Economia

Empresas têm de refazer acordos de recuperação

Empresas têm de refazer acordos de recuperação Empresas têm de refazer acordos de recuperação Empresas têm de refazer acordos de recuperação Empresas têm de refazer acordos de recuperação

São Paulo, 27/11/2016 – Quase dois anos depois de ter o plano de recuperação judicial aprovado pelos credores, a fabricante de rodas de liga leve Mangels teve de rever o acordo para continuar de pé. Há pouco mais de duas semanas, a empresa conseguiu aprovar em assembleia as novas condições do plano de recuperação, que preveem a extensão dos prazos de pagamento da dívida, de cerca de R$ 500 milhões. A companhia alegou que a forte e rápida deterioração da economia brasileira afetou as premissas do plano original e, com isso, os pagamentos de 2017 poderiam ser comprometidos.

O caminho seguido pela Mangels também tem sido a alternativa de outras centenas de empresas com dificuldades para cumprir os planos de recuperação. Um levantamento feito pelo Instituto Nacional de Recuperação Empresarial (INRE) mostra que o número de companhias que estão revendo os acordos com os credores, num universo de cerca de 6 mil empresas, cresceu 31,5% nos últimos dois anos.

O setor que mais tem recorrido a uma nova rodada de negociação das recuperações judiciais é o comércio. Dos 31,5% de crescimento, 13,5 pontos porcentuais são de empresas do segmento.

Em seguida, aparece o agronegócio, com 8 pontos porcentuais; indústria, com 5 pontos porcentuais; e serviços, 3 pontos porcentuais. “Na maioria dos casos, o plano de recuperação foi feito com base numa conjuntura econômica que previa venda de unidades e imóveis. Com a crise, isso não foi possível”, diz Carlos Henrique Abrão, desembargador do Tribunal de Justiça de São Paulo e conselheiro fundador do INRE.

No caso da Mangels, por exemplo, o pedido de recuperação judicial foi feito em 2013 e o acordo fechado em 2014. Quando o plano foi desenhado, o dólar estava perto de R$ 2,20 e a economia ainda crescia. Em 2013, o Produto Interno Bruto (PIB) avançou 2,3% e, no ano seguinte, 0,1%.

Daí para frente, o tombo da atividade econômica foi brusco e o número de empresas que sucumbiram ao aperto do crédito e à queda de receitas foi grande. Só neste ano, o volume de companhias que entraram em recuperação judicial aumentou 132%, segundo o INRE.

Revisão

Mas esse movimento teve início no segundo semestre de 2014. Agora, no entanto, começa um novo ciclo, que é o fim da carência para iniciar vários pagamentos. “Notamos que desde o começo do segundo semestre a procura de empresas em recuperação judicial por revisão dos planos tem aumentado”, afirma o sócio da consultoria TCP Latam, Fábio Flores.

Na avaliação dele, é fácil entender esse novo movimento: as vendas estão mais devagar e o passivo continua grande. “Nesse ambiente, negociações mais simples não funcionam mais.”

Muitas empresas apostavam na venda de ativos para conseguir honrar parte dos compromissos. Mas a onda de incerteza pela qual o Brasil passou – e ainda passa – atrapalhou os negócios. A Mangels, por exemplo, só conseguiu agora uma sinalização de que conseguirá vender um imóvel em São Bernardo do Campo. Segundo o diretor financeiro da empresa, Fábio Mazzini, o dinheiro será usado integralmente para quitar parte da dívida com credores estrangeiros.

A expectativa é que essa onda de repactuação perdure por mais um tempo até que as condições econômicas se fortaleçam. O presidente da consultoria Alvarez & Marsal, Marcelo Gomes, afirma que há vários processos de revisão de planos feitos a partir de 2010, cujos prazos de carência terminam agora. “As vendas não voltaram ao normal, a rentabilidade não melhorou e o crédito secou, além de ter ficado mais caro. O problema é que são empresas que dependem de capital de giro para operar.” As informações são do jornal O Estado de S. Paulo.