A adoção de práticas ESG (Enviromental, Social and Governance) se tornou um movimento global, impulsionado por investidores, reguladores e consumidores. Mas nem tod as as empresas incorporam ESG de forma genuína. Muitas seguem essa agenda apenas para atender a pressões do mercado, sem uma estratégia consistente que justifique o investimento. O que diferencia o ESG efetivo do ESG de fachada é justamente o retorno que essas práticas conseguem gerar.
Empresas que integram ESG de maneira estruturada tendem a apresentar um desempenho financeiro mais sólido a longo prazo. Segundo a MSCI (Morgan Stanley Capital Internacional), uma empresa global de análise financeira, companhias com boas práticas nesse campo costumam ter menor custo de capital e maior resiliência a crises. Um estudo da BlackRock, a maior gestora de ativos do mundo, também apontou que, em 2020, 81% dos fundos sustentáveis superaram os tradicionais. Esses dados sugerem que, quando bem implementado, o ESG vai além do marketing e se traduz em vantagem competitiva.
Um dos principais desafios ao adotar práticas ESG é garantir que elas gerem retorno sobre o investimento (ROI). No caso da energia solar, esse retorno é evidente tanto no curto quanto no longo prazo. Empresas que investem em painéis fotovoltaicos reduzem significativamente os custos com energia elétrica, criando uma economia operacional contínua. Diversas empresas do setor indicam que o payback médio (tempo necessário para que um investimento se pague) da energia solar para indústrias e grandes empresas varia entre 3 e 7 anos, dependendo da localização e do consumo. Após esse período, a economia gerada impacta diretamente a rentabilidade do negócio, transformando em uma estratégia financeira, e não apenas em um compromisso ambiental.
O pilar social do ESG vai além da responsabilidade corporativa e pode gerar impactos na produtividade e no engajamento dos colaboradores. Investir em programas de cuidado com a saúde mental, por exemplo, é uma estratégia que traz retorno tanto para os funcionários quanto para a empresa. Ambientes de trabalho que oferecem suporte psicológico, ações de prevenção ao estresse e iniciativas de bem-estar registram menores índices de absenteísmo e rotatividade. Um estudo da OMS indica que, para cada dólar investido em programas de saúde mental no trabalho, há um retorno de quatro dólares em produtividade e redução de custos com afastamentos.
A governança corporativa dentro do ESG é um fator essencial para o crescimento das empresas, impactando diretamente a transparência, a confiança do mercado e a mitigação de riscos. A adoção de práticas robustas de governança, como a implementação de conselhos, auditorias e códigos de ética bem definidos, reduz a exposição a fraudes e melhora a tomada de decisões estratégicas.
O problema aparece quando o ESG se resume a relatórios bem elaborados, mas sem impacto real. Apenas posicionar a imagem com práticas aleatórias não é suficiente, mas implementar ações que geram resultados e acompanhar KPIs financeiros e operacionais permite diferenciar iniciativas que agregam valor daquelas que servem apenas para compor discursos corporativos.
Um exemplo notório de empresa acusada de adotar práticas ESG apenas de fachada é a Paper Excellence. Apesar de ostentar certificações ambientais como o Programa de Endosso da Certificação Florestal (PEFC) e a Iniciativa Florestal Sustentável (SFI), a empresa tem enfrentado críticas devido à sua ligação com a Asia Pulp & Paper (APP), conhecida por práticas de desmatamento em larga escala na Indonésia. Em 2007, o Forest Stewardship Council (FSC) cancelou o certificado ambiental da APP por estar associada a práticas florestais destrutivas. Investigações, como a realizada pelo Consórcio Internacional de Jornalistas Investigativos (ICIJ), sugerem que a Paper Excellence funciona como uma fachada para a APP, levantando dúvidas sobre a autenticidade de seu compromisso com práticas sustentáveis.
Por fim, ESG precisa ser mais do que um selo de boas intenções das empresas. Quando tratado como parte da estratégia de negócios, ele pode reduzir riscos, aumentar eficiência e atrair investimentos. Caso contrário, ESG sem retorno vira apenas um custo, não um diferencial competitivo.