Economia

Eventos envolvendo Lula elevam ainda mais incerteza política no Brasil, diz Fitch

A profundidade e a duração maior da recessão ressaltam o risco de que a persistente fraqueza da economia pode continuar a piorar a consolidação fiscal, por meio da queda da arrecadação

Eventos envolvendo Lula elevam ainda mais incerteza política no Brasil, diz Fitch Eventos envolvendo Lula elevam ainda mais incerteza política no Brasil, diz Fitch Eventos envolvendo Lula elevam ainda mais incerteza política no Brasil, diz Fitch Eventos envolvendo Lula elevam ainda mais incerteza política no Brasil, diz Fitch
O acirramento dos ânimos na política nos últimos dias devem tirar o foco do Congresso em aprovar medidas  Foto: Heinrich Aikawa/Instituto Lula

Nova York – Os recentes eventos envolvendo o ex-presidente Luiz Inácio Lula da Silva, incluindo seu depoimento na Polícia Federal, ajudam a aumentar ainda mais a incerteza em um já difícil cenário político no Brasil, afirma a agência de classificação de risco Fitch Ratings em um novo relatório sobre o País, em que alerta para os riscos de piora do cenário e do rating soberano brasileiro.

O acirramento dos ânimos na política nos últimos dias devem tirar o foco do Congresso em aprovar medidas econômicas, avalia a Fitch. “Esse movimento sugere que o foco político e a energia do Congresso podem ser consumidos em conter as consequências do avanço das investigações da Lava Jato e os procedimentos de impeachment contra a presidente Dilma Rousseff”, afirma a Fitch no relatório. Na quinta-feira, 10, o Ministério Público de São Paulo pediu a prisão preventiva de Lula.

A Fitch ressalta que o governo estava planejando a reforma da Previdência e a introdução de tetos para os gastos públicos para melhorar as perspectivas fiscais de médio prazo e melhorar as expectativas dos agentes. “Mas a situação política pode fazer o progresso nestas questões bastante difícil”, afirma o relatório.

Na última segunda-feira, a Fitch revisou para baixo a projeção do Produto Interno Bruto (PIB) do Brasil em 2016 e agora espera contração de 3,5%, acima da queda de 2,5% da estimativa anterior. Em 2017, a projeção de crescimento do PIB foi reduzida de alta de 1,2% para expansão de 0,7%. “Riscos de piora para nossas previsões ainda persistem”, afirma o relatório. “O contínuo impacto dos níveis baixos de confiança dos agentes, incerteza política e ventos contrários mais fortes vindos do exterior estão por trás da decisão de reduzir as projeções”, afirma o relatório ao comentar o corte nas projeções.

A profundidade e a duração maior da recessão ressaltam o risco de que a persistente fraqueza da economia pode continuar a piorar a consolidação fiscal, por meio da queda da arrecadação, ressalta a Fitch. Com isso, a trajetória da dívida bruta deve seguir em alta. Em um evento para discutir o Brasil em Nova York na última terça-feira, a diretora da Fitch especializada no país disse que até agora em 2016, a evolução do cenário político e econômico têm sido decepcionantes.

A Fitch avalia que um processo lento de impeachment e preocupações com a piora das contas fiscais devem contribuir para manter a confiança dos agentes em níveis historicamente baixos, impedindo a recuperação do PIB. Ainda no mercado doméstico, o aumento do desemprego deve contribuir para reduzir o consumo. A elevada incerteza política e perspectiva de PIB fraco devem provocar outra queda nítida no investimento privado, afirma o relatório, destacando que em 2015 já houve recuo de 14%. No cenário externo, os fantasmas para o Brasil são a desaceleração da China, a ameaça de mais quedas nos preços das commodities e o estresse no mercado financeiro.

Rebaixamento

“O desempenho da economia, das contas fiscais e a evolução do cenário político permanecem fatores essenciais para nossa avaliação do rating soberano do Brasil”, afirma a Fitch. A piora das projeções do PIB para o Brasil é um indicador do risco de piora do rating soberano, afirma a agência.

Outro fator negativo para o rating soberano brasileiro, diz a agência, é o pedido do Planalto ao Congresso para ter mais flexibilidade para a meta fiscal, o que abre espaço para um déficit primário de 1% do PIB este ano. “O baixo desempenho da economia e a pressão continuada nos gastos trazem riscos de piora para os objetivos fiscais do governo.”

A ausência de um ajuste fiscal eficaz, confiável e dentro do prazo foi um dos fatores que levou a Fitch a retirar o Brasil da classificação grau de investimento em dezembro, com o rating em perspectiva negativa.