O estado do Espírito Santo desponta como um polo de oportunidades e desafios no contexto da economia brasileira contemporânea. Apesar dos desafios estruturais, o estado vem apresentando avanços relevantes em competitividade, ambiente de negócios e infraestrutura, o que o coloca entre os melhores ambientes estaduais para investimentos no país. Com um histórico de crescimento sustentado por commodities, a economia capixaba experimenta, desde a década de 2010, uma desaceleração em seu dinamismo, ao mesmo tempo em que se evidencia a urgência de uma agenda voltada à diversificação produtiva e à sofisticação de suas cadeias de valor.
Durante o ciclo de crescimento baseado em commodities, o Espírito Santo consolidou-se como um exportador relevante de produtos como minério de ferro, aço e celulose. Esse modelo, embora responsável por avanços significativos na pauta externa, mostrou-se vulnerável a choques internacionais e essa dependência implicou uma redução da participação capixaba no PIB nacional e no crescimento médio do estado.
No Brasil, o Copom elevou a taxa Selic para 15%, o maior patamar desde julho de 2006, após sete aumentos consecutivos, para conter pressões inflacionárias que ainda estão acima da meta oficial, que varia entre 1,5 % e 4,5 %. Embora o ritmo de crescimento econômico esteja moderando, o PIB ainda mostra resiliência, e o mercado de trabalho segue forte, dificultando a ancoragem das expectativas de inflação. O Banco Central sinaliza que manterá juros elevados por um período prolongado, aguardando os efeitos cumulativos do ciclo de aperto. Esse cenário proporciona um quadro de estabilidade macroeconômica reforçada, mas também impõe custos de crédito mais altos, o que impacta investimentos e exige estratégias regionais adaptadas, especialmente para estados como o Espírito Santo que buscam atrair capital e fomentar inovação.
A teoria da complexidade econômica, formulada por Ricardo Hausmann, contribui para entender as limitações estruturais desse modelo. Segundo a edição v1 n.2 da Revista de Inovação e Gestão do Sistema Findes (RIGS), o estado apresenta baixa diversificação produtiva e alta dependência de sua pauta exportadora, posicionando-o em um patamar inferior em termos de complexidade econômica. Esses dados reforçam a necessidade de ampliar a base industrial, desenvolver novos produtos e criar ambientes favoráveis à inovação.
Novas Agendas de Transformação Econômica
Nesse contexto, despontam duas agendas de transformação: a economia verde e o movimento de nearshoring. Ambas representam estratégias convergentes às novas demandas globais. O estado possui vantagens comparativas relevantes, como infraestrutura logística de alto padrão (portos de Tubarão, Vitória e os de Aracruz), cadeias produtivas sustentáveis (como café, pimenta, aquicultura, entre outros) e iniciativas voltadas à transição energética (com potencial em energias renováveis e hidrogênio verde).
O boletim “Artigos Desenvolvimento do ES” (IEL/Findes) destaca que a previsão de investimentos para o período entre 2023 e 2029 é de R$ 107,9 bilhões, com impacto estimado de 142 mil empregos diretos e indiretos. Esses números indicam que o Espírito Santo está bem-posicionado para um ciclo virtuoso de crescimento, desde que consiga articular estratégias de forma sistêmica. O desafio capixaba é transitar de uma economia ancorada em vantagens naturais para um modelo baseado em conhecimento, inovação e colaboração entre agentes públicos e privados. A análise da complexidade econômica revela que avançar nessa direção exige investimentos em educação, ambiência institucional e infraestrutura para a inovação. O Espírito Santo, nesse sentido, pode deixar de ser apenas um fornecedor de insumos para se tornar um protagonista na nova economia brasileira. Para isso, é preciso que seu potencial latente seja convertido em estratégias bem executadas e resultados sustentáveis.