O governo federal já prometeu reciprocidade, ou seja, responder o tarifaço com a mesma moeda. Mas retaliação não é bom pra ninguém. O Espírito Santo já contabiliza os primeiros efeitos das tarifas dos EUA sobre exportações. O Estado, segundo mais dependente do mercado americano no país, só perde para o Ceará, exportou em 2024 cerca de US$ 3 bilhões (R$ 6,7 bilhões) aos EUA. Nesse sentido, o destaque vai para rochas ornamentais, aço, celulose, café e minério. Parte desses produtos ficou de fora da lista de exceções tarifárias. Municípios como Cachoeiro, Serra e Aracruz concentram empresas impactadas e alertam para risco de cortes de produção e demissões.
Uma eventual retaliação comercial preocupa o setor produtivo capixaba. Além das perdas nas exportações, empresas do Espírito Santo dependem de insumos bem como tecnologia americana. Ou seja, uma retaliação pode pode gerar interrupções nas cadeias produtivas. Pesquisa da Câmara Americana do Comércio para o Brasil (Amcham Brasil) mostra que 71% das companhias veem riscos sérios à indústria brasileira, e 50% alertam para fuga de investimentos. Do mesmo modo uma ameaça direta ao ambiente de negócios capixaba, altamente voltado ao comércio exterior.
Cautela em vez de retaliação
O setor empresarial defende cautela. A pesquisa com 162 empresas aponta que 88% defendem a negociação, enquanto 86% temem que uma retaliação feche o diálogo com os EUA. A lista de exceções publicada cobre apenas 43,4% das exportações brasileiras de 2024 — deixando de fora importantes produtos do Espírito Santo afetados pelas tarifas dos EUA.
Com o novo cenário, 56% das empresas buscam outros mercados, mas 59% consideram a substituição dos EUA difícil ou inviável. No Estado, a articulação passa principalmente por Findes, CNI e governo federal, que defendem a ampliação do diálogo. Ao mesmo tempo, setores produtivos daqui dialogam com o empresariado americano. E tudo isso exige uma resposta técnica e coordenada para preservar competitividade e empregos.
A posição dominante do setor privado é evitar retaliações precipitadas. Apenas 10% apoiam uma resposta imediata. A maioria monitora o cenário ou atua por meio de entidades como Amcham e Findes. O foco agora é proteger a relação bilateral e reduzir os impactos. E é sempre bom lembrar que o Espírito Santo é um dos estados mais internacionalizados do país.