusão e diversidade. 

No relatório global BrandZ Marcas Globais Mais Valiosas 2021, da Kantar, divulgado em junho de 2021, a boa reputação aparece como item essencial para o crescimento de marcas. 

A categoria do luxo, por exemplo, registrou um crescimento de 34%, principalmente com companhias francesas e italianas investindo em suas reputações corporativas por meio de iniciativas relacionadas à pandemia, transformação sustentável e apoio aos movimentos sociais como o Black Lives Matter (vidas negras importam).